SEMPRE MÚSICA . . .

sábado, 28 de fevereiro de 2009

[] Doninha de Calçada Não Me Pega ! !

É como um conto de fadas, tem sempre uma bruxa pra apavorar... o dragão comendo gente e a bela adormecida sem acordar.

Tudo o que o mestre mandar e a cabra cega sem enxergar, e você se escondeu, e você esqueceu.

Pique pau, cuspe em distância, pés pisando em ovos, veja você...um tal de pular fogueira, pistolas, morteiros, veja você...

Pega malhação de Judas e quebra cabeças, veja você... e você se escondeu, e você não quis ver.

Olha o bobo na berlinda, olha o pau no gato, polícia e ladrão... tem carniça e palmatória bem no seu portão.

Você vive o faz-de-conta, diz que é de mentira brinca até cair... chicotinho ta queimando, mamãe posso ir ?

Pique pau, cuspe em distância pés pisando em ovos, bruxa, dragão... um tal de pular fogueira e a cabra cega vai de roldão.

Pega malhação de Judas e um passarinho morto no chão... e você conheceu... e você aprendeu !

[Jardins de Infância, João Bosco + Aldir Blanc, 1975]

Hoje estava cantarolando esta música e de repente fui parar algumas décadas atrás, e me vi brincando na calçada com os amiguinhos da rua, naquelas tardes que não acabavam nunca.

Aí comecei a me perguntar de que será que as crianças de hoje brincam, que músicas ou quadrinhas ou cantigas de roda elas cantam, se é que brincam de roda. Acho muito pouco provável que numa cidade grande as crianças joguem “amarelinha”, andem de “perna-de-pau”...

Mais improvável ainda imaginar a meninada parada, estática, brincando de “estátua”, ou de “polícia e ladrão”, “doninha de calçada” e “mamãe eu quero doce”...

Felizmente, com um pouco de sorte, em alguma cidade do interior possamos ainda encontrar algumas crianças nos quintais de casa, reinando absolutas no universo criado por elas, onde cada árvore é um mundo, cada canteiro uma floresta cheia de duendes, fadas e criaturas que só elas conhecem e sabem o nome.

Músicas inventadas na hora de cada narrativa, cada batalha, cada conquista de novo território logo ali, ao lado do mamoeiro, entre a roseira branca e pé de camélia...

É claro que os tempos mudam e eu não sou ingênuo a ponto de esperar que as crianças de hoje brinquem das mesmas coisas que eu brincava, nem que tenham a mesma facilidade de fantasia de algumas décadas passadas.

Hoje está tudo à disposição com um simples toque, quase tudo é “touch screem”, quase tudo nos chega via “download”, desde um simples game, até a possibilidade de viver uma vida paralela; uma outra vida, é claro, uma segunda vida com direito a ter tudo e, suprema maravilha, ser tudo o que se quer... com outra identidade, outro tipo físico e outra conta bancária.

Mas relembrando assim, sinto um pouco de saudade das musiquinhas, das brincadeiras, das disputas de carrinhos de rolimã, de passar voando de patinete pela calçada só para impressionar os amiguinhos menores ou mais tímidos, de quem nós sempre acabávamos virando uma espécie de heróis.

Onde foi parar esse mundo fantástico e sem limites de antes?

“se esta rua, se esta rua fosse minha... eu mandava, eu mandava ladrilhar... com pedrinhas, com pedrinhas de brilhantes, para ver, para ver meu bem passar...”

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

[] Duetos Funcionam ?

Desde a mais remota época do canto, que dividir um número musical com algum colega do ramo é praxe na indústria do espetáculo e, por extensão, do disco.

Se dermos uma voltinha no canto lírico e no semi-lírico, encontraremos uma variedade de exemplos, principalmente na cena operística onde os duetos são quase obrigatórios, pois são diálogos, são conversas que as personagens têm de manter, para a história ficar bem contada. Neste caso, não cabe muito questionamento. Ou gostamos ou não da forma, do conteúdo e do resultado, e fim, viramos a página. Ou trocamos de canal.

Mas se fizermos uma excursão no chamado canto popular, e olharmos com mais calma e com uma boa lente de aumento, a minha pergunta do título vai-se tornando mais pertinente, à medida que o tempo passa, e à medida que os lançamentos vão chegando aos pontos de venda. Reais e virtuais.

Tomemos com ponto de partida – apenas para exemplificar – aquele famoso show dos três tenores, Pavarotti, Carreras e Domingo nas Termas de Caracalla em Roma tempo atrás.

Claro que foi um sucesso indiscutível de vendas, pois foi um verdadeiro show, com três monstros do bel canto se rasgando para dar sua melhor performance. Isso ninguém duvida, como também não duvida da popularidade que essa forma de cantar atingiu, até – e muito – num segmento de público que nunca foi muito afeito a esta música mais empostada, mais sinfônica, mais teatral, ou seja lá que nome queiramos dar a este tipo de espetáculo.
Mas a partir daí as gravadoras e produtores musicais, cometeram verdadeiros absurdos no uso desta fórmula, que tanto pode revitalizar a carreira de alguém com um certo nome já na praça, como também pode obrigar o pobre infeliz a botar a viola no saco e ir cantar em outra freguesia. Ligeirinho.

Não basta colocar em estúdio um cantor em fim de carreira ou que esteja atravessando um período de estagnação criativa dividindo números musicais com coleguinhas convidados que na maioria das vezes, nada têm a ver com o titular do disco.

Exemplo? Frank Sinatra Duets, volumes I e II. Discos frios, que tiveram venda bem aquém do esperado, pois a julgar pelo nome Sinatra e o nome de convidados sempre “especiais”, esperava-se um rompimento de todas as expectativas. Qual o quê...

Muitas das faixas foram gravadas em cidades distantes uma da outra, sem os cantores ao menos estarem na presença um do outro... e é difícil fingir calor humano e as gracinhas de sempre para o ouvinte pensar que eles estão morrendo de satisfação em cantar juntos... a melhor e mais avançada técnica do mundo pode operar verdadeiros milagres, mas não cria emoção.

Obviamente é uma estratégia de mercado que se justificaria muito bem, e estaria desculpada de tudo se, por exemplo, uma gravadora quisesse lançar um artista do sul ou do leste junto ao público especificamente de norte e nordeste.

Aí sim, se justificaria fazer este artista ter como convidados, gente como Dominguinhos, Lenine, Elba Ramalho, Alceu Valença, Fagner ou algum outro discípulo de Patativa do Assaré, por uma simples questão de identificação do público alvo.

Mas fora casos específicos como este, acho duvidoso, e fico um pouco aflito quando vejo na capa de um cd aquela etiquetinha em papel ordinário colada na capa, chamando a atenção do comprador para os duetos do disco e para a relação de convidados...

Infelizmente, quase sempre distinguimos facilmente quem desta lista VIP está com a carreira no patamar de limbo; ou, quando o titular do disco já não está com essa bola toda e as gravadoras resolvem fazer tipo uma “ação entre amigos”, na tentativa quase sempre vã, de revitalizar a carreira dele... o que geralmente acontece é que um ou dois meses depois de lançado, este mesmo cd vai rapidinho para o balaio de oferta, pela metade do preço, o que, é claro, praticamente inviabiliza um próximo disco deste pobre artista.

Particularmente até gosto e acho curioso alguém cantar com colegas sucessos de um e de outro, mas é preciso ter alguns cuidados na escolha; não basta ter apenas boa voz, nem tocar bem seu instrumento, tem de haver um entrosamento muito mais subjetivo, tem de haver a tal química, que é uma coisa abstrata, e muitíssimo difícil e complicada de se administrar.

Ou seja, na minha opinião, os participantes de um disco assim, devem todos estar muito bem com suas carreiras, com seu público e com sua gravadora, pois assim teremos um disco pra cima, curioso, enriquecido com a celebração do talento de todos os envolvidos no projeto.




[ilustração// the dancer // fernando botero]

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

[] Tanti Auguri, Gino ! !

Qualquer pessoa com mais 40 anos e que tenha uma ligação com a música, por menor que seja, vai lembrar, cantarolar ou assobiar “Sapore di Sale”, certamente.

No início dos anos ’60, esta música era executada obrigatoriamente em todas as emissoras de rádio do Brasil, sem falar na Itália, país de origem do compositor e intérprete Gino Paoli.

Naqueles tempos, a música italiana era muito popular aqui entre nós, fazia parte de qualquer discoteca das emissoras de rádio ou da casa das pessoas.

Nesta mesma época, Sergio Endrigo, nostálgico como sempre emocionava o mundo com “Io Che Amo Solo Te”... quem não lembra? Tanto é assim, que a RCA Victor lançou uma série com diversos títulos e intermináveis volumes como “Gli Anni Moderni”, “Fortíss
imo”, “Più Fortíssimo”, “Gioventù” e assim por diante...

Era uma maravilha, pois num único LP, por exemplo, podiam cantar em nossa casa a qualquer momento, Rita Pavone, Nico Fidenco, Edoardo Vianello, Michelle, Catherine Spaak, Wilma Goich, recém casada com Edoardo Vianello e mais uma infinidade de intérpretes que fascinavam os amantes da música italiana... sem falar em Domenico Modugno, que em 1958 e 1959 havia explodido mundiamente com “”Nel Blù, Dipinto di Blù” (volare...ôô...cantare, ôôôô....nel blu...) e “Ciao, Ciao Banbina”, também conhecida simplesmente como “Piove”...

Pois bem, Gino Paoli, acaba de lançar um disco comemorando seus 50 anos de uma carreira sempre regular, embora não espalhafatosa nem cheias de ups and downs como a de
muitos artistas, tempo em que, discretamente e com muita qualidade, foi escrevendo seu nome definitivamente na história da música italiana.

Gino é o responsável por clássicos como “Senza Fine”, lançado por Ornella Vanoni e aqui no Brasil gravado por Caetano Veloso e também por Zizi Possi.

É de Paoli também outro super-clássico-indispensável da Itália, “Il Cielo In Una Stanza”, lançada pela grande Mina no início dos anos ’60 e até hoje cantada e tocada mundo a fora com os mais diferentes arranjos.

O disco, intitulado “Storie”, é uma celebração do talento de Paoli como letrista, músico e extraordinário pianista que é, e obviamente traz seus grandes e eternos sucessos, após um show de lançamento no “Auditorium Parco Della Musica di Roma”.

Tanti Auguri, Gino ...


Sapore di sale, sapore di mare... Che hai sulla pelle, Che hai sulle labra quando esci dall’acqua e ti vieni a sdraiare...viccino a me, viccino a me...