SEMPRE MÚSICA . . .

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

[] Natalie Cole, Still Unforgettable ! !

Felizmente não é apenas mais uma continuação oportunista, como já é comum no mundo artístico, principalmente no mundo musical, ou seja, um artista lança um disco que faz sucesso, e menos de um ano depois, lança um segundo volume, um terceiro, um quarto, X,Y e Z...

Menos mal, quando esta seqüência de lançamentos é bem feita, honesta, assumidamente comercial....sim, é justo, pois afinal a industria do disco deveria viver de vendas, puras e simples.

Mas infelizmente o que se vê na maioria dos casos, são trabalhos lançados em série, descuidados, quase pobres, só mesmo para pegar o ouvinte do disco anterior ainda pretensamente embevecido e satisfeito, para lançar um outro, com as sobras de estúdio, pedaços e restos de músicas que não passaram na primeira seleção...

Em outras palavras, um refugo requentado, com uma capa alegrinha e um texto – quando tem- exaltando o “enorme sucesso” do disco anterior, e que a gravadora “se viu obrigada” a não “privar” o público deste artista de “enorme talento”, e blábláblá...

É chato? É, quase horrível, mas acontece...that’s life, baby...

STILL UNFORGETTABLE, o mais recente disco de Natalie Cole, poderia ser arquivado neste escaninho acima, não fosse uma série de pontos que merecem uma ponderação:

Ela esperou 17 anos para lançar um outro disco
com a atmosfera daquele longínquo UNGORGETTABLE, de 1991, onde ela cantava exclusivamente o repertório do pai, Nat King Cole, que morreu quando Natalie tinha apenas 15 anos.

Mesmo usando praticamente a mesma fórmula, e não há mal nisso, pois tem até um outro dueto com o pai, tecnicamente impecável, numa demonstração de que se pode fazer coisa boa sim. É só se cercar de gente competente e com sensibilidade.

Neste novo disco, Natalie não canta somente os hits do pai, mas sim, clássicos do songbook americano, músicas que estão na memória e nos corações daqueles que gostam do gênero. E eu sou um desses. Portanto, só posso dizer que fiquei muito animado com a produção deste disco e com o conteúdo.

01= walkin’ my baby back home [dueto com nat king cole]
02= come rain or come shine
03= coffee time
04= somewhere along the way
05= you go to my head
06= Nice ‘n’ easy
07= why don’t you do right ?
08= here’s thar rainy day
09= but beautiful
10= lollipops and roses
11= the best is yet to come
12= something’s got to give
13= until the real thing comes along
14= it’s all right with me

Como deu para notar, são canções de grandes autores, como Cole Porter, Johnny Mercer, Jimmy Van Heusen, Harold Arlen e imortalizadas por gente como Billie Holiday, Bing Crosby, Carmen McRae, Frank Sinatra, Tony Bennett e Johnny Ray.

Com uma voz como a de Natalie, impressionantemente cristalina e clara, compositores como os que citei acima e intérpretes como estes grandes nomes, seria quase impossível um disco como este não ser no mínimo excelente. Destaque para músicos, arranjadores e para a produção da própria Natalie.

Procure ouvir, pois com certeza você vai gostar!


terça-feira, 23 de setembro de 2008

[] Experimente !

Acontece com todos nós e não tem como fugir. Você pode até jurar que não, dizer que não liga pra isso, que não está nem aí. Mas o fato é que ao longo de nossa vida – e não importa a idade que tenhamos - todos nós temos uma trilha sonora...

Sim, pode ser até contra a vontade, sem nos darmos conta que os anos foram passando e algumas músicas ficaram. E, mais que isso, insistem em aparecer nos momentos mais inesperados. Seja no trânsito, no supermercado em frente da prateleira de extrato de tomate, ou escolhendo um prosaico peito de frango.

Quando você se dá conta, está cantarolando um trecho ou uma simples frase daquela música que foi sucesso na sua época de colégio... sim, aquela que você e seus colegas ouviam nos churrascos e acampamentos da turma; aquela que o cara que era bom em geometria descritiva sabia tocar no violão.

Às vezes, nem sabemos que temos arquivado na memória um acervo
musical de fazer inveja a todos os MP3 ou 4 ou sei lá mais que número...

Quando você era criança fatalmente registrou algumas músicas que ouvidas na sua casa; ou no rádio, ou na aparelhagem de som da família; nem que seja um simples jingle, você obrigatoriamente tem seus primeiros registros musicais. E à medida que a vida ia desenrolando os caminhos para serem percorridos, novos sons com novas cores foram se instalando na sua mente e no seu coração.

As festinhas, os bailes do colégio, do clube, os aniversários da tia
e aquela dança especial, com o coração batendo mais forte por alguém? Ela estava lá sim. Tinha uma música no ar, que era de todos e para todos, mas naquele momento era só sua. Sua e de quem você escolheu para compartilhar.

Você viajou para algum lugar e quando chegou
na recepção do hotel ou da pousada ou do camping, estava tocando alguma coisa saída de alguma barraca estampada e roupas penduradas no varal...

E os filmes que você viu no cinema ou em casa, no frio, numa sessão da tarde chuvosa, todos eles com uma trilha sonora elaborada de propósito pra te pegar de surpresa e fazer você chorar. Ou dar risada, ou sentir revolta, ou sentir vontade de sair voando espaço a fora e visitar outras galáxias. Mas a música estava lá, firme e forte.

Com toda certeza você já demitiu alguém da sua vida, e provavelmente já recebeu o bilhete azul de alguém. O fato é que todos nós temos músicas que fizeram parte dessas atividades do coração....

Já experimentou fazer uma seleção das músicas mais marcantes de sua vida? É um ótimo exercício que obrigatoriamente vai levar você para uma viagem especial. Seja seletivo, rigoroso mesmo, e liste somente aquelas que estiveram presentes em momentos decisivos e importantes. Alegres, felizes ou tristes e dramáticos, não importa. O único critério é o da importância em sua vida.

Feito isso, faça uma excursão até sua prateleira de discos
e fitas e vá mexendo, vá olhando um por um e vá escolhendo o que importa... depois produza uma fita, um cd ou qualquer outra coisa parecida. E se for o caso, presenteie alguém, amigos, amores do presente, do passado ou do futuro, por que não ?

O resultado é sempre surpreendente; você vai fazer uma viagem muito especial e voltar a tempos já vividos, vai vestir novamente algumas emoções que talvez já nem caibam tão bem assim no seu mundo de hoje.

Mas esta é parte da sua história, e você não pode fingir que não existiu. Pode até arrancar páginas e páginas deste caderno, mas o que foi escrito ali, vai permanecer para sempre.

E isto, você não pode mudar.


sexta-feira, 19 de setembro de 2008

[] Paula Morelenbaum, Cheia de Bossa.

Já está nas lojas faz alguns dias o mais recente disco de Paula Morelenbaum, “Te-lecoteco Um Sambinha Cheio de Bossa...”.

Na minha opinião de simples apreciador de música, sem compromisso com gravadoras ou veículos de comunicação, a não ser este blog, o disco é muito gostoso de ouvir. Todo ele, do início ao fim.

É um disco pra cima, despretensioso, leve sem ser fútil ou inconsistente, sério na medida certa, a cara do trabalho de um artista brasileiro, mais exatamente, uma cantora carioca. Com tudo o que “ser carioca” possa significar.

Para quem não sabe ou não lembra, Paula é casada com o músico Jacques Morelenbaum e com ele, trabalhou com Tom Jobim durante dez anos, até a morte do nosso compositor, em 1994.

Fazia parte do Quarteto Jobim Morelenbaum, viajando com Tom por este mundo a fora e fazendo parte das gravações dos discos de Jobim, juntamente com o filho dele, Paulo Jobim, e do neto, Daniel Jobim.

Paula já se apresentou fora do Brasil várias vezes, tanto nos Estados Unidos como na Europa, sempre tendo recebido críticas bastante simpáticas da imprensa internacional.

Além de ter no seu currículo os dez anos de trabalho ao lado de Tom Jobim, teve a oportunidade que poucos artistas tiveram, que foi gravar um disco no estúdio da casa do próprio Tom, local privilegiado, cercado de verde por todos os lados, com a natureza exuberante – como sabe ser exuberante a natureza brasileira – e no ar, o canto dos pássaros, coisa que Tom era completamente apaixonado...

Este “Telecoteco”, muito bem produzido, teve o projeto, a pesquisa e a direção artística de Paula, que tem como convidados nomes conhecidos internacionalmente, como o pianista e compositor japonês Ryuichi Sakamoto, o nosso João Donato, Marcos Valle, o grupo de tango novo argentino “Bajofondo”, Léo Gandelman, Chico Pinheiro e, claro, Jacques Morelenbaum.

Numa primeira olhada, as músicas aparentemente não têm nada a ver uma com a outra, mas são a cara do Brasil das décadas de ’30, ’40, ’50 e ’60. E Paula, sabiamente fez constar desta seleção um clássico do songbook americano , “Love is Here To Stay”, dos irmãos George e Ira Gershwin.

Vejam só o que tem em “Telecoteco”:

01 = Manhã de Carnaval // 1959 = Luiz Bonfá + Antônio Maria.
02 = Não Me Diga Adeus // 1947 = Luiz Soberano + Paquito + João Correa da Silva.
03 = O Samba e o Tango // 1937 = Amado Régis
04 = Love is Here to Stay // 1938 = George + Ira Gershwin.
05 = Um Cantinho e Você // 1948 = José Maria de Abreu + Jair Amorim.
06 = Ilusão à Toa // 1961 = Johnny Alf.
07 = Teleco-Teco // 1942 = Murilo Caldas + Marino Pinto.
08 = Sei Lá Se Tá // 1940 = Alcyr Pires Vermelho + Walfrido Silva.
09 = O Que Vier Eu Traço // 1945 = Alvaiade + Zé Maria.
10 = Você Não Sabe Amar // 1950 = Dorival Caymmi + Carlos Guinle + Hugo Lima.
11 = Ternura Antiga // 1960 = J.Ribamar + Dolores Duran.
12 = Luar E Batucada // 1957 = Tom Jobim + Newton Mendonça.

Como já escrevi antes, é um disco gostoso de ouvir, tem um clima moderno, arranjos bem atuais, contrastando com a atmosfera de décadas passadas, resultando em elegância, inventividade sem perder um milímetro das coisas do Brasil.

Um belo encarte, com todas as letras mais detalhes técnicos completos, e belas fotografias de um Rio de Janeiro “daqueles tempos”...

[@] Veja Paula clicando aqui [] !!


sexta-feira, 12 de setembro de 2008

[] "O Tango Nasceu Graças Também à Itália"

Esta afirmação é de Carlos Villalba, diretor artístico de um festival itinerante de Tango que está acontecendo no “Auditorium” em Roma. Acabei de ler o artigo da jornalista Manuela Pelati, publicado no jornal italiano “Corriere Della Sera”, edição do dia 11/09/2008.

E como achei particularmente interessante, transcrevo trechos da matéria:

Carlos Villalba trouxe Buenos Aires para Roma, para apresentar a cultura do tango à cidade eterna e teve uma forte sensação de fazer parte da atmosfera italiana.

“Às vezes, caminhando pelas ruas de Roma, me parecia estar ouvindo o castelhano de Buenos Aires”, diz Villalba, embevecido com a similaridade dos dois povos espalhada no ar...

O festival, que iniciou dia 05/09 e vai até 18/09, tem a oferecer uma série de concertos, lições de tango grátis para quem quiser, além de exposições fotográficas e um salão de baile a céu aberto.

As músicas que a cantora Adriana Varela mostrou no palco da sala “Sinopoli”, esquentou o coração de todos os presentes, a ponto de voltar à cena várias vezes para “bis”, sob fortes aplausos.

Adriana Varela tem uma avó italiana e chegar até aqui, é como viver aquele desejo guardado por gerações, de voltar para casa... O sentimento de nostalgia e melancolia tão forte no tango está ligado a história da imigração, pois quem chegava numa nova terra, pensava em ficar só por um tempo, para depois voltar para casa...

Mais de um milhão de italianos foram para Buenos Aires no início do século XX, e muitos deles contribuíram para a invenção do tango.

“A metade do peso cultural do tango, é italiana
. E isto, é muita coisa. Basta citar o nome dos maiores compositores musicais dos primeiros anos de 1900, até a idade de ouro, nos anos ’30 e ’40: Annibal Troilo, Juan D’Arienzo, Osvaldo Pugliesi, Francisco De Caro – apenas para citar alguns – são todos filhos de italianos.

O próprio Astor Piazzolla, tinha seu pai nascido na região da Toscana...”

“Primeiramente, se tocava com flauta, violão e violino, mas depois, a certa altura, apareceu o bandoneon, inventado por um alemão chamado Heinrich Band. Este instrumento é o que mais caracteriza a identidade do tango argentino e foi levado para lá com a imigração alemã”.

É um instrumento muito difícil de ser tocado, pois o músico tem de dividir o cérebro em quatro partes, já que precisa raciocinar em quatro escalas diferentes... por isso é que se diz que o músico que toca bandoneon, é um pouco maluco”

“Com o bandoneon, está formada a “orquestra de tango”, e uma das maiores contribuições quem deu foi Francisco De Caro, filho de um compositor do Conservatório de Milão... Eram os anos ’20 e De Caro renova o tango, apagando todas as conotações com casas fechadas, duvidosas e de sub mundo, e levando-o aos salões elegantes e refinados da época”.

“Naquele tempo, o tango não era uma dança profissional, tinha o caráter apenas social. Ninguém dançava bem... depois, nos anos ’20, graças também aos salões de Paris, o tango tomou novas dimensões e passou a ser visto e sentido de outra maneira”.

Neste festival de Roma, recriei tanto a atmosfera social da época, quanto a atmosfera de hoje... Na “milonga”, que é o local onde se dança, as pessoas vão também para beber e conversar, mas sem jamais esquecer que “fazer festa” significa principalmente, “dançar”.

“Em Buenos Aires o sentimento mágico da milonga transforma as pessoas... por exemplo, um homem mais velho é sempre uma pessoa importante no salão, porque geralmente tem experiência e portanto, estilo e elegância”.

“É um local onde os valores mudam... uma pessoa gorda pode ser um exímio dançarino, e uma mulher bonita pode preferi-lo a um homem simplesmente mais jovem e bonito... são outros os códigos”.

“Aqui no “Auditorium” se pode “viver” o tango; assistir aos espetáculos, ter lições de dança, ver um filme, beber qualquer coisa no bar e falar com os amigos... não sei se isto ajuda a entender a cultura, pois depende de cada pessoa, do quanto ela está aberta às coisas e do quanto ela é culta”.

“Roma e Buenos Aires têm a mesma mistura de coisas positivas e negativas. Além disso, Roma é uma cidade símbolo de passado, de cultura e de toda a história da humanidade... este é um dos motivos pelos quais o romano se sente um pouco orgulhoso e superior”.

“O mesmo acontece com os argentinos.
Sentindo-se europeus e respaldados por um passado cultural, têm o ego muito forte. Além disso, aqui em Roma existe esta maneira de se levar o dia a dia com mil pequenas dificuldades, do mesmo modo que os argentinos superam os obstáculos”.

“Mas no fundo, é justamente isto que nos ajuda a todos – italianos e argentinos – a sermos alegres a cada dia...”.



[todas as ilustrações são de Juarez Machado]




sábado, 6 de setembro de 2008

[] Gal "For Export"

Este disco ao vivo, do show no Blue Note de Nova York em maio de 2006, foi recebido aqui no Brasil muito discretamente. Talvez até demais. Passou quase batido, com exceção das informações básicas dadas pelos principais jornais, nas colunas de lançamentos musicais.

Só que “Gal Costa Live At The Blue Note” não é apenas mais um lançamento da cantora. É um excelente disco, que nos mostra uma Gal diferente daquela que ficou cristalizada no imaginário da maioria dos brasileiros, que ainda insistem em achar que Gal é “Balancê” e “Festa do Interior”.

Gal Costa já deu mostras de sobra, ao longo de sua carreira, que é uma excelente intérprete de bossa nova, cantando lindamente Tom Jobim e assemelhados. Além disso, uma cantora romântica da maior competência. É uma pena que muitos de nós ainda achem que Gal tem de ser gaiata a vida inteira, rodando a baiana entre acarajés e vatapá, com os longos cabelos cheirando a azeite de dendê...

“Gal Costa Live At The Blue Note” é um disco intimista e despretensioso. É um disco simples, que deixa espaço para as performances tanto dela como do seu pequeno grupo de instrumentistas. Adriano Giffoni no baixo, Jurim Moreira na percussão, Zé Canuto nas flautas e saxofones e Marcus Teixeira no violão acústico.

É uma Gal amadurecida, de voz e postura, conversando e brincando em inglês com a platéia de maneira simpática e pra lá de desenvolta, e em certo momento, diz que é como se estivesse cantando na sala da casa dela...

Se o repertório em si não apresenta muitas novidades, Gal inovou nos arranjos e na maneira de cantar as músicas escolhidas, que já ganharam o mundo e são conhecidas pelo público americano faz um tempão. Conhecidas e esperadas por ele, pois são músicas obrigatórias em recitais de qualquer proporção e em qualquer lugar do planeta.

E ela, experiente que é, com a quilometragem que tem, escolheu uma lista de canções pra ninguém botar defeito:

01= Fotografia // Tom Jobim
02= Desafinado // Tom Jobim + Newton Mendonça
03= Chega de Saudade // Tom Jobim + Vinicius de Moraes
04= Camisa Amarela // Ary Barroso
05= Pra Machucar Meu Coração // Ary Barroso
06= Ave-Maria no Morro // Herivelto Martins
07= Nada Além // Mario Lago + Custódio Mesquita
08= I Fall in Love Too Easily // Sammy Cahn + J.Styne
09= Corcovado // Tom Jobim
10= Triste // Tom Jobim
11= Wave // Tom Jobim
12= Medley: Coisa Mais Linda // Carlos Lyra, As Time Goes By // H.Hupfled
13= Samba do Avião // Tom Jobim
14= Medley: Sábado em Copacabana // Dorival Caymmi + Carlos Guinle, Copacabana // João de Barro + Alberto Ribeiro
15= Garota de Ipanema // Tom Jobim + Vinicius de Moraes
16= A Felicidade // Vinicius de Moraes + Tom Jobim
17= Aquarela do Brasil // Ary Barroso

É muito bom ouvir Gal cantando mais simplesmente, com menos instrumentos, num formato mais próximo, assim ressalta melhor sua voz que o tempo acrescentou alguns graves mais expressivos, enriquecendo ainda mais sua extensão e o brilho de seus agudos.

Quero destacar a moderna interpretação de Nada Além, em dueto com o baixo e seu estalar de dedos marcando o rítimo, como fazem os grandes cantores de jazz e que acabou virando marca registrada de Peggy Lee.

Uma quase-surpresa, ela cantar dois clássicos do repertório de Chet Baker, I Fall in Love Too Easily e As time Goes By...

Mas para mim, público e apenas mais um amante de música o mais importante deste disco, é sentir a reação de agrado e contentamento do público assim que descobrem aos primeiros acordes o que Gal vai cantar; é conseguir sentir através da excelente qualidade técnica do disco, a atmosfera de intimidade e cumplicidade proposta pelo artista, e compartilhada por todos.

Somente os verdadeiros artistas conseguem esta proeza...

[Dá orgulho sim de ser brasileiro...]


segunda-feira, 1 de setembro de 2008

[] Perché San Remo È San Remo ! !

O administrador do Cassino Municipal de San Remo andava preocupado com o pouco movimento durante o inverno, e procurava fazer alguma modificação nesta época do ano para atrair mais público e apostadores para o cassino.

Foi então que trocando idéias com um empresário, pensaram em organizar um festival de música... Sim, claro, por que não? A Itália tem uma tradição tão musical, San Remo está localizada na província de Imperia, Região da Ligúria, além de ser conhecida como a Cidade das Flores... cenário mais sedutor quase impossível.

Balneário sofisticado, San Remo tem ao norte as regiões de Piemonte e Emília Romagna; ao sul, o Mar Lígure, a leste, a região da Toscana e a oeste, a França bem na região da Provence, dos Alpes e da Côte d’Azur.

San Remo tem 50.524 habitantes, 54 km2 e menos de mil habitantes por km2...

Conta a lenda, que no início seu nome era Matuzia, em homenagem a um nobre excêntrico e rico que lá construiu sua casa, Caio Matuzio; mas a voz do povo afirma com veemência que o nome da cidade era um louvor à deusa Matuzia, deusa dos mares e da aurora, quando era apenas mais uma das inúmeras aldeias de pescadores e nem sonhava em se tornar este pólo turístico e comercial, bem ao lado de Gênova, capital da Ligúria.

Foi então que, acertadas as bases e algumas poucas regras , resolveram fazer uma experiência e no final de janeiro de 1951, auge do inverno, aconteceu no Cassino de San Remo, que foi construído em 1905, o “Primeiro Festival da Canção Italiana”, que o tempo se encarregou de rebatiza-lo de “Festival de San Remo”.

Era um festival um tanto ingênuo
, com poucos participantes; tanto é que cada participante poderia concorrer com mais de uma música, já que estavam começando e o interesse pelo evento ainda era incipiente. Mas serviu de imediato aos objetivos do cassino, que era movimentar as noites de inverno, com algo mais que roletas, jantares e bebidas.

Queriam mais sofisticação, mais roupas de gala, mais jóias, peles e perfumes. E estavam conseguindo...

Até 1955 o festival era transmitido somente pelo rádio, pois a televisão ainda não tinha chegado na Itália. Neste ano de estréia do festival, a vencedora foi Nilla Pizzi, com a música “Grazie dei Fiori”.


Ano seguinte, ela novamente ganha com “Vola Colomba”, música que alguns anos mais tarde seria gravada por uma cantora brasileira chamada Silvana... “Voa, pombinha, voa...” Alguém lembra?

Nilla Pizzi foi a desbravadora do festival, e na época era uma cantora italiana bastante querida e popular. Para se ter uma idéia de como a coisa era, houve um ano em que Nilla ganhou o primeiro, o segundo e o terceiro lugar, já que os artistas inscritos eram em número menor que as músicas selecionadas para concorrer...

Com todos os altos e baixos, mudanças de regras, brigas entre apresentadores e patrocinadores, o festival continua firme e forte, é um evento aguardado por compositores, músicos e intérpretes.E pelo público, que adora votar na sua música favorita, diretamente pelo celular, de casa ou de onde estiver, até da cantina ou pizzaria com a família ou amigos...

O Festival de San Remo atingiu aquele patamar acima do bem e do mal, como acontece com a festa do Oscar. Quase todo mundo fala mal, chama de brega, de cafona, de superado, mas quase todo mundo assiste, opina, concorda e discorda. Até faz apostas...

Tanto é assim, que ele se repete anualmente, sem interrupções desde aquele longínquo janeiro de 1951. Para os intérpretes isto é muito bom, pois é uma grande e bela vitrine.

Houve um tempo em que artistas estrangeiros podiam concorrer em dupla com o intérprete italiano, como aconteceu com nosso Roberto Carlos e o italiano Sérgio Endrigo, autor da música, quando defenderam e ganharam, em 1968, “Canzone Per Te”.

San Remo já recebeu concorrentes e intérpretes famosos como Dionne Warwick, Gene Pitney, Steve Wonder, Louis Armstrong, Shirley Bassey, Eartha Kitt, Paul Anka e Sacha Distel, apenas para citar alguns.

Além do mais, foi lá que foram lançadas para o mundo algumas músicas italianas eternas, como o grande sucesso de Domenico Modugno “Nel Blu Dipinto di Blu”, que venceu em 1958,e que o mundo se encarregou de chamar simplesmente de “Volare”.

Ano seguinte, o mesmo Modugno ganha o festival com “Piove” ou “Ciao, Ciao, Bambina”, como preferirmos.

O mesmo aconteceu com “Se Piangi, Se Ridi”, “Uma Casa In Cima Al Mondo”, “Zingara”, Non Pensare a Me” . E Modugno novamente dá de presente ao mundo talvez uma das mais populares canções românticas italianas até hoje: “Dio Come Ti Amo”, em 1966, defendida por ele e por Gigliola Cinquetti, que na época ainda não tinha feito 20 anos.

Não podemos esquecer que este festival apresentou Andrea Bocelli, hoje nome conhecido e famoso em qualquer cantinho do mundo. Eros Ramazzotti também começou em San Remo, assim como Laura Pusini, apenas para citar uma leva de cantores mais moderninhos...

Os eternos italianos eram freqüentadores de San Remo, como Iva Zanicchi, Ornella Vanoni, Bobby Solo, Sergio Endrigo, Pepino di Capri, Claudio Villa, Patty Pravo, Milva, Adriano Celentano, Tony Renys, Teddy Reno, marido de Rita Pavone há 40 anos, e Gino Paoli. Até mesmo Mina, idiscutivelmente um dos maiores nomes da música italiana, também se apresentou no festival, em 1960, com apenas 20 anos...


Como não podia deixar de ser, San Remo conheceu páginas dramáticas da sua história, quando em 1967, Luigi Tenco se matou com um tiro na cabeça, no quarto do hotel, para onde foi no final da segunda noite de apresentações.

Ele havia cantado com Dalida “Ciao, Amore, Ciao” e estava bastante confiante de uma boa classificação; terminada a noite e sua música tendo sido rejeitada pelos jurados, ele muito deprimido saiu do cassino sem nem ao menos falar com Dalida, sua namorada na época e foi para o hotel fazer o que fez.

Aqui no Brasil o Festival de San Remo não mobiliza mais o público como em décadas atrás, assim como os concursos de Miss Brasil também não. E nossos festivais, o que dizer? Por que não acontecem mais? Será preguiça, falta de criatividade, senso empreendedor, ou simplesmente a velha e já sem graça briga entre gravadoras e meios de comunicações? Continuo achando que com isto, quem perde somos nós, público, e o artista. Então tá...

Mas até alguns anos antes, os discos com as vencedoras do festival eram aguardados com ansiedade por todo mundo que gostava de música. E você encontrava em qualquer loja de discos Colecionava-se, trocava-se e aprendia-se as letras das canções. Com ou sem sotaque, todos nós cantávamos de Pino Donaggio, “Io Che Non Vivo Senza Te”...

Este festival, apesar da crise mundial de discos, dawnloads, pirataria e outras baixarias menores, resiste bravamente e já faz parte da cultura italiana.

E por osmose, da européia também...perché San Remo è San Remo !


[@] veja San Remo parte 1, clicando aqui [] !!
[@] veja San Remo parte 2, clicando aqui [] !!


[@] de cima para baixo,quando não identificados: Mina, Carla Boni, Modugno+Nilla+Johnny Dorelli, Modugno, Modugno, Gigliola Cinquetti...e as flores de San Remo.