SEMPRE MÚSICA . . .

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

[] Billie Holiday de Todas as Dores

Quando Eleanor Fagan Gough nasceu, em 1915, sua mãe tinha 14 anos e seu pai, que tocava guitarra e banjo, apenas 15... e abandonou a família quando ela ainda era bem pequena.

Este era o cenário na cidade de Filadélfia onde Billie Holiday passou sua primeira infância pra lá de instável.
Aos 10 anos foi violentada por um vizinho e acabou passando um tempo numa Casa de Correção infantil.

Saindo de lá, aos 12 anos foi trabalhar lavando chão e fazendo faxina em um prostíbulo. Morando só ela e a mãe e sem parentes próximos para ajudar, Billie começou a se prostituir e antes dos 20 anos já tinha sido fichada e presa por prostituição.

O dinheiro não era suficiente para pagar o aluguel e mãe e filha foram ameaçadas de despejo por falta de pagamento.


Billie então foi se oferecer como dançarina em um local noturno.
Foi um verdadeiro fiasco, pois ela não levava o menor jeito pra dança, mas o pianista ficou tão impressionado e penalizado, que perguntou se pelo menos ela sabia cantar.

Conseguiu o emprego e após 3 anos cantando em bares noturnos, grava seu primeiro disco, com a orquestra de Benny Goodman.

As coisas melhorara
m e ela canta e grava com Duke Ellington, Ted Wilson, Count Basie e Louis Armstrong. Faz shows por diversos locais noturnos e conhece uma porção de gente; todos os tipos de pessoas e algumas, realmente do submundo...

Os anos 40 foram para Billie anos de muita bebida, muita droga, amores infelizes e muita pancadaria.
Billie tinha uma atração especial por homens violentos, que abusavam dela física e psicologicamente.

Era atraente fisicamente, vaidosa e dependente do álcool e de todas as drogas, o que fazia dela uma presa fácil para gigolôs e traficantes.

Estes eram n
a maioria, os homens de Billie Holiday.

Neste período seu envolvimento com drogas muito pesadas deixou sua voz em estado lastimável, e em 1947 foi presa por posse de drogas recebendo a setença de 1 ano e 1 dia de reclusão no Reformatório Federal para Mulheres em Aldeston, no estado da Virgínia.

“ ninguém mais no showbusiness
cometeu tantos erros como eu “

disse Billie numa famosa entrevista para a “Downbeat” um pouco antes de cumprir a pena...

Tão logo foi liberada e voltou a cantar nos clubes e gravar outra vez, Billie começou a dedicar-se novamente à carreira e retomá-la de onde havia interrompido. Mas este ciclo, foi se tornando cada vez mais vicioso...

Aí, eu me pergunto se alguém que teve a vida que ela teve, com todos os abandonos que sofreu, fisicamente e afetivamente, poderia cantar outro tipo de música?

Alguém que se sentia só e abandonada apesar de cercada por centenas de pessoas, músicos, amigos de verdade e falsos amigos, gigolôs e vagabundos, poderia ver a vida cor-de-rosa e cantar coisas “alegrinhas” ?

Mas Billie cantou o amor. Com todas as cores e todas as dores. O amor nos seus mais diversos ângulos. O amor cruel, mesquinho e egoísta, mas também cantou o amor que nos deixa feliz.

Mesmo que por alguns poucos momentos...

Entre tantos e tantos discos de Billie, eu quero ressaltar esta compilação da Verve, chamada simplesmente “Billie Holiday=Holiday for Lovers”.

São gravações já bem próximas de sua morte, em 1959.
É um disco calmo, que tem basicamente baladas de amor, como o nome já indica...
Super remasterizado, com um som limpo, brilhante que parece ter sido gravado no ano passado... o disco tem as seguintes faixas:

@ Moonlight in Vermont
@ I didn’t know what time it was
@ Embraceable you
@ I wished on the moon
@ Gee, baby, ain’t I good to you ?
@ Speak low
@ April in Paris
@ Body and soul
@ They can’t take that away from me
@ One for my baby and one more for the road
@ Stars fell on Alabama
@ We’ll be together again




Vale ressaltar a presença do sax de Ben Webster e Barney Kessel na guitarra. A maioria das músicas deste cd Billie já havia gravado antes, nos seus primeiros discos, mas como acontece com vários artistas, ela regravou com novos arranjos e duração das faixas bem maiores. As gravações são de 1955 a 1957.

Selo “Verve” e distribuição da edição nacional "universal".

Para mim, é o cd dela que eu mais ouço. É a Billie com a voz vivida, rouca e a lágrima mais sentida...

Um comentário:

Anônimo disse...

A Genialidade está no vício e na loucura (Victor Hugo)O "Damage" de Billie fez dela uma das maiores cantoras de música popular do mundo