SEMPRE MÚSICA . . .

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

[] Susannah McCorkle [1946=2001]

Fiquei surpreso, chocado e triste ao tomar conhecimento, na época, da morte de Susannah, pois além do óbvio da tragédia, ela era uma cantora recente, para mim. Fazia uns dois anos que eu havia “descoberto” aquela voz, aquela cara, aquele jeito tão claro de interpretar.

E procurei saber mais coisas sobre ela, quem era, de onde vinha, que outros discos teria em sua discografia...

Fiquei sabendo que ela havia nascido em Berkeley, Califórnia, em 1946, cursou a universidade local e se formou em literatura e línguas, e descontente com a política americana de ensino, foi para Paris no final dos anos 60, dar continuidade aos seus estudos...

Trabalhou em Bruxelas como intérprete na sede da Comissão Européia, e quando estava em Paris novamente, encorajada por um amigo pianista que vivia elogiando sua voz, começou a cantar “quase” profissionalmente, enfeitiçada pelo repertório de Billie Holiday, especialmente pela música “I got the right to sing the blues”, que seu amigo tocava tão bem...

Decidida a seguir a carreira de cantora, vai para Londres em 1972, onde acaba gravando dois discos, que mesmo tendo sido bem recebidos e elogiados, ficaram circulando entre um público bastante restrito e elitizado.

No final dos anos 70 volta para os Estados Unidos e vai morar em Nova York, onde um contrato de cinco meses com o “Cooking”, no Greenwitch Village se torna uma excelente vitrine para sua arte, conquistando um público bem maior, como também matérias e artigos elogiosos por parte da crítica especializada, que ressaltava a elegância e o cuidado com que Susannah dava um toque literário aos “standards” populares que cantava.

Durante os anos 80 continuou gravando e suas interpretações maduras, aliadas a seu timbre vocal especial, grave, meio rouco e quase arranhado, enriqueciam seus shows e seduziam um número cada vez maior de admiradores.

Nos anos 90, dois discos especialmente – “Sabiá” e “No More Blues”, transformaram Susannah numa intérprete bastante conhecida em diversas partes do mundo e fizeram com que ela se apresentasse por diversas vezes no LINCOLN CENTER, no ARBEY FISHER, e cinco vezes no CARNEGIE HALL.

Graças a seus conhecimentos literários e lingüísticos, Susannah traduziu letras de músicas brasileiras, francesas e italianas = principalmente as músicas brasileiras = para seu cd “Sabiá”.

Tinha também vários contos publicados e estava trabalhando em sua primeira novela. Seus contos eram lidos em revistas como “Mademoiselle”e “Cosmopolitan Magazine”.
No “New York Times” havia publicado vários
artigos sobre ícones da cultura pop americana do cinema e da música, como Ethel Waters, Bessie Smith, Irving Berlin e Mae West.

Durante vários anos Susannah sofreu de depressão e de um câncer, e suicidou-se aos 55 anos, em 2001, saltando da sacada de seu apartamento em Manhattan, na manhã do dia 19 de maio.

Estava só em casa, mas os amigos e as pessoas mais chegadas sabiam que seu prontuário médico comprovaria um histórico de severo transtorno bipolar.

Gravou 17 discos, com o melhor da música americana, privilegiando grandes compositores, grandes letristas e as grandes canções.

“Haunted Heart”, biografia de Susannah McCorkle, escrita por Linda Dahl, foi publicada em 2006 pela Universidade de Michigan.




terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

[] Helen Merrill [1930]

Este é um outro bom exemplo do que escrevo aqui com uma certa freqüência. Sobre o fato de um número bastante expressivo de cantores e músicos serem completamente desconhecidos no Brasil.


Pelo menos, da grande maioria do público. É fácil constatar... pergunte a seus amigos quem conhece Helen Merrill. Provavelmente ouvirá como resposta : “Helen Quem ??”... Mesmo que seus amigos já tenham passado dos 20 anos, tenho a certeza de que praticamente ninguém ouviu falar nesta senhora de 78 anos, que canta desde os tempos de colégio, quando ainda não tinha feito 15 anos, e já cantava jazz em clubes e bares do Bronx, como o "845 CLUB", em Nova York, cidade onde nasceu em 1930.

Portanto, a carreira dela não iniciou exatamente ontem; são algumas décadas de estradas, de turnês, de discos e apresentações em países bem diferentes, de culturas e hábitos distintos mas tendo em comum o amor pela música, pelo som, pelo instrumento e pela voz humana.

Jelena Ana Milcetic, filha de pais imigrantes croatas, a partir dos 16 anos dedicou-se à música em tempo integral, e como ela diz em entrevistas, sempre soube desde pequena que seria cantora. Só não sabia exatamente quando nem como, mas que seria sim, uma cantora.

Gravou seu primeiro disco em 1952, e como foi muito bem recebido, logo foi acertada a gravação de mais dois “singles” e é contratada da “Mercury Records”.

Em 1954, grava um disco “HELEN MERRILL” que até hoje é considerado um clássico na sua discografia. Produzido e arranjado por Quince Jones e traz como destaque o músico Clifford Brown, trompetista, pouco antes de sua morte num acidente de carro.

O sucesso deste disco foi tamanho, que a “Mercury” logo se adiantou em contratar Helen para a gravação de mais quatro discos.

O final dos anos 50 e início dos 60 foram para Helen cheio de compromissos, de gravações e turnês pela Europa, onde desde cedo conquistou um público muito fiel, até os dias de hoje.

Além disso, seu sucesso comercial era maior na Europa que nos Estados Unidos. Helen passou um bom tempo na Itália fazendo gravações, concertos memoráveis com músicos como Stan Getz, Chet Baker e Romano Mussolini, [1927=2006] filho de Benito e que foi casado com Maria Sicolone, irmã de Sophia Loren, além de pai da senadora italiana Alessandra Mussolini.

Romano Mussolini, que era pianista de jazz e pintor, conheceu Helen quando ela se apresentava num festival de jazz na Bélgica. O convite para que ela fosse cantar na Itália foi imediatamente feito, e imediatamente aceito.

Em 1960 volta para os Estados Unidos, mas em 1967 vai para o Japão fazer uma turnê, e acaba ficando por lá. Helen tem no Japão um grande número de admiradores e lá acabou se envolvendo com a indústria do disco, como produtora, além de apresentar um programa musical de jazz numa emissora de rádio em Tóquio.

Em 1972 volta para os Estados Unidos e mantém uma carreira regular e estável, com turnês, gravações e concertos.

Seus discos sempre foram muito bem cuidados, tanto do ponto de vista técnico como artístico. Sempre se cercou de músicos e técnicos competentes, colaboradores de primeira linha, o que sempre resultou em excelentes trabalhos musicais.

Quando lhe perguntam que cantoras foram seus ídolos, Helen sempre responde que nunca teve um ídolo que fosse cantor, mas os instrumentistas, e como era apaixonada por sax, sempre foi fascinada por Ben Webster e Lester Young .

A única influência vocal que ela reconhece ter tido, foi a da sua mãe, cantando pela casa, as músicas de suas origens e suas raízes culturais. Helen sente-se lisongeada quando dizem reconhecer nela a vivacidade de uma June Christy e a flexibilidade vocal de uma Sarah Vaughan. Agradece a comparação mas elegantemente discorda...

Em 2000, Helen lançou um disco muito interessante a começar pelo título “JELENA ANA MILCETIC a.k.a. HELEN MERRILL”...

Neste disco, canta algumas canções croatas no idioma original. São canções tradicionais, folclóricas, além de blues e jazz. Pouco se sabe da vida pessoal de Helen, além do seu envolvimento com alguns excessos alcoólicos, três casamentos e um único filho, nascido em 1951, também cantor e músico, conhecido no mundo musical como Alan Merrill.

Hoje, ela confessa que se arrepende de ter mudado o sobrenome para “Merrill”, diz que foi uma criancice, mas naquele tempo era costume os cantores e artistas em geral fazerem isso...e “Merrill” ela escolheu para americanizar um pouco seu nome, e se inspirou no sobrenome do namorado de uma amiga da época...

É uma pena que seus discos sejam encontrados aqui no Brasil apenas através de edições importadas. Pena também que as emissoras de rádio, as boas FM’s, não toquem suas músicas [assim como as de centenas de outros cantores] e quando o fazem, dão um tratamento de “mistério” e de uma atmosfera de “exclusividade” que vira um pedantismo meio bobo. Bobo e desnecessário...

Quem sai perdendo somo nós, que gostamos de música e ficamos sem conhecer muita gente boa, como por exemplo, Helen Merrill.



Quer ver e ouvir Helen cantando ao vivo no Japão? Clique aqui []


domingo, 24 de fevereiro de 2008

[] Sylvia Telles, A Esquecida . . . [1934=1966]

Foi em 1958 que se ouviu e se leu pela primeira vez o termo “Bossa Nova”, inventado de última hora, que vinha nos cartazes que faziam propaganda de um espetáculo musical que acontecia no “Grupo Universitário Hebraico”, que dizia assim: “CARLOS LYRA, SYLVIA TELLES E OS SEUS BOSSA-NOVA”.

Sylvia gravou várias músicas dos compositores da segunta metade dos anos 50, e algumas delas, são consideradas até hoje como “clássicos” da Bossa Nova, além de serem referência para os intérpretes que vieram depois dela, como por exemplo, a composição de Tom Jobim & Newton Mendonça “Foi a Noite”, é considerada por muitos estudiososo do assunto com uma das precurssoras da Bossa Nova... [Foi a noite, foi o mar, eu sei...]

Sylvia iniciou sua carreira profissional em 1955, quando participou de uma revista musical apresentada do
Teatro Follies”, em Copacabana. Esta revista tinha um nome típico dos anos 50: “Gente de Bem e Champanhota”... Sylvia cantava aqui “Amedoim Torradinho”, uma música que foi regravada por vários colegas seus, como Ivon Cury, Dóris Monteiro, Angela Maria...
[ Meu bem, este teu corpo parece, do jeito que ele
me aquece, um amendoim torradinho...]


Neste mesmo ano grava seu primeiro disco, um 78 rpm, que tinha “Amendoim Torradinho” e “Desejo”. Nestas gravações ela foi acompanhada pelo violonista Candinho, com quem casou-se pouco depois, e que seria o pai de sua única filha, a cantora Cláudia Telles.

Por esta época, apresentava com o marido, pela TV Rio, o programa “Música & Romance”, onde recebiam convidados, como Tom Jobim, Dolores Duran, Johnny Alf, Billy Blanco e mais quem estivesse
fazendo coisas novas e interessantes com música e pela música.

Conversava
m, falavam de suas criações e, claro, cantavam e tocavam... Logo após o nascimento de Cláudia, Candinho e Sylvia se separam.

Seu primeiro LP, chamado “Carícia”, foi lançado em 1957, pela Odeon, e tinha músicas que ficaram “eternas”, como “Chove Lá Fora”, de Tito Madi... [ A noite está tão fria, chove lá fora...e esta saudade enjoada não vai embora...]

Tinha ainda “Se Todos Fossem Iguais a Você”, de Tom & Vinícius [ Vai tua vida, teu caminho é de paz e amor...]

Aí, em 1958, aconteceu o show que escrevi no início deste “post”. A Bossa Nova já estava formatada, e sua proposta de novos arranjos e uma maneira toda nova de cantar, ganhava dia a dia mais fãs e mais adeptos...

Por estes motivos, ressaltei no título da postagem o “esquecimento” que a mídia e as gravadoras tiveram e têm com Sylvia Telles. Pra começar, não é tão fácil encontrar seus discos por aí...Provavelmente seja mais fácil encontrá-los lá fora, nos Estados Unidos...Sim ! ela gravou alguns discos por lá, ou no Japão, que é um verdadeiro arquivo de coisas musicais raras e de qualidade. Tem disco de Sylvia gravado no exterior, que nunca foi lançado no Brasil... por que será?

Em 1959 lança um LP com o nome de “Sylvia”, que traz outro grande clássico na nossa música popular, “Estrada do Sol”, de Tom Jobim & Dolores Duran... [ É de manhã, vem o sol mas os pingos da chuva que ontem caiu, ainda estão a brilhar, ainda estão a cantar, ao vento alegre que me traz esta canção...]

Ainda neste mes
mo ano, grava outra música que entrou para nossa história: de Tom & Vinícius. “A Felicidade”...[ Tristeza não tem fim, felicidade sim...]

O disco tem ainda “O Que Tinha de Ser”, também de Tom & Vinícius...[ Por que foste na vida, a última esperança, encontrar-te me fez criança...]

Este disco “Sylvia”, foi a consagração de Sylvia Telles como cantora e intérprete, e impulsionou sua ida para os Estados Unidos, em 1961.

Foi produzido por Aloysio de Oliveira, com quem se casou quase dois anos depois. Sylvia tem em sua discografia trabalhos muito interessantes e importantes, com títulos que refletem bem a época em foram gravados, como por exemplo: “Sylvia Telles – Amor em HI-FI”, ou “Bossa, Balanço e Balada”, “The Face I Love”, disco que foi lançado no Brasil com o título de "It Might as Well be Spring".

No ano de sua
morte, 1966, Sylvia fez uma turnê pela Alemanha junto com Edu Lobo , e estava se preparando para voltar aos Estados Unidos para mais uma temporada e mais gravações...

Morreu aos 32 anos, num acidente de automóvel, junto com seu namorado da época, Horácio de Carvalho Filho,
quando viajavam para a fazenda dele em Maricá, Rio de Janeiro.

Para muitos jornalistas que se ocupam de escrever sobre a nossa história musical, Sylvia foi uma das melhores intépretes de nossa música; não só pela sua voz e sua maneira de interpretar, mas pelas canções que escolhia cantar...

Pena que não teve tempo para ver que quase todas elas entraram para a história da boa música popular brasileira, cantada e tocada por todos. Aqui e no mundo.




Quer ver e ouvir Sylvia Telles cantando “Demais”, de Tom Jobim? Clique Aqui !!


sábado, 23 de fevereiro de 2008

[] Saudade . . .

“Saudade, palavra triste, quando se perde um grande amor...na estrada longa da vida eu vou chorando a minha dor, igual a uma borboleta vagando triste por sobre a flor, seu nome sempre em meus lábios irei chamando por onde for...
Você nem sequer se lembra de ouvir a voz deste sofredor, que implora por teu carinho, só um pouquinho do teu amor... Meu primeiro amor, tão cedo acabou só a dor deixou neste peito meu, meu primeiro amor, foi como uma flor que desabrochou e logo morreu...
Nesta solidão, sem ter alegria o que me alivia são meus tristes “ais”...são prantos de dor, que dos olhos caem, é porque eu bem sei, quem eu tanto amei não verei jamais...” [Meu Primeiro Amor / Hermínio Gimenez]

“Saudade, torrente de paixão, emoção diferente, que aniquila a vida da gente, uma dor que eu não sei de onde vem...Nas cinza do meu sonho, um hino então componho, sofrendo a desilusão que me invade...canção de amor...saudade...” [Canção de Amor / Elano de Paula e Chocolate]

“Foi a noite, foi o mar eu sei, foi a lua que me fez pensar, que você me queria outra vez, e que ainda gostava de mim...Ilusão... [eu bebi talvez], foi amor por você, bem sei... a saudade aumenta com a distância, e a ilusão é feita de esperança...

Foi a noite, foi o mar, eu sei, foi você.” [Foi a Noite / Tom Jobim & Newton Mendonça]

“Fiz meu rancho na beira do rio, meu amor foi comigo morar, e na rede nas noites de frio, meu bem me abraçava pra me agasalhar...mas agora meu Deus vou-me embora, vou-me embora e nem sei se vou voltar, e a saudade na noites de frio, em meu peito vazio, virá se aninhar...

A saudade mata a gente, morena, a saudade é dor pungente, morena...” [A Saudade Mata a Gente / João de Barro & Antônio Almeida]

“Ouça, vá viver a sua vida com outro bem...Hoje eu já cansei de pra você não ser ninguém, o passado não foi o bastante pra lhe convencer, que o futuro seria bem grande só eu e você...

Quando a lembrança com você for morar e bem baixinho de saudade você chorar, vai lembrar que um dia existiu um alguém que só carinhos pediu, e você fez questão de não dar, fez questão de negar...” [Ouça / Maysa]

“Vai, minha tristeza, e diz a ela que sem ela não pode ser... diz-lhe numa prece, que ela regresse, porque eu não posso mais viver...

Chega de saudade, a realidade é que sem ela, não há paz, não há beleza, é só tristeza e melancolia, que não sai de mim, não sai de mim, não sai...” [Chega de Saudade / Tom Jobim & Vinícius de Moraes]

“Nunc
a, nem que o mundo caia sobre mim, nem se deus mandar, nem mesmo assim as pazes contigo eu farei...Nunca, quando a gente perde a ilusão, deve sepultar o coração como eu sepultei...

Saudade, diga a este moço, por favor, como foi sincero o meu amor, quanto eu o adorei tempos atrás...” [Nunca / Lupicínio Rodrigues]

“Sod
ade, meu bem, sodade...sodade do meu amor...foi-se embora não deixou nada, nenhuma carta deixou...E os óio da cobra é verde, hoje foi que arreparei, se arreparasse há mais tempo, não amava a quem amei...

Quem levou o meu amor, deve ser o meu amigo...Levou pena, deixou glória, levou trabalho consigo...E arrenego de quem diz que o nosso amor se acabou...ele agora está mais firme do que quando começou...” [Sodade, Meu Bem,Sodade / Zé do Norte. Música do filme “O Cangaceiro”, 1953]

“Ah..
.se eu te pudesse fazer entender, sem teu amor eu não posso viver, e sem nós dois o que resta sou eu, eu assim tão só...E eu preciso aprender a ser só, poder dormir sem sentir teu calor e ver que foi só um sonho e passou...

Ah, o amor...quando é demais ao findar leva a paz, me entreguei sem pensar, que a saudade existe, e se vem, é tão triste...Vê (?), meus olhos choram a falta dos teus, destes teus olhos que foram tão meus...
Por Deus, entenda que assim eu não vivo, eu morro pensando no nosso amor...” [Preciso Aprender a Ser Só / Marcos Valle & Paulo Sérgio Valle]

“Um dia vestido de saudade viva faz ressuscitar, casas mal vividas, camas repartidas faz se revelar...quando a gente tenta de toda maneira dele se guardar, sentimento ilhado, morto, amordaçado, volta a incomodar...” [Revelação / Clodô & Clésio]

“Oh, pedaço de mim...oh, metade afastada de mim, leva o teu olhar, que a saudade é o pior t
ormento, é pior que o esquecimento, é pior do que se entrevar..

Oh, pedaço de mim, oh, metade exilada de mim, leva os teus sinais, que a saudade dói como um barco, que aos poucos descreve um arco e evita atracar no cais...
Oh, pedaço de mim, oh, metade arrancada de mim, leva o vulto teu, que a saudade é o revés de um parto, a saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu...
Oh, pedaço de mim, oh, metade amputada de mim, leva o que há de ti, que a saudade dói latejada, é assim como uma fisgada no membro que já perdi...
Oh, pedaço de mim, oh, metade adorada de mim, lava os olhos meus, que a saudade é o pior castigo, e eu não quero levar comigo a mortalha do amor, adeus...” [Pedaço de Mim / Chico Buarque de Hollanda]

Minha vida era um palco iluminado...eu vivia vestido de dourado, palhaço das perdi
das ilusões...cheio dos guizos falsos da alegria, andei cantando a minha fantasia entre as palmas febris dos corações...
Meu barracão lá no morro do Salgueiro, tinha o cantar alegre de um viveiro, foste a sonoridade que acabou...e hoje, quando do sol a claridade, forra o meu barracão, sinto saudade da mulher pomba-rola que voou...
Nossas roupas comuns dependuradas na corda, qual bandeiras agitadas, pareciam um estranho festival, festa dos nossos trapos coloridos, a mostrar que nos morros mal vestidos, é sempre feriado nacional...
A porta do barraco era sem trinco, mas a lua furando nosso zinco, salpicava de estrelas nosso chão...tu pisavas nos astros, distraída....sem saber que a ventura desta vida, é a cabrocha, o luar e o violão...”
[Chão de Estrelas / Sílvio Caldas & Orestes Barbosa]

[Na opinião do poeta Manuel Bandeira, “tu pisavas nos astros distraída” é a frase mais bonita da música popular brasileira]


“Quem acha, vive se perdendo...por isso agora eu vou me defendendo da dor, tão cruel desta saudade, que por infelicidade, meu pobre peito invade...” [Feitio de Oração / Noel Rosa & Vadico]

“Nunca vi fazer tanta exigência...nem fazer o que você me faz...você não sabe o que é consciência, não vê que eu sou um pobre rapaz...
Você s
ó pensa em luxo e riqueza...tudo o que você vê, você quer...ai, meu Deus...que saudade da Amélia, aquilo sim é que era mulher...
Às vezes passava fome a meu lado, e achava bonito não ter o que comer...e quando me via contrariado, dizia “meu filho, o que se há de fazer ?!”...
Amélia não tinha a menor vaidade...
Amélia é que era mulher de verdade... [Ai, Que Saudade da Amélia / Ataulfo Alves & Mário Lago]

“...Saudade, não esqueça também de dizer, que é você quem me faz adormecer, pra que eu viva em paz...” [Nunca / Lupicínio Rodrigues]

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

[] Elvis Aaron Presley [1935=1977]

Na noite de 15 de agosto de 1977, Elvis Aaron Presley foi ao dentista, o que não era nada incomun para ele. Voltou para casa, jogou um pouco de tênis, depois ficou ao piano tocando algumas músicas e foi dormir lá pelas 4 ou 5 horas da madrugada.

Por volta das 10 horas da manhã seguinte, levantou-se, e foi ler no banheiro – outro costume seu...
O que aconteceu a partir deste momento até ser encontrado caído no banheiro de sua suíte em “Graceland”, sua mansão, depois das 15 horas, ninguém poderá afirmar exatamente.

Estava morto um dos maiores ídolos “pop” do século 20, e talvez o maior ícone da música americana...

Nascido num lugarzinho chamado Tupelo, no Mississippi em 08 de janeiro de 1935, Elvis era gêmeo de um outro menino que morreu logo após o nascimento. Seu pai não tinha trabalho fixo, e sua mãe ajudava a completar o orçamento doméstico, fazendo alguns trabalhos eventuais.

Moravam numa modestíssima casa, nos arredores de Tupelo = na grande Tupelo = em termos de hoje, vizinhos de um grande quarteirão habitados somente por negros.
A casa só tinha um cômodo grande, e era sem banheiro. A vida para os Presley era realmente bem apertada, e bastante instável financeiramente.

Eram assíduos freqüentadores da Igreja Evangélica da Assembléia de Deus, e foi assim que Elvis teve seu primeiro contato com a música.

Quando completou 8 anos
, pediu de presente aos pais um violão, e aprendeu os primeiros acordes com a ajuda de um tio de sua mãe, que costumava tocar nas festinhas de família. Era aquele tio bonachão, que gostava de cantar hinos e música country, contar histórias e sentar no quintal após as refeições e ficar embaixo de uma árvore tocando sem parar...

Já que seu pai Vernon não conseguia um trabalho melhor mais estável em Tupelo, os Presley deci
diram se mudar para Memphis, que naquela época, estava em pleno desenvolvimento e parecia a todos, uma terra promissora.

Elvis então, já era um adolescente, mas na nova cidade não conseguia fazer amizades facilmente com os garotos de sua idade. Era tímido e bastante reservado, e seu visual também não ajudava muito, pois acabava causando uma certa estranheza, que criava mais uma barreira entre eles.

Enquanto os outros meninos usavam o cabelo num corte militar e vestiam camisetas, Elvis já cultivava um enorme topete e usava umas costeletas que contratavam com seu rosto juvenil.

E suas roupas [ para os padrões do bairro ] eram berrantes e espalhafatosas, e ele as comprava na “Beale Street”, no centro de Memphis,
onde os negros tinham seu comércio centralizado. E no mercado de negros, os preços eram mais em conta que no mercado de brancos. Assim, Elvis gastava bem menos com suas roupas...

Ao contrário da maioria da população americana, Elvis não fazia qualquer distinção de raça. E freqüentava com a mesma desenvoltura os ambientes da comunidade branca e os da comunidade negra.

É bom termos em mente, que nos anos 50, até as emissoras de rádio americanas eram divididas em dois grupos: as que tinham uma programação somente com artistas negros, destinada ao público negro, e as que transmitiam uma programação feita só por cantores e músicos brancos, para a comunidade branca...

Para ajudar a família a equilibrar melhor o orçamento, Elvis decidiu ser caminhoneiro da “Crown Eletric” de Memphis.
Um dia, passando pela “Union Street”, viu um cartaz de propaganda, dizendo que a gravadora Sun Records por apenas 1 dolar, gravava discos com “você cantando”, o que poderia ser um “bom presente para a pessoa amada”...

Elvis então, resolveu dar de presente um desses discos para sua mãe Gladys, que estava de aniversário. Entrou e cantou uma velha balada : “My Happiness”.

Esta foi , portanto, a primeiríssima gravação de Elvis Presley. O dono da gravadora, Sam Philips, ouvindo Elvis cantar, se entusiasmou tanto, que chamou às pressas 2
músicos de estúdio para acompanha-lo...

Mas depois de mais de uma hora, não achavam nada tão interessante assim, até que Elvis, vencendo sua timidez, sugeriu a Sam uma música: e cantou de uma maneira bastante original, uma velha música country conhecida de todo mundo, “That’s all right, mama”.

Os primeiros discos de Elvis pela Sun Records fizeram tanto sucesso, que as pessoas ligavam para as estações de rádio da cidade, perguntando quem era aquele negro cantando country e outros perguntando quem era aquele branco cantando blues...

E assim, Elvis começou a aparecer nas paradas de “country” e de “rhythm and blues”. Até então, nenhum outro artista tin ha conseguido esta façanha.

Em 1955, Sam Philips vendeu o contrato de Elvis para a RCA Victor, pois não podia bancar o sucesso vertiginoso e rápido que estava acontecendo... A Sun Records era uma gravadora muito pequena, artesanal, e não podia oferecer a Elvis o que as outras, já grandes e conhecidas, ofereciam.

Seu empresário da RCA, que foi o único que Elvis teve em toda a vida, tratou de veicular o novo “produto” pela televisão, e assim, forçou os americanos a conhecerem o mais novo ídolo da música. Escândalo, claro ! Elvis era diferente em tudo, para os padrões da época. Desde o visual, a atitude, o repertório, a voz, o jeito de cantar mesmo a mais banal das músicas....

Cantava como ninguém cantava, dançava como homem nenhum dan
çava, e depois, aquele visual completamente diferente do americano “iogurte + sucrilhos”.
Deu no que deu...

Os produtores mais atrevidos e com visão, queriam Elvis em seus programas, e a partir de 1956, ele começa no cinema, mídia excelente para veicular um novo conceito de entretenimento; comédias românticas, rodadas em lugares paradisíacos, tipo uma “Ilha da Fantasia”, sempre às voltas com um violão e garotas como Nancy Sinatra e Anne-Margret. Típica “Sessão da Tarde”.

Em 1958, vai para o exército e fica na Alemanha quase 2 anos, volta em 1960 e vai praticamente direto para o The Frank Sinatra Show, o que o impulsiona para um novo segmento de público...

Mas aí, aparecem os Beatles, os Beach Boys, os Rolling Stones e Elvis já não está mais sozinho
na fase da sensação de público e vendas de discos. Suas músicas já não vendiam como antes, pois o “fenômeno” Beatles veio modificar todo um conceito musical e de marketing.

Elvis foi o escolhido por Barbra Streisand para o filme “Nasce uma Estrela”, papel que acabou sendo de Kris Kristofferson, assim como também era o mais cotado para estrelar c
om Elizabeth Taylor “Gata Em Teto de Zinco Quente”, ficando para Paul Newman o papel do marido displicente e omisso.

Elvis não aceitou fazer estes filmes por insistência veemente de seu empresário, que achava que ele funcionava melhor nas comédias românticas. Entenda-se este “funcionava melhor”, como “dava mais lucro”.

Em 1972, termina seu casamento com Priscilla, com quem tinha casado em 1967 e tido sua única filha Lisa Marie em 1968.
Mesmo tendo uma relação cordial com a ex mulher, Elvis entrou em depressão profunda com a separação, os altos e baixos da carreira acentuavam seu descontentamento, a sensação de que uma fase dourada estava acabando fa
ziam com que ele tivesse picos maiores ainda de euforia e depressão...

Começou a engordar sem controle, procurava dietas milagrosas e suicidas, tudo isso com muita química e muito álcool. Barbitúricos, tranqüilizantes e anfetaminas, em quantidades cada vez maiores foram tirando Elvis do prumo.

Hospitalizações freqüentes e uma alimentação inadequada, foram comprometendo todo o organismo dele, deixando-o debilitado e sem resistência, para agüentar a vida totalmente descontrolada que andava levando na época.

O “Baptist Memorial Hospital” declarou no documento que atestou o óbito, como tendo sido às 15:30h a hora da morte, e a causa, como sendo uma severa arritmia cardíaca.

O mundo inteiro conheceu Elvis Presley. Mesmo aqueles que não gostavam de suas músicas, sabem quem ele foi e sabem da sua influência na maneira de cantar, de dançar e de fazer um show para o mundo,
como aquele de 1973 via satélite, direto do Havaí, que chegou até o Brasil, via rede Tupi.

Elvis também nesta modalidade foi um pioneiro...até então, nenhum artista tinha realizado um show desta magnitude, via satélite, para o “world”.

[ that’s all right, Elvis ] !

@ quer assistir a última apresentação em público de Elvis? clique aqui !!

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

[] Rosas, Rosas & Rosas

“Bate outra vez com esperanças o meu coração, pois já vai terminando o verão enfim...
Volto ao jardim com a certeza que devo chorar pois bem sei que não queres voltar para mim...queixo-me às rosas...”

“Tu és divina e graciosa, estátua majestosa de amor, por Deus esculturada, e formada com ardor da mais linda flor, do mais ativo olor, que na vida é preferida pelo beija-flor...teu coração junto ao meu lanceado, pregado e cuxificado sobre a rosa e a cruz do arfante peito meu...”

“O cravo brigou com a rosa, debaixo de uma sacada, o cravo saiu ferido, e a rosa despedaçada...O cravo ficou doente, a rosa foi visitar, o cravo teve um desmaio e a rosa pôs-se a chorar”

“A rosa vermelha é do bem querer, a rosa vermelha e branca hei de amar até morrer. Na sala da minha casa tem um jarro sobre a mesa, dentro do jarro uma rosa. Gosto de rosa, de rosa vermelha...
Não sei se a rosa é de rosa, matéria-plástica ou pano, foi minha mãe, minha madrasta, quem pôs ali faz um ano...”

“Rosa, morena, onde vais morena Rosa, com essa rosa no cabelo, e esse andar de moça prosa, morena, morena Rosa?
Rosa morena, o samba tá esperando, tá esperando pra te ver...deixe de lado essa coisa de dengosa, anda, Rosa! vem me ver...
Deixe de lado essa coisa, vem pro samba vem sambar, que o pessoal tá cansado de esperar, oh, Rosa...”

“Pensem nas crianças mudas telepáticas, pensem nas meninas cegas, inexatas...pensem nas mulheres, rotas alteradas, pensem nas feridas como rosas cálidas”

“Nada como ser rosa na vida, rosa mesmo ou mesmo Rosa

mulher, todos querem muito bem a rosa, quero eu, todo mundo também quer...um amigo meu disse que em samba, canta-se melhor flor e mulher; e eu, que tenho rosas como tema, canto no compasso que quiser...”

“Una mezza dozzina di rose che morì insieme a me...um sorriso che non trova il modo se non ci sei...l’illusione che tu voglia ancora tornare qui da me...”

“Guarde a rosa que eu te dei, esqueça os males que eu te fiz, a rosa vale mais que a tua dor...
Se tudo acabou, se o amor terminou, a rosa deve ficar num canto qualquer do teu coração...e o amor renascerá...”

“I want some red roses for a blue lady... mister florist take my order, please...we had a silly querrel the other day...I hope these pretty flowers chase the blues away...”

“Rosas rubras pra ti eu comprei esta noite, pois tu sabes meu bem como eu gosto de ti... de amor já não se morre, e eu só de lembranças não posso viver...
Por isso, esta noite andei comprando flores...rosas rubras pra ti...
De todas estas flores, tu és a mais bonita...e sabes bem porque que em meu pensamento não há mais ninguém, só tu...”

“Você botão de rosa, amanhã a flor mulher, jóia preciosa cada um deseja e quer...de manhã banhada ao sol, vem o mar beijar, lua enciumada noite alta vai olhar...
Você menina moça, mais menina que mulher, confissões não ouça, abra os olhos – se puder -... tudo tem seu tempo certo, tempo para amar; coração aberto faz chorar...
A lua, o sol, a praia, o mar...missão de Deus, a vida eterna para amar...”

“Coitada, trabalha de plantonista...artista, é doida pela Portela...ói ela, oi ela, vestida de verde e rosa, a Rosa garante que é sempre minha, quietinha, saiu pra comprar cigarros, que sarro!... trouxe umas coisas do norte, que sorte, voltou toda sorridente...”

“L’important c’est la rose, l’important c’est la rose, l’important c’est la rose...crois-moi...”

“Vocês estão vendo aquela mulher de cabelos brancos, vestindo farrapos, calçando tamancos, pedindo nas portas pedaços de pão?
A conheci quando moça, era um anjo de formosa...seu nome é Maria Rosa, seu sobrenome Paixão... os trapos de sua veste não é só necessidade, cada um para ela representa uma saudade...ou de um vestido de baile, ou de um presente, talvez...que algum dos seus apaixonados lhe fez...
Quis certo dia Maria pôr a fantasia dos tempos passados, pôr em sua galeria uns novos apaixonados...
Essa mulher que outrora a tanta gente encantou nenhum olhar teve agora, nenhum sorriso encontrou...
Então, dos velhos vestidos que foram outrora sua predileção, mandou fazer esta capa de recordação...
Vocês, Marias de agora, amem somente uma vez, pra que mais tarde esta capa não sirva em vocês...”

“Mas que bobagem, as rosas não falam, simplesmente as rosas exalam o perfume que roubam de ti, ah....devias vir, para ver os meus olhos tristonhos, e quem sabe (?) sonhar outros sonhos, enfim...”


@ para todos aqueles que um dia tiveram sua rosa, ou
num jardim, ou num jarro ou no coração.


@ obrigado aos poetas e músicos, conhecidos e anônimos, autores dos textos aqui
reproduzidos...