SEMPRE MÚSICA . . .

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

[] James Taylor de Ontem, de Hoje e de Sempre...

Lá pelo início dos anos ’70, quando James Taylor trouxe embaixo do braço o cover de “You’ve Got a Friend”, composto por Carole King, sua amiga de adolescência e companheira de tantos devaneios, deu início a uma maneira muito própria de cantar, tanto coisas suas como coisas alheias.

Uma verdadeira marca registrada, que a maioria do público ficava achando que tudo que ele cantava era composição sua, tamanha era a facilidade com que ele se “adonava” das composições de seus colegas, imprimindo aquele som inconfundível, com aqueles acordes acústicos que viraram um "jeitão registrado" e sublinharam tão bem os anos ’70...

Agora, tantos anos passados, tantos caminhos e descaminhos depois, James Taylor decidiu gravar algumas canções alheias, de sua preferência.

Músicas que ele sempre cantou e tocou na intimidade do seu lar ou nos seus períodos de inferno químico... Nos dá um belo presente com “Wichita Lineman”, mundialmente famosa na voz de Glenn Campbell.

Como não podia deixar de ser, o disco ficou 100% a cara dele, inclusive com aquelas atmosferas country tão presentes em toda a sua obra. O gosto musical do cantor de “Fire & Rain” é tão eclético, que ele foi buscar novamente no repertório da “Motown”, gravadora de alma e música negras, um sucesso do grupo “Temptations”, “It’s Growing”, que lhe caiu como um luva...

Outro clássico dos anos ’60, “On Broadway” que eu particularmente ouvi mais de um milhão de vezes com Nancy Sinatra, ficou bem diferente da de George Benson, mas nem por isso menos interessante. Alguém lembra da versão instrumental de Percy Faith ? que maravilha...tocava antes de iniciar as sessões de cinema, numa época pré-FM...

Interpretação mais tranqüila, mais introspectiva, quase melancólica, enfim, mais James Taylor mesmo...

Tendo o disco o nome de COVERS, evidentemente não se podia esperar um cd com muitas surpresas; tudo soa a James Taylor, o de ontem, o de hoje e o de sempre, mesmo quando canta “Suzanne”, uma assinatura musical do cantor, compositor e poeta canadense Leonard Cohen.

COVERS tem as seguintes músicas:

[] it’s growing
[] I’m a road runner
[] wichita lineman
[] why baby why
[] some days you gotta dance
[] seminole Wind
[] Suzanne
[] hound dog
[] sadie
[] on Broadway
[] summertimes blues
[] not fade away

@ fonte // jornal espanhol “El País”, caderno de cultura, matéria escrita por Carles Gámes, na edição de 26/10/2008.



sexta-feira, 24 de outubro de 2008

[] Ornella Vanoni, Meio Século de Sucesso

Como um dos eventos para comemorar os 50 anos de uma carreira bem sucedida, Ornella Vanoni escolheu fazer um show na “Piazza Del Duomo”, bem no coração da sua querida Milão, lugar onde nasceu e viveu toda a sua vida, há 74 anos. O show aconteceu no sábado passado, dia 18, às 21 h. e com entrada grátis.

Porém o lançamento mais esperado da temporada, com toda a certeza é “Più di Me”, seu mais recente cd, escolhido para assinalar as comemorações desta metade de século de uma intensa atividade artística tanto no teatro – onde começou sem nem passar pela cabeça em se tornar uma cantora – como na música.

“Più di Me” é um disco de duetos, onde ela é acompanhada por colegas ilustres como Mina, Gianni Morandi, Gino Paoli, Lucio Dalla, Cláudio Baglioni, Eros Ramazzotti, Jovanotti e Fiorella Mannoia.

Outro motivo para este disco ser tão esperado e ter gerado tantos comentários no mundo artístico italiano, é a inesperada participação de Mina cantando com Ornella uma composição de Andrea Mingardi, “Amiche Mai” [amigas nunca!]...

Sem sombras de dúvidas, um título irônico e de duplo sentido, tendo-se em conta, que a imprensa e o público em geral sempre consideraram as duas como ferrenhas rivais, e elas sabiamente ou por pura falta de interesse, nunca confirmaram nem desmentiram esta fama.

É mais ou menos o que acontecia aqui no Brasil nos anos ’50, com Emilinha e Marlene. Na Itália, o público adulto divide-se basicamente entre os que gostam de Mina e os que preferem Ornella e vai mais longe a coisa... parece que os discos de uma não podem conviver bem com os discos da outra na prateleira de alguém...

Talvez por serem dois nomes dos mais respeitados e de carreiras mais regulares após tantas décadas de altos e baixos na indústria fonográfica, crises, modismos, movimentos artísticos e correntes musicais, Mina e Ornella, cada uma à sua maneira, traçaram sua trajetória e entraram para a história da música popular italiana de uma maneira definitiva.

Mesmo as pessoas que insistem na presumida “inimizade” entre elas, esquecem que Ornella compareceu várias vezes ao programa em horário nobre que Mina conduzia na RAI, e onde era a estrela absoluta.

Outra coisa que ajudou muito a perpetuar esta “lenda urbana italiana”, é que são duas mulheres elegantes, refinadas, de talento indiscutível, personalidades fortes e de uma grande cultura em literatura e artes plásticas.

Ornella é bastante conhecida no Brasil, onde já se apresentou anos atrás e fez uma aparição no “Fantástico” num clipe excepcionalmente bonito “for export”, velejando por Angra dos Reis, cantando “Stupidi”, naquele cenário ensolarado que nos orgulhamos de ter.

Além disso, há mais de trinta anos atrás, mais precisamente em 1976, ela gravou aquele famoso disco com Toquinho e Vinicius de Moraes, "La Voglia, La Pazzia, L'Incoscienza e L'Allegria" e que se tornou um clássico obrigatório em qualquer show que ela faça, seja lá em que parte do mundo ela esteja.

Mina, que vive em Lugano, na Suíça há quase 40 anos, gravou sua participação no dueto de lá e a música que cantam juntas, “Amiche Mai”, foi escolhida por ela ...

Verdade ou mentira, exageros ou não, o resultado será bom para os fãs tanto de uma como da outra, e segundo a imprensa italiana, o disco está disponível desde sexta-feira, dia 17 de outubro de 2008. Todos sairão ganhando.

Parabéns, Ornella, por estas cinco décadas de tanta música, tanta poesia, tantas histórias contadas, cantadas e vividas de grandes amores, imensas separações e de tantos sonhos e alegrias para todos.

Complimenti !



sábado, 18 de outubro de 2008

[] Enya, A Estela Invisível

“Desta vez canto a beleza do inverno”

É chamada de “a cantora invisível”, porque apesar de seus 20 anos de carreira e mais de 70 milhões de discos vendidos, Enya – irlandesa puro-sangue, cujo nome verdadeiro é Eithne Patricia Ní Bhraonáin, nunca fez um show ou um concerto.

O que é um luxo num setor em crise a que poucos podem se permitir, assim como poucos podem lançar um disco em um evento num palácio “ottocentesco” às margens do rio Tamisa, com um ingresso custando 350 libras esterlinas [quase R$ 1.400,00] com uma infinidade de esculturas de gelo e neve artificial nos jardins.

Nunca se viu uma foto indiscreta dela nos jornais, nem se tem notícia de algum ataque de estrelismo ou caprichos de celebridade...

Estreou no mundo musical através de uma trilha sonora, e mais tarde recusou-se a fazer as músicas para “Titanic”, pois seria uma parceria e “em parceria você nunca tem o controle total do produto musical final”.

Recusou o convite para fazer um dueto com Pavarotti, além de diversos outros duetos com colegas famosos... “mas o que tem a ver Enya e Pavarotti juntos?”

Ela gasta 250 mil euros anuais para manter sua privacidade, no castelo de Manderlay, no Condado de Dublin. Para Enya, sucesso e fama são duas coisas distintas. Ao contrário de tantos outros, para ter sucesso ela nunca precisou de fama.

“Sou uma pessoa de sorte”, declarou ontem durante o lançamento de “And Winter Came...” (E Chegou o Inverno...) que deverá estar no comércio no dia 7 de novembro. “Sou música, e prefiro me comunicar através dela”.

“O inverno é minha estação preferida. A natureza se torna mágica, existe um silêncio surreal, é o período em que trabalho melhor. No inverno consigo me concentrar... o inverno me inspira”

Seu nome de batismo Eithne, é a versão feminina de
Aidan, que significa “fogo”, e pronuncia-se “Ê-nia”. Escolheu usar esta ortografia “pseudo-fonética” na carreira artística de modo que pudesse ser reconhecida pelo seu próprio nome, mas evitando os erros de fonética.

Nasceu em 17/05/61 no povoado de Dobar, na Região de Gweedore, Condado de Donegal, à noroeste da República da Irlanda. Seus pais participaram de um grupo de danças típicas e seu pai Leo, hoje em dia é dono de um “pub” “Taverna do Leo”. Sua mãe, Baba, sempre foi professora de música na escola local.

Enya é a sexta filha numa família de 9 irmãos, onde os mais velhos formaram um grupo musical chamado “Clannad”, de música celta e com um som nostálgico, sombrio e etéreo como se fosse um pouco o rascunho da futura new-age, e que começou a ser conhecido aqui no Brasil no final dos anos ’70, onde ela ingressa tocando teclados e fazendo vocais de apoio.

Em 1982, sai do “Clannad”, muda-se para Dublin e inicia carreira solo nos moldes que conhecemos... Agora que o novo disco está pronto, Enya está em busca de novas aventuras. Talvez uma trilha sonora, se aparecer um projeto adequado e também não exclui a possibilidade de um show.

“É preciso apenas encontrar a fórmula certa... quanto mais o tempo passa, mais as pessoas ficam exigentes e esperam por milagres... não queremos desiludi-las...”

Fonte // matéria de autoria de Paola de Carolis, no caderno “Spettacoli” do jornal italiano “Corriere Della Sera", na sua edição de 16/10/2008.



terça-feira, 14 de outubro de 2008

[] Ça C'est Paris ! !

Pois é, meus amigos Odilon e Otávio voltaram de umas feriazinhas mixurucas passadas entre o Vale do Loire e Paris... Com certeza um tédio, né?

E como sempre acontece, me trouxeram de presente o que eles sabem que eu mais gosto: discos, discos e discos. Cd’s excelentes e até bastante raros, principalmente aqui no Brasil, mesmo em megastores que vendem discos importadas...

“Dalida – Sus Mas Grandes Éxitos em Español”...apesar de ter nascido no Cairo, Egito, e ter sido uma artista do mundo inteiro, Dalida foi morar em Paris desde a metade dos anos ’50, e até hoje é um símbolo musical desta cidade que parece acolher tão bem todas as manifestações culturais, principalmente a musical.

Neste disco, como o nome diz, ela canta alguns de seus maiores sucessos em espanhol, o que além de ser uma curiosidade, mostra a competência e o talento desta artista tão apaixonada pelo amor, e uma mulher tão contraditória que justamente por causa do amor, decidiu acabar com a própria vida em 1978... O cd tem uma produção cuidadosa, com uma belíssima fotografia na capa, um encarte com várias fotos dela ao lado de artistas e personalidades da França, como Charles Aznavour, Brigitte Bardot, Nana Mouskouri, Maurice Chevalier, Ives Montand...

São fotografias que documentam apresentações e jantares dela, ao lado de colegas ilustres como Edith Piaf, Alain Delon, Jacques Brel, Marlene Dietrich e Josephine Baker. Ou seja, décadas de uma vida dedicada à arte e ao ofício de emocionar as pessoas.

Outro disco muito gostoso para mim, é o “Parentèses”,de Françoise Hardy, disco recente, de 2006, onde ela canta cada faixa com um colega muito especial, como Alain Delon, Julio Iglesias, Henri Salvador, seu marido Jacques Dutronc, e o genro de Catherine Deneuve, Benjamin Biolay, que é casado com Chiara Matroiani, filha de Catherine e Marcello Matroiani.

Um outro cd duplo, traz no cd 1 Dalida cantando coisas antigas e eternas, como “La Violetera”, “Barco Negro”, e uma deliciosa versão em francês de uma das minhas músicas preferidas, de todos os tempos...daquelas que eu levaria com certeza se tivesse que ir para Marte, Júpiter, ou qualquer lugar absurdo... a música é “Hey There”, originalmente feita para a Broadway, trilha da peça “The Pijama Game”, de 1954.

“Hey There” ficou conhecida mundialmente em disco graças à interpretação de Rosemary Clooney,
e depois, às gravações de Sammy Davis Jr. e Frankie Laine... mais recentemente outros intérpretes gravaram “Hey There” em homenagem a Rosemary Clooney, como Bette Midler e a cantora e compositora canadense Anne Murray, que escreve uma dedicatória emocionada, à lembrança dos seus ídolos de juventude, entre eles Rosemary Clooney com “Hey There”, além de ter sido uma das maiores inspirações para ter se tornado uma cantora..

O cd 2 tem Gloria Lasso, cantando em francês verdadeiras curiosidades raras, como “Strangers in Paradise” e “Ave Maria No Morro”... sim, aquela composta por Herivelto Martins e que se tornou a cara de Dalva de Oliveira.

Como se não bastasse tudo isto, ainda ganhei um box com 4 cd’s, que no título já dá a atmosfera dos discos: “Les Plus Belles Chansons D’Amour Retro”... São 100 músicas, verdadeiros clássicos da história musical francesa, interpretados por gente como Charles Trenet, Juliette Greco, Charles Aznavour, Henri Salvador, Edith Piaf, Yves Montand, Georges Brassens, Jacqueline Françoise...

Estes 4 cd’s vem num box guarnecido por uma capa com uma bela fotografia em tons de sépia, mostrando um casal passeando tranqüilamente num barco a remo, numa atmosfera anos ’40. Merci beaucoup, mesmo.

Paris c’est une blonde!
Ça c’est Paris!


segunda-feira, 6 de outubro de 2008

[] Maria Vai Com As Outras

De cara devo dizer que nunca tive muita simpatia por críticas escritas em jornais, sobre cultura em geral, especialmente música e as chamadas artes visuais.

Explico. Os tais críticos fazem verdadeiras viagens no texto que escrevem sobre um lançamento em cinema ou DVD, sobre o mais recente disco de Fulano de Tal, ou ainda, sobre uma mostra de pinturas, gravuras ou esculturas ou até mesmo das “instalações” de Beltrano.

Já ouvi muito, muita gente comentar com um certo ar de desdém que o filme tal era até bem interessante, mas somente até a metade, pois a partir daí, o diretor “se perdeu”. Por acaso esta pessoa que comentou é amiga do diretor e sabia das intenções dele para com o filme? Não passa pela cabeça , que talvez a direção e o resultado desejado fossem exatamente estes? Acho uma boa pergunta, sim. O público gostar ou não, é uma outra história, mas dizer que o diretor "se perdeu" é sempre, no mínimo, pretensioso.

Em relação às artes visuais, o delírio aumenta. Começam a traçando perfis psicológicos do autor e da obra, na maioria das vezes, usando expressões batidas e surradas de livros que parecem ser do primeiro semestre de algum curso superior de qualidade duvidosa. E geralmente o resultado final fica parecendo com um laudo psicotécnico elaborado por algum psicólogo de arrabalde.

No campo musical, some-se a isto os modismos...

“Em seu último trabalho, Fulano “revisita” a obra de Cartola, “resgatando pérolas” esquecidas do compositor... com novos arranjos, que “remetem ” ...”

“No show, que acontece no Teatro Musical, ali no "entorno" do Parque das Acácias, Sicrano está bem à vontade e entre uma música e outra, “interage” com o publico”...

Os termos grifados estão no vocabulário atual do pessoal que fala e escreve no jornal, revista e televisão... Virou uma verdadeira praga a falta de imaginação. Lembram da época do “lúdico”, quando todo mundo procurava ansioso o “aspecto lúdico” das coisas? Em qualquer entrevista, os atores falavam da importância do “aspecto lúdico” da peça que estavam ensaiando...

É claro que eu sei que a linguagem tanto escrita como falada, é itinerante, mutável e vai se deslocando com o tempo, mas o que acho curioso, é que parece existir uma comissão de técnicos em lingüística, que determina quais os termos do vocabulário que serão moda no próximo verão, assim como perfumes, comprimento das saias, largura das gravatas, cor de esmalte e assim por diante.

Aí, não posso deixar de achar sem graça e um tanto desinteressante, o fato de todo mundo falar igual, escrever igual, suspirar igual e ter a opinião igual ao colunista da hora e da "tribo" da vez. Tem-se a impressão, muitas vezes, de que os diversos textos, artigos ou coisas que os valham, até foram escritos pela mesma pessoa ou pela mesma equipe, sob a supervisão severa de alguém da moda...

Onde foram parar o estilo pessoal, próprio, facilmente reconhecível por qualquer leitor de memória razoável?

Mas esta é apenas minha opinião
, como leitor e observador de algumas coisas. Não sou jornalista nem colunista de nada. Apenas faço parte desta ciranda moderna, que tem um nome bem da moda: BLO-GOS-FE-RA !... que tal ?

Apenas uma pessoa que lê, ouve e sente falta do tempo em que os tais “manuais de redação e estilo” dos meios de comunicação não pasteurizavam tanto as matérias escritas ou faladas e deixavam seus autores terem mais personalidade e liberdade de expressão.



[ilustração // "I and the village", Marc Chagall]