SEMPRE MÚSICA . . .

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

[] Patrick Bruel, Le Garçon d'Algérie [1959]

A França já deu ao mundo intérpretes e compositores os mais talentosos. Não é por acaso que nomes como Edith Piaf, Charles Aznavour e Gilbert Bécaud continuam referências até hoje, quando o assunto é música francesa.

Adamo e sua “F... comme femme” desde que fizeram parte da trilha sonora da novela “Beto Rockfeller”, em 1969, com Luis Gustavo, Débora Duarte, Maria Della Costa, Plínio Marcos e Beth Mendes, são obrigatórios em qualquer FM de qualidade e seleções de clássicos da música européia.

Mireille Mathieu também é – indiscutivelmente – a cara da França...

E, que dizer de Jacques Brel, compositor da eternamente jovem e atual “Ne Me Quitte Pas”? foi gravada nas mais diversas versões, tanto em francês como em inglês, com o nome de “If You Go Away”. Maysa gravou, Sinatra gravou, Nina Simone, Brenda Lee,Cauby Peixoto...

Charles Trenet e sua “La Mer” correm o mundo até hoje como exemplo de magia da música francesa de qualidade. Além disso, Juliette Greco, Patachou e Jacqueline Françoise são intérpretes que obrigatoriamente, contam a história musical da França, assim como Françoise Hardy, Sylvie Vartan e Dalida.

Da geração mais recente temos Patrick Bruel, que quando nasceu foi batizado com o nome de Maurice Benguigui. Assim como um sem número de franceses, Patrick nasceu em Tlemcen, na Argélia, em 14/05/59, que na época ainda era uma colônia da França.

Seus pais, ambos professores, se separaram em 1960 e dois anos após a independência da Argélia em 1962, Patrick e sua mãe deixaram o país e foram para a França morar em Argenteuil, na periferia de Paris.

Com 5 anos de idade, descobre Jacques Brel, Georges Brassens
e Serge Gainsbourg. Foi paixão à primeira ouvida; o garoto Patrick passava os dias escutando as músicas desses artistas; ou nos discos de sua mãe, ou procurando pelo rádio. Nasce aqui seu amor pela música.

O tempo passa e adolescente, Patrick forma um pequeno conjunto musical com alguns amiguinhos do bairro e ficam tardes inteiras de sábados tocando o repertório de seus ídolos.

Apesar da proibição da mãe, com apenas 14 anos vai até Bruxelas, na Bélgica, assistir a um concerto dos Rolling Stones. Fica maravilhado com a força do rock, e começa a cultuar as grandes bandas da época, como Deep Purple e Led Zeppelin.

Além da música, Patrick tinha um sonho talvez mais antigo até, que era o de se tornar jogador de futebol, pois além de sonhar, tinha um talento concreto para o esporte, tanto é, que foi convidado por um clube esportivo para fazer um curso especializado na formação futebolística.

Mas foi em 1975, aos 16 anos, que resolveu que seria um cantor; isso foi quando assistiu no Olympia um show de Michel Sardou, um dos grandes ídolos franceses da época.

Aluno bastante razoável, estudou no tradicional “Lycée Henri-IV”, onde deixou a imagem de estudante inteligente e excessivamente inquieto, o que não impediu que se formasse em Ciências Econômicas, com louvor.

À procura de um trabalho interessante e prazeroso, acaba sendo contratado pelo Club Mediterranée, como animador para as conhecidas atividades esportivas e sociais do clube.

Decidiu ir para Nova York, encontrar uma amiga brasileira bem relacionada com o mundo da música. Acaba ficando por lá mais de um ano, conhecendo compositores, músicos, cantando aqui e ali.

Em 1986, grava seu primeiro disco, “Deux Faces”. Apesar do sucesso apenas discreto desta estréia, valeu pela possibilidade de cantar no “Olympia”; e junto com a música, Patrick atua em alguns filmes, o que ajudou em muito a se tornar popular.

Mas em 1989, com o lançamento do segundo disco, “Allors Regarde” a coisa já muda de figura. Patrick começa a experimentar um sucesso cada vez maior e mal começam os anos ’90, já pode se considerar um verdadeiro fenômeno de mídia.

É adorado pelo público, especialmente o feminino, e tem início a “bruelmania”,
com shows em pequenos teatros e grandes estádios, partcipações em filmes, comerciais, programas de tv e capas de todas as revistas. Celebridade nacional, com as conotações positivas e negativas do termo.

Em 1991 se indispõe frontalmente com o partido político “Front National” e com seu líder Jean-Marie Le Pen.

Reaparece em ’94 com um novo disco gravado em Nova York e Toulouse e resolve dar um tempo na carreira de cantor. Fica deliberadamente isolado de noitadas, e dedica seu tempo aos amigos, cinema e viagens.

Participa do filme “Sabrina” ao lado de Harrison Ford em ’95, no papel do fotógrafo de modas que fai fazer o editorial para a “Maison” onde Sabrina vai trabalhar como auxiliar de produção de editorias de moda & estilo.

Apaixonado pelo pôquer, participa regularmente de campeonatos e torna-se um dos maiores craques franceses da modalidade. Depois de ganhar muito dinheiro, campeonatos e notoriedade com as cartas, lança um DVD, “Poker Coach”, onde ensina as manhas e estratégias para o jogador de talento. Além disso, é comentarista do “Canal Plus” para os campeonatos mundiais do “World Poker Tour”.

Em 2001 lança um cd que acho particularmente muito interessante, com uma estética toda “retro”, a começar pelas fotos da capa e do encarte, em tons de sépia, privilegiando os clássicos da música francesa das décadas de ’20 e ’30. O disco chama-se “Entre-Deux” e tem como atração a mais, o fato de dividir a maioria das faixas com colegas famosos de todas as épocas, como Charles Aznavour e Johnny Halliday.

Este disco levou Patrick novamente a uma série de apresentações no “Olympia” e “Opera de Paris”.

Dedicado a causas sociais e humanitárias, em 2005 grava com mais 60 colegas franceses uma espécie de “we are the world”, com o nome de “Et Puis La Terre”, single que se destinou a angariar fundos para ajuda das vítimas do tsunami no final de dezembro de 2004.

Ano anterior já havia feito a mesma coisa, com o objetivo de combater a AIDS, gravando um disco que atingiu em cheio uma população bem jovem e de vida sexual bastante ativa.

Com 15 discos gravados e participações em 30 filmes, Patrick é um nome conhecido em qualquer cantinho da França. Não só conhecido, ele é respeitado e querido por todos.





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sábado, 23 de agosto de 2008

[] "El Morocho" Afinal, Nasceu Onde ?

Ele tinha tudo para se transformar num mito, a começar pela sua verdadeira origem e nacionalidade, motivo de acirradas discussões e troca de documentação farta entre França, Uruguai e Argentina.

Os uruguaios juram de pés juntos que ele nasceu
em Tacuarembò, cidadezinha distante 400 km de Montevidéu, que tem na entrada um grande busto de Gardel, com uma placa dizendo “Não é Argentina A Voz do Tango”. O principal hotel da cidade e vários edifícios públicos têm também o seu nome.

De outro lado, os argentinos rebatem dizendo que até admitem que talvez Gardel tenha realmente nascido na França, em Toulouse e tenha ido pequeno para Buenos Aires, como reza a outra versão de sua origem;
mas nascer no Uruguai, jamais!

Conta a lenda também, que Gardel seria fruto de um relacionamento fortuito de seu pai, um coro
nel do Exército, Carlos Escoloya, com a irmã mais moça de sua mulher, que tinha apenas 13 anos, e tão logo a criança nasceu, teria sido dada para ser criada por uma mulher que foi para a França, que tinha o nome de Berthe Gardès e quando chega em Buenos Aires, dá uma espanholada no nome, virando Berta Gardel...

O próprio Carlos Gardel em entrevistas, disse mais de uma vez que seu coração era argentino, mas sua alma era uruguaia, pois aqui teria nascido... Mas como ele costumava despistar público e imprensa com declarações contraditórias,
tudo isto, também vai para a pasta de probabilidades...

Sua vida amorosa – pelo menos a pública – era conturbada
, cheia de mulheres, festas, jóias, peles, jantares e teatros . Rompimentos e reconciliações eram públicos e alimentava a imprensa e o diz-que-diz da época.

Nunca casou com nenhuma de suas grandes paixões, das quais a mais conhecida delas, era Isabel Martinez Del Valle, com quem parecia ter uma sólida ligação; mas após romper com ela, amigos próximos do casal teriam dito que Gardel estava bastante aborrecido e sentia-se explorado pela família de Isabel.

Também a data exata de nascimento, ninguém pode afirmar; apenas para fins didáticos e biográficos, a maioria das fontes informam o ano de 1887 como sendo o correto.
Mas o fato é que Gardel e alguns de seus músicos morreu com certeza, no dia 24/06/1935, num acidente aéreo na cidade de Medelín, na Colômbia, durante uma turnê.

Sabe-se também que ele cresceu em Abasto, um bairro de Buenos Aires onde ficava o Mercado Central de Frutas e Verduras, uma bela construção art-decó, hoje restaurada e que abriga um centro comercial tradicional e elegante, como tantas construções de Buenos Aires..
.

Desde cedo, Gardel ficou conhecido como “El Morocho” de Abasto, estudou no Colégio Salesiano e demonstrava um grande talento para música e interpretação. Em 1902, era empregado do “Teatro La Victoria”, tendo como função operar aquelas engrenagens que trocam os cenários nos grandes teatros.

Esta atividade permitiu que ele tomasse contato com uma infinidade de intérpretes, técnicos, músicos e dançarinos, principalmente os cantores de “zarzuelas” e muitos ensaios e apresentações de óperas.

Gardel inicia sua vida de cantor formando uma dupla com José Razzano, e assim ficou por vários anos cantando em Buenos Aires, em teatros sem muita expressão, mas se tornando popular por onde
passava a dupla, por sua bela voz, sua elegância e cuidado nas roupas, e o cabelo impecavelmente penteado.

Em 1915, leva um tiro durante uma confusão à saída do “Palais de Glace”, na época conhecido salão de baile no bairro da Recoleta. Cantaria até o final de seus dias com esta tal bala alojada no seu pulmão esquerdo.

Sucesso aumentando, faz uma turnê pelo Uruguai, Brasil e Espanha em 1923 e dois anos depois, já em carreira solo, viaja pela Espanha e França, quando começa a atuar em filmes da Paramount.

Na França seu sucesso é respeitável, e lota por várias noites o “Cabaret Florida”. Ainda em P
aris grava vários discos antes de viajar para a Itália. Volta à França para uma série de apresentações na “Opera de Paris”, com retumbante sucesso.

Depois desta temporada européia, volta a Argentina e Uruguai, fazendo uma interminável turnê entre os dois paises, e se apresentando nos piores e melhores lugares das cidadezinhas por onde passava.

Seus discos fazem cada vez mais sucesso, assim como seus filmes. Gardel é sem dúvida uma celebridade nacional, e assim, o mito vem sendo construído, com dramas, romances desfeitos, origem obscura, família misteriosa e declarações reticentes e contraditórias.
No início
dos anos ’30, volta para uma Europa, já totalmente apaixonada pelo tango, pelo seu canto e pela sua figura. Na Itália, faz uma série de noitadas na Costa Azzurra e de lá vai para Londres, Berlin, Paris, Viena e Barcelona.

De 1933 a 1935, ficou se dividindo entre Europa e Estados Unidos, onde se apresentava na NBC de Nova York e gravava mais e mais discos.

Filmou “El Dia Que Me Quieras” em 1935 e deu início àquela que será sua última turnê: Porto Rico, Venezuela, Aruba, Curaçao, Colômbia, Panamá, Cuba e México.

Carlos Gardel, que tem uma estação com seu nome no metrô de Buenos Aires, deixou além do mito e de uma infinidade de conjecturas, mais de 700 músicas, e não somente tangos.

Gravou alguns fox-trots, tangos em inglês e espanhol, músicas tradicionais, folclóricas, milongas e até um
tango em guarani...

Sua voz desde setembro de 2003 foi declarada “patrimônio da humanidade” pela UNESCO e seus restos mortais estão enterrados em Buenos Aires, no cemitério da “Chacarita”.


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terça-feira, 19 de agosto de 2008

[] Buena Vista Social Club

Muito antes das mudanças radicais ocorridas em Cuba em 1959, existiam em Havana clubes e agremiações de diferentes etnias, principalmente a negra, a espanhola e a chinesa; todas bem diferenciadas, com seus usos e costumes e manifestações culturais definidas.

Em Havana, existe um bairro chinês, “el barrio chino”, ou "chinatown", com uma predominância quase total de habitantes e cultura orientais, mas hoje os costumes já estão bem mais mesclados, sendo comum você chegar num restaurante chinês, pedir uma pizza e ninguém olhar atravessado...

Destes clubes para negros, os mais importantes e maiores, em número de associados, eram o “Unión Fraternal”, “Las Aquilas”, “Atenas”, “Antillas” e o “Clube Social Boa Vista”, fundado em 1932, no bairro de nome Boa Vista...

A sede era num casarão arborizado, com um grande pátio repleto de plantas, onde também se podia dançar ao ar livre entre as barracas das cervejas “Polar” e “Tropical”. Nas noites de final de semana, a calçada em frente ao clube ficava cheia de gente conversando, bebendo e fumando.

A orquestra ficava dentro da casa, na sala principal repleta de casais vestidos segundo as normas do clube.

É bom que se diga, que mesmo sendo um clube popular
, para uma classe média de trabalhadores e operários, existia uma norma de conduta, seguida à risca pelos sócios, que pagavam uma mensalidade para desfrutar do que o clube oferecia. Um dos membros da diretoria tinha a função de circular pelo clube, por fora e por dentro, para se certificar do bom comportamento das pessoas.

Durante o dia, havia um ringue de boxe, para puro entretenimento, cursos de corte e costura e outras prendas domésticas para as moças, mesas para se jogar dominó e baralho.

Mas à noite, tudo se modificava, o traje obrigatório para os homens era o terno completo com gravata e sapatos bicolor. Era permitido o uso da “guayabera”, que era uma espécie de camisa de gala, feita geralmente em algodão, linho ou seda, para ocasiões festivas e formais. Peça do vestuário masculino considerada sofisticada e sempre elegante.

Tinha alguns detalhes especiais, como pregas, nervuras e bordados com linhas de excelente qualidade. A “guayabera” tinha ainda bolsos desenhados especialmente para se carregar fumo picado e os papéis para se preparar elegantemente os cigarros, como mandava a etiqueta da época.

As mulheres tinham de estar impecáveis, bem penteadas, pintadas e vestidas com seus melhores trajes, estampas sedosas, brilhos, turbantes coloridos e flores nos cabelos.

É quase possível sentir o perfume destas noites, cheias de loções, brilhantinas, rum e charutos...

No “Buena Vista” tocavam as orquestras e conjuntos mais simples, mais populares,
de acordo com o gosto musical dos seus freqüentadores e por ali passaram ou começaram grandes nomes do mundo musical de Cuba; cantores, homens e mulheres, conjuntos vocais, trios, duplas e todas as formações musicais possíveis.

Aí, em 1995 Juan de Marcos González diretor de uma orquestra chamada “Sierra Maestra” viaja para Londres para promover o disco “Dundunbanza”.

E numa conversa com Nick Gold, diretor da gravadora “World Music”, falou de seu plano de fazer um disco com alguns dos maiores nomes de Cuba, aqueles que fizeram tanto sucesso algumas décadas atrás e que agora estavam esquecidos pela velha geração e totalmente desconhecidos da juventude.

Mas Gonzáles não queria fazer um disco simplesmente juntando velhos cantores e velhos músicos e pronto... não, ele queria reeditar o som genuíno das grandes orquestras dançantes de jazz afrolatinos.

Recriar o “desenho” e a atmosfera de décadas passadas, usando para isto o talento e a moderna tecnologia.

De volta a Havana, rapidamente organiza uma nova orquestra, a “Afro Cuban All Stars”. Entre tanta gente competente de anos atrás, estavam Compay Segundo, Rubén Gonzáles, Ibrahim Ferrer e Orlando Lopez.

Em 1996 gravam três discos, um deles chamado apropriadamente de “Buena Vista Social Club”, que surpreendentemente ganhou um Grammy em 1998.

Neste ponto, começa a nascer uma lenda, pois a curiosidade do mundo musical se voltou para Cuba. Tem início as turnês pela Europa e quando estavam se apresentando na Holanda, o cineasta alemão Wim Wenders, [Paris Texas, Asas do Desejo] documentou a apresentação dos músicos, mescladas com entrevistas e "making of". Sucesso imediato.

Os discos entraram nos Estados Unidos e chegaram às paradas da Billboard. São contratados então para apresentações nos melhores teatros e salões do mundo inteiro.

Viajaram pelos cinco continentes, cantaram em Jerusalém, China, Austrália e Patagônia...

Então, quase que inexplicavelmente, os olhos da cultura musical do mundo se fixam em Havana. Há uma espécie de Renascimento da música de raízes cubanas, misturado com uma curiosidade de fotógrafos, cineastas, roteiristas, musicólogos e jornalistas de diversas partes do mundo, querendo conhecer de perto o lugar de origem desta música.

Como vivem as pessoas, como vivem os músicos, que atmosfera é essa, que inspira esse tipo de trabalho?

E assim, Cuba voltou a ocupar seu lugar no Mapa Mundi musical, onde brilhou tão desenvolta nos anos ’30 até o início dos ’60...

Feliz reunião de artistas e técnicos, o disco “Buena Vista Social Club” teve a direção musical e produção de Ry Cooder, competente guitarrista americano da escola do “blues”, já conhecido do mundo pela sua estranha guitarra e jeito estranho de tocar, além da trilha de “Paris Texas”, cultuada até hoje pelos apreciadores do gênero.

Um dos componentes mais conhecidos e talvez o mais popular deles, seja Compay Segundo, que concedeu no Brasil entrevistas muito simpáticas e bem humoradas, mas que apesar da extrema vitalidade, morreu em 2003, aos 95 anos.

Ibrahim Ferrer, que morreu aos 78 anos em 2005, disse numa entrevista ao jornal espanhol “El País”, que estava muito feliz de finalmente ter realizado aos 70 anos um sonha de juventude, que era o de ver seu nome na capa de um disco...

O competente pianista Rubén Gonzáles, morreu em 2003 aos 84 anos.

Omara Portuondo, única mulher do “Buena Vista” ainda está bem viva e viajando sempre, em plena atividade. Recentemente gravou pela “Biscoito Fino” um cd com Maria Bethânia. Omara já teve um post do Musikal inteirinho dedicado a ela...

Abaixo, reproduzo o texto escrito por Ry Cooder em 1996, no encarte do cd “Buena Vista Social Club”:

“Os músicos e cantores do “son” cubano criaram esta música refinada e dançante, numa atmosfera isolada do mundo atual, hiper-estruturado e barulhento. Num período de cerca de cento e cinqüenta anos, eles desenvolveram um estilo e uma forma de interpretação que funcionam maravilhosamente.

Este álbum foi abençoado pela presença de alguns dos melhores músicos cubanos da atualidade. Sua noção de conjunto e dedicação à música são, em minha experiência, absolutamente únicos. Trabalhar neste projeto foi uma alegria e um grande privilégio.

Esta é uma música que está viva em Cuba, não um resquício que encontramos num museu. Sinto que passei a vida toda me preparando para isto, no entanto, fazer esta gravação não foi o que eu esperava em plenos anos ’90. Música é como uma caça ao tesouro. A gente cava... cava e, às vezes, encontra algo.

Em Cuba, a música flui como um rio. Ela te acolhe e te vira do avesso.

Meus mais profundos agradecimentos a todos que participaram desta gravação”.



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sexta-feira, 15 de agosto de 2008

[] Bravo, Bocelli ! ! [1958]

A Toscana é uma das maiores regiões italianas, tanto em número de habitantes [3 milhões e 600 mil] quanto em extensão territorial [23.ooo km2].

Tem 320 km de costa, banhada pelo Mar Lígure ou Mar da Ligúria e o Mar Tirreno, administra as ilhas do Arquipélago Toscano, onde a mais importante e famosa por sua história, é a Ilha de Elba.

Região exuberante, de cores vivas, terra fértil, céu de um azul especial, infinitos tons de ocre nas terras preparadas para o plantio, que vão do enxofre ao chocolate amargo...

Seus vinhedos viçosos, em longas extensões, são coloridos com um sem número de tonalidades de verde... muito verde, muito azul e muito ocre.

Neste cenário, nasceu Andréa Bocelli em 22/09/58, e como quase todo bom italiano, numa família católica, na comuna de Lajalico, que fica na província de Pisa. Sim, a da torre inclinada.

Para entendermos melhor, é bom termos em mente que a Itália é dividida em regiões, que se dividem em províncias e estas em comunas. Assim fica mais fácil de entendermos a origem de coisas e pessoas.

Todos os domingos, Andrea ia à missa com sua avó numa igreja pertinho de sua casa, onde chegou a tocar órgão por algum tempo.

E como a maioria das crianças daquela época que gostavam de música, Andrea tinha como ídolos os tenores Mario Del Mônaco, Beniamino Gigli Franco Corelli.

Quando tinha 12 anos, venceu seu primeiro concurso musical, quando interpretou “’O Sole Mio” numa competição em Viareggio, ganhando assim o prêmio “Margherita d’Oro” .

Andrea era portador de glaucoma congênito, o que comprometia sua visão progressivamente, e nesta época, durante um jogo de futebol com os amigos do bairro, sofreu uma pancada séria na cabeça, teve uma hemorragia cerebral e perde totalmente a capacidade de enxergar.

E agora, o que fazer com todos os sonhos, todos os planos e uma vida inteirinha pela frente? Andrea teve o apoio e ajuda emocional da família, dos amigos e professores e após a constatação de que nada mais era possível fazer para reverter o irreversível, não se deixou abalar e resolveu que queria viver uma vida normal. Ou pelo menos, alguma coisa o mais parecido possível ... Escolheu não ser infeliz.

Continuou com seus estudos formais, ingressou na Universidade e obteve um doutorado em Direito, pela Universidade de Pisa e foi trabalhar por um bom período como advogado. O curso de Direito Andrea fez mais para tranqüilizar seus pais, que por motivos óbvios, ficavam apreensivos com seu futuro, mas ele, pessoalmente, não era tão apaixonado assim pela carreira.

Tanto não era, que continuou com suas aulas de canto, que pouco a pouco foram tomando seu tempo mais e mais até que estava envolvido com isto exclusivamente.

Em 1992, o pop star do rock italiano Zucchero Fornacciari
estava procurando um tenor para gravar com ele um dueto numa fita demo, que seria mostrada a Luciano Pavarotti, que já havia prometido gravar com Zucchero a música “Miserere”.

Quando Pavarotti ouviu a parte de Bocelli, insistiu com Zucchero, autor da música, que com Bocelli estava perfeito... A gravação acabou sendo com Zucchero e Pavarotti, mas a excursão européia, foi com Bocelli.

Em 1994, Bocelli vence o “Festival de San Remo”, na categoria “Novas Propostas”. O festival, que é uma tradicional disputa musical Italiana, acontece há várias décadas e mobiliza toda a Itália. Assisti esta vitória em casa pela TV. Ninguém me contou...

A música que ele defendeu foi “Il Mare Calmo Della Sera”,
e foi um sucesso absoluto, tanto de execução como de vendas, o que rendeu a ele vários prêmios, como disco de ouro, e de platina.

Ano seguinte, novamente participa do San Remo com uma música chamada “Con Te Partiró”, de autoria de Francesco Sartori e Lucio Quarantotto. Na época, fez um sucesso discreto. Belíssima música, interpretação impecável, mas só...

Mas em ’96 resolveu gravar uma versão metade em italiano e metade em inglês, com a soprano inglesa Sarah Brightman. Assim, “Com Te Partiró” virou “Time To Say Goodbye” e correu mundo.

O sucesso que veio a seguir surpreendeu a todos envolvidos com a produção deste single. Na França, ficou na parada de sucessos em primeiro lugar por várias semanas e a gravadora tendo que atender às pressas pedidos extras de todas as lojas de discos...

Na Alemanha, ficou em primeiro lugar durante 14 semanas consecutivas e vendeu mais de 3 milhões de cópias, tornando-se o single mais vendido em todos os tempos no país.

Foi literalmente um sucesso mundial. Aqui no Brasil pudemos ver durante um bom tempo a extensão deste sucesso, que virou repertório indispensável em qualquer programa de calouros, desfiles e uma infinidade de eventos. Música gravada no mundo por vários intérpretes, de diversos segmentos, teve até uma versão “dance-light”, pela ex-rainha “disco” Donna Summer, com o nome de “I will go with you”, que ficou até bastante interessante...

Em 1996 grava seu primeiro cd, “Romanza”, que ganha todos os prêmios que um disco pode ganhar.

Bocelli então, já é uma celebridade italiana
, se tornando aos poucos uma celebridade mundial. Em ’97 inicia uma série de turnês por Paris, Barcelona, Bologna e Vaticano, cantando para o Papa João Paulo II no Natal.


Pai de Amos, nascido em 1995 e de Matteo em 1997, tem 4 óperas completas gravadas: "La Bohème" de Puccini, "Il Trovatore" de Giuseppe Verdi, "Werther" de Jules Massenet e "Tosca", também de Puccini.

Continua gravando e conquista o território americano através de um concerto no “John F.Kennedy Center For The Performing Arts” e numa apresentação em grande estilo na Casa Branca.

A seguir, turnês pela América do Norte e América do Sul. Participa também da primeira ópera transmitida totalmente ao vivo pela Internet, evento que aconteceu no “Detroit Opera House”.

As turnês seguem-se em ritmo frenético, bem como suas participações em eventos esportivos, como os Jogos Olímpicos de Invernos de Turim, Itália, em 2006.

Bocelli está sempre envolvido com eventos de caridade, shows beneficentes e toda e qualquer manifestação artística que arrecade fundos para boas causas, como cantar no local dos destroços do World Trade Center em outubro de 2001.

Promove e participa de concertos em prol de Fundações de Pesquisas Científicas e Fundos de Ajuda Humanitária, como aconteceu na época da Tsunami.

Em 1999 publicou sua autobriografia com o título de “La Musica Del Silenzio”,
que ano seguinte recebeu uma versão em inglês com o nome de “Andrea Bocelli, The Autobiography”.

Com uma discografia de quase 20 cd’s e alguns dvd’s, o mais recente trabalho de Bocelli é “Amore”, com um repertório pra ninguém botar defeito:

Amapola // Besame Mucho // Les Feuilles Mortes // Mi Manchi // Somos Novios // Canzoni Stonate // Solamente Uma Vez // Jurame // Te Extraño // Momentos // L’Appuntamento [nosso “Sentado à Beira do Caminho”] // Quando Me enamoro // Estate // Can’t Help Falling in Love [conhecida mundialmente com Elvis Presley] // Because We Believe.

Ao contrário de algumas pessoas, acho muito bom que a chamada música erudita tenha se permitido uma popularizada de alguns anos para cá. Assim, tira um pouco aquele ranço de música elitista, para somente uns poucos escolhidos.

Graças a este ecumenismo, muitos de nós até nos referimos com mais naturalidade a termos como tenor, barítono e baixo.

Contralto não é mais um bicho papão, sopranos e mezzo-sopranos, a gente tira de letra, e a cultura geral sai ganhando.

Quando me informo de vidas como a de Bocelli
e de vários artistas como Ray Charles, Steve Wonder, Jose Feliciano, e tantos cantadores e violeiros anônimos das feiras do nordeste, não posso deixar de lembrar dos versos da música “Assum Preto” de autoria de Humberto Teixeira [+]

“Tudo em vorta é só beleza, sol de abril e a mata em frô...mas assum preto, cego dos óio, não vendo a luz, ai...canta de dor...

Tarvez por ignorança, ou mardade das pió, furaro os óio do assum preto pra ele assim, ai...cantá mió...

Assum
preto veve sorto, mas num pode avuar, mil vez a sina, ai....de uma gaiola, ai... desde que o céu, ai... pudesse oiá...

Assum preto, meu cantar é tão triste como o teu, também robaram o meu amor, ai... que era a luz ai... dos óio meu...”

[+] Humberto Teixeira [1915=1979], poeta, compositor, advogado e deputado federal, foi o presidente e fundador da Associação Brasileira de Música Popular, defensor abnegado dos direitos autorais, tendo viajado para o exterior representando o Brasil na defesa dos interesses de compositores musicais. É também o autor de clássicos da nossa música, como “Kalú”, “Asa Branca”, “Qui Nem Jiló”, “Juazeiro”. Também é pai da atriz de Tv e cinema Denise Dumont.

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terça-feira, 12 de agosto de 2008

[] Pat Boone, Padrão Americano [1934]

No final dos anos ’50 e durante toda a década de ’60, existiam dois grandes ídolos jovens americanos : De um lado, Elvis Presley, com todo o ar de renovação e rebeldia que era proposto na maneira de cantar, de vestir e na simples atitude do dia a dia.

De outro, um modelo de bom moço que os americanos adoram até hoje. Cara de bom rapaz, bom filho, bom irmão, bom aluno, bom vizinho e bom tudo. Em outras palavras, quase um chato. O equivalente da época aos politicamente corretos em excesso dos dias de hoje, o “bonzinho – vaselina”.

Sempre em cima do muro, querendo agradar todo mundo, e fingindo virtudes que na maioria das vezes, nem têm e mal conhecem o significado dos adjetivos pelos livros...

Se Elvis revolucionou a maneira de se dar ao público, e veio ao encontro de novas necessidades juvenis, precisadas de um sangue novo, e de uma rebeldia mais atualizada, Pat Boone perpetuou o clichê americano, solidificando cada vez mais a imagem do moço de cara limpa, vestido com apuro, barba sempre bem feita, cabelos penteados e um boletim escolar impecável.

Cada um com sua contribuição musical e comportamental. Graças à Deus sempre houve público para tudo.

Nasceu Charles Eugene Patrick Boone em 01/06/34 em Jacksonville, Florida, e garante ser um descendente direto do famoso pioneiro americano Daniel Boone, personagem bastante popular de uma série de TV durante os anos ’60.

Graduado “Magna Cum Lauda” em 1958 pela Universidade de Columbia.

Quando Pat Boone gravou seu primeiro disco, em 1954, ele já era casado, mas a imprensa e os meios de comunicação da época não faziam muito alarde deste detalhe pessoal, pois comercialmente, era muito mais interessante que ele continuasse sendo um personagem bom partido e que povoasse os sonhos e desejos das mocinhas virgens, casadoiras virtuosas que sonhavam com uma casinha ajardinada e cercas brancas, num subúrbio tranqüilo, perdido em qualquer lugar do território americano. De preferência que fossem exímias fazedoras de geléia de amoras.

Alguma coisa parecida aconteceu também com Brenda Lee, que mal completou 18 anos e se casou com seu namoradinho de adolescência....e muita gente não sabe que ela já é avó de dois netos e mãe de duas filhas de mais de 40 anos e que os tempos de garotinha cantando “Jambalaya” já vão longe...


No final dos anos ’50, Pat vivia com a família numa modesta casa em New Jersey, apesar de faturar anualmente [em valores da época], 750 mil dólares.

Tinha como marca registrada, um par de tênis sempre branco que usava para compor seu visual bem educado, com suéteres de decote “V”, camisas listradas e um ar de quem só se alimentava de iogurte com sucrilhos.

Seu primeiro filme, em 1957, foi “April Love”, ao lado deShirley Jones e deu ao mundo inteiro uma canção de mesmo nome, que ficou em primeiro lugar nas paradas de sucesso por quase 2 meses.

Até hoje as boas emissoras de FM, ainda executam “Love Letters in the Sand”, “Friendly Persuation”, “Moody River” e Bernardine. Romântico, sem “babação” e uma bela voz associada a um carisma natural, foi o ídolo do americano conservador padrão.

Pat foi criado na igreja “Chuch of Christ”, que é o nome original da “Primeira Igreja dos Santos dos Últimos Dias”, ou “Igreja Mórmon”, à escolha do freguês, denominação fundada em 1830 por Joseph Smith. Mas nos final dos anos ’60, Pat e família mudam de igreja e tornam-se pentencostais.

Por conta de seus princípios religiosos, recusava músicas e filmes que não estivessem de acordo com as normas da igreja, ou que pudessem arranhar a imagem de rapaz puro e de boa família.

Este comportamento causava um certo mal estar nos estúdios musicais e cinematográficos, pois volta e meia criava atritos com produtores e colegas.

Uma vez, Pat se recusou a aceitar um papel para atuar ao lado do então sonho escondido da maioria dos americanos: a louríssima Marilyn Monroe...

Quando filmou “April Love”, não quis beijar a atriz Shirley Jones como o roteiro pedia, pois tanto ele como ela, eram casados na vida real com seus respectivos cônjuges, e na cabeça dele, isto não ficava bem.

Este comportamento “sabonete” foi contestado pela “Hustler Magazine”, na sua edição de janeiro de 1984, quando afirma ser absolutamente verdadeira uma foto em nu frontal de Pat mais jovem , posando para um “sex-card”... Não se tem notícia de nenhuma ação do artista contra a revista.

Pat teve programas na televisão e no final dos ’60 começa a escrever livros de auto ajuda dirigidos aos adolescentes. Quando ele casou, em 1953, tinha apenas 19 anos.

A mulher era Shirley Lee Foley, filha de uma lenda da música country, Red Foley.
Desde o final dos anos ’50 e durante a década seguinte, Pat foi “garoto propaganda” da Chevrolet, substituindo a atriz e cantora Dinah Shore, patrimônio americano.

Dizia slogans como “Veja os Estados Unidos de dentro de seu Chevrolet” ou “Dirija seu Chevrolet através dos Estados Unidos e descubra a maior nação de todas as Américas”.

Tiveram 4 filhas, entre elas, Debby Boone, que também é cantora e nora da grande Rosemary Clooney...

Em ’97, Pat Boone dá uma derrapada na sua carreira e arranhou sua imagem de uma forma ridícula, totalmente desnecessária e quase bizarra. Lançou um infeliz cd com o título “In a Metal Mood- No More Mr. Nice Guy” que em português seria qualquer coisa como “Num Clima Metaleiro-Não Mais Sr .Bom Moço”, numa alusão evidente a uma virada que pretendia dar.

O disco era todo de música de "metaleiro", e para divulgar este infeliz lançamento, comparecia aos lugares, vestido com um colete de couro sem camisa por baixo, óculos escuros e uma atitude “metálica”, querendo mostrar uma juventude que evidentemente não existia há muito...

Só que nesta época, ele já estava com quase 65 anos e quando compareceu com esse visual ao “American Music Awards”, decepcionou fãs e admiradores mais conservadores.

Foi excluído do “Gospel América”, programa de música religiosa transmitido pela “Trinity Broadcasting Network”. Um ano depois deste lamentável episódio, os ânimos de patrocinadores e dirigentes televisivos já estavam mais aquietados e Pat foi readmitido.

Volta às suas raízes religiosas e em 2003 a “Gospel Music Association” de Nashville reconhece seu trabalho discográfico gospel e o introduz no almejado “Gospel Music Hall of Fame”.

Novas polêmicas em 2006, quando escreve um artigo para o “World Net Daily” dizendo que tanto os Democratas quanto todos aqueles que fossem contra a Guerra do Iraque, não poderiam ser considerados verdadeiramente patriotas...

Foi entrevistado para a “Fox News”, onde expressou sua total desaprovação a todos aqueles que fossem contra George W.Bush.

Atualmente Pat continua com suas atividades de dirigente de clubes de basquete, outra grande paixão sua, dá palestras de caráter motivacional pelo país e é comentarista político na televisão.


E como se não bastasse, em 2007 escreve um artigo dizendo que achava a teoria da Evolução da Espécie um verdadeiro absurdo, completamente sem sentido e responsável por uma falsa religião...

Não satisfeito, continuou delirando e escreveu um artigo no formato de conto de fadas onde conta que um Príncipe Encantado foi seduzido por um anão, contrai AIDS e morre de overdose.

Que tal ?


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