SEMPRE MÚSICA . . .

quarta-feira, 24 de junho de 2009

[] Uma Garota Chamada Dusty... [1939-1999]


Esta semana fui até a Livraria Cultura procurar um livro para dar de presente a um amigo que estava fazendo aniversário. Depois de escolher alguns volumes nas prateleiras, e dar uma olhada no conteúdo, bem sentado nas almofadas, decidi que livro levar.

Fui até o caixa, paguei, providenciei um pacote de presente e antes de ir embora resolvi ir até a parte dos discos dar uma olhada geral...

De repente vejo na prateleira um cd de nome “A Girl Called Dusty... Dusty Springfield”. Uma capa muito bem executada, de fundo azul vivo e uma Dusty em plenos anos ’60... cabelos loiros armados e arrumados, com cara de quem estava mascando chicletes... Resolvi escutar o disco e foi como voltar quatro décadas no tempo...

Para quem não lembra, ou por acaso não a conheceu, vale dizer que ela ficou conhecida praticamente no mundo inteiro em 1963 com a música “I only want to be with you”, sucesso absoluto de vendas e de todas as festas... era amúsica que se colocava quando se queria dar uma animada nas pessoas... como aconteceria mais tarde com a “Lança Perfume” da Rita Lee... era infalível!

Graças a Dusty Springfield, o mundo ficou conhecendo também “The Look Of Love”, de Hal David e Burt Bacharach, trilha sonora do filme “Casino Royale”, de 1967. Tanto o filme quanto a música se tornaram clássicos; a música já teve e continua tendo um sem número de gravações, tanto instrumentais como vocais... ainda bem, pois é uma bela música !

Foi dela também a primeira gravação de outro clássico de Burt Bacharach, “Wishin’ and Hopin” em 1964, que seria popularizada dois anos depois por Brenda Lee... mas “Wishin’ and Hopin” é uma música que ficou para sempre ligada a Dusty, como sendo sua identidade musical.

Nascida Mary Isabel Catherine Bernadette O’Brien em 1939 no Reino Unido, foi uma das cantoras inglesas que mais fizeram sucesso na América, colocando na parada de sucessos americana uma infinidade de músicas.

Nos anos ’80, mais precisamente em 1988, participou como convidada especialíssima do disco “Introspective” do Pet Shop Boys. Aquele disco de listras verticais bem coloridas, lembra ?

A música que eles gravaram juntos foi “What Have I Done To Deserve This” ...pois é dela aquela voz gostosa que ouvimos na gravação...

Em 1995 Dusty foi diagnosticada com um câncer de mama já em andamento severo e morreu em 1999, pouco antes de completar 60 anos....

Deu uma nostalgia boa, ouvir novamente “Wishin’ And Hopin” com esta eterna garota chamada Dusty, que alegrou tantas festas que participei....

(@) veja e ouça Dusty Springfield clicando aqui ! []



quinta-feira, 30 de abril de 2009

[] Diana Julie Krall London

Evidentemente que o título deste post é uma referência bem humorada ao mais recente disco de Diana Krall.

Não conheço nenhuma cantora que tenha se aproximado tanto do jeitão de Julie London cantar como Diana Krall em seu “Quiet Nights”.

Diana sempre foi linda e loira, elegante e classuda, assim como Julie London, que literalmente enfeitava as capas de seus LP’s com fotos sensuais, de extremo sex-appeal, closes que ressaltavam a beleza de seu rosto, seus cabelos impecáveis e olhares que prometiam mundos e fundos ao ouvinte...

Além disso tudo, Julie tinha aquele diferencial que se tornou quase uma “trade mark” sua, que era a de cantar próximo ao microfone, criando assim uma atmosfera quase confessional e trocas de segredos além de eternas juras de amor.

Muitas vezes até, parecia estar cantando languidamente apoiada com o cotovelo no travesseiro, como quem folheia uma revista tipo “Harper’s Bazaar”, no 18’ andar de um prédio de tijolos em Manhattan, enquanto lá embaixo, as pessoas passam com capas de gabardine vendo as silhuetas refletidas nas vitrines de neon...

Pois muito bem, em “Quiet Nights”, Diana é basicamente a Diana de sempre, com seu piano estupidamente bom, arranjos elegantes sem serem piegas, fazendo bem = e muito = o que ela sempre fez, desde os seus 11 discos anteriores, que é cantar e tocar piano... sim, simples assim.
Só que neste disco, ela se aproximou ainda mais de Julie London, pois sua voz está um pouco mais sexy, ou sensual se preferem, cantando mais baixo, em tom mais grave, mais sussurrado e muito mais próxima de quem a ouve.

E como se não bastasse isto, ainda canta algumas músicas do repertório de Julie London, como “Where or When”, “Too Marvelous for Words”, “You’re my Thrill”, e deixa claro que as outras músicas contidas no disco, seriam cantadas assim por Julie London....

Longe de ser um demérito estas minhas observações, pois não estou dizendo que Diana está imitando Julie London, até porquê ela nem precisa disso já que é uma artista mundiamente conhecida, que está entre os nomes mais sofisticados do novo jazz, do jazz elegante, endinheirado, cantado e tocado nos locais da moda, seja aqui, lá, ou acolá...

Diana na minha opinião, é competentíssima em gravar alguns temas “pops” e dar um plus de elegância e sofisticação como fez com aquela baladinha pra lá de manjada dos Bee Gees, “How Can You Mend a Broken Heart”, que ficou uma belezinha de se ouvir.

Para mim, foi uma dupla satisfação, pois além de ter um punhado de standards da música americana que eu gosto, como é o caso de “walk on by”, eu sentí por parte de Diana, no todo deste disco, uma homenagem à bela, talentosa e criadora de estilo Julie London.

Quiet Nights tem:
where or when // too marvelous for words // i’ve grown accustomed to his face // the boy from ipanema // walk on by // you’re my thrill // este seu olhar // so nice // quiet nights // guess i’ll hang my tears ou to dry // how can you mend a broken heart // every time we say goodbye.

O disco, que também foi lançado lá fora em vinil, é da Verve, aqui no Brasil pela Universal Music, foi produzido por Tommy LiPuma & Diana Krall, arranjado e conduzido por Claus Ogerman.


segunda-feira, 6 de abril de 2009

[] Natalie Cole, Transplante e Hemodiálise...

Não é de hoje que Natalie Cole anda envolvida com problemas de saúde. Há vários anos, que ela vem lutando contra a dependência química, principalmente de cocaína e heroína.

Entra em clínica, sai de clínica, passa um tempo totalmente afastada das drogas, mas depois volta com mais força e parece entrar mais fundo... Até bem esforçada, pede ajuda aos amigos, aos colegas de trabalho e gente do showbiz.

Esta semana li no jornal italiano “Corriere Della Sera” que Natalie declarou no programa de entrevistas “The Larry King Show”, um dos mais populares da televisão americana, através da CNN, que terá que fazer um transplante, pois está perdendo as funções renais dos dois rins.

O estado de saúde de Natalie se agravou em fevereiro de 2008, quando ela foi diagnostica com hepatite do tipo “C”, segundo os médicos, como conseqüência dos abusos de álcool, heroína e cocaína.

A partir daí, ela já esteve internada duas vezes em clínicas especializadas para desintoxicação e passou 4 meses fazendo um tratamento de quimioterapia.

Atualmente, está fazendo hemodiálise 3 vezes por semana levando 3 horas em cada sessão...

Mesmo assim, está conseguindo cumprir sua turnê mundial, não abandonando a hemodiálise em Milão, Istanbul, Manila, Londres e Indonésia.

Natalie está com 58 anos, tem um consistente histórico familiar de abusos. Seu pai, o grande Nat King Cole, não abandonava o copo, fumava 4 maços de cigarros por dia e morreu de câncer de pulmão quando Natalie tinha 15 anos...

Em fevereiro deste ano ela deu uma entrevista para a revista semanal americana “People”, admitindo a possibilidade de que seu filho Robert, de 31 anos seja o doador.

Vamos torcer para que esta situação se resolva da melhor maneira e que ela possa continuar com sua carreira e continuar gravando coisas tão boas como seu mais recente disco “Still Unforgettable”, já comentado aqui no blog.


quarta-feira, 25 de março de 2009

[] Caterina "Always" Valente

Um bom exemplo de artista verdadeiramente cosmopolita. Nascida em Paris em 1933, de família italiana, passaporte alemão, prêmios internacionais, mais de 1500 músicas gravadas em 12 línguas, e 18 milhões de discos vendidos pelo mundo.

Estas são algumas credenciais de Caterina, nascida em uma família de artistas; seu pai, um típico italiano chamado Giuseppe, era na época um conhecido acordeonista e sua mãe, atriz cômica e bailarina de comédia musical, onde misturava teatro, picadeiro, dança e canções...

Um dos irmãos de Caterina, Silvio Francesco, seguiu a mesma carreira da família e acompanhou a irmã mundo a fora por diversas vezes, como cantor e guitarrista, apresentando duetos que ficaram gravados em muitos discos.

Por uma dessas coisas do destino, a carreira de Caterina iniciou na Alemanha, pois ela conheceu o malabarista alemão Gerd Eric Horst Scholz, que logo reconheceu seu talento, virou seu marido e empresário.

Em 1953 grava seu primeiro disco “Istanbul”, com o famoso maestro alemão Kurt Edelhagen. Em seguidinha, com o mesmo maestro fez a gravação de duas músicas, num pequeno medley, com as quais é lembrada até hoje: “Malagueña” e The Breeze And I”, de autoria do cubano Ernesto Lecuona.

Pronto. Caterina estava lançada ao mundo e em meados dos anos ’50 era conhecida praticamente em todos os continentes, e nos anos ’60 grava uma série de discos com Claus Ogerman, logo se casa com o pianista Roy Budd e a cada ano vai consolidando sua carreira internacional. Seja lá qual for o país...

É íntima da Europa, shows em todas as capitais, teatros e tv, discos e rádios, Caterina Valente era sinônimo de talento, garra, competência, vocação e simpatia, predicados que dificilmente andam juntos.

Sua discografia na Alemanha é interminável, além de ter gravado com nomes como Louis Armsntrong, Ella Fitzgerald, Benny Goodman, Tommy Dorsey e Chet Baker.

Seu filho Eric Van Aro Jr. também é um conhecido cantor europeu.

Com o passar dos anos, Caterina foi diminuindo suas atividades, mas em 1989, gravou um cd na Itália “A Briglia Sciolta”, que acabou se tornando seu disco campeão absoluto de vendas. Seu mais recente trabalho chama-se “Girl Talk”, e é de 2001.

Atualmente, vive tranqüila, bonita e saudável em Montagnola, perto de Lugano, na Suíça.

Merecidamente.

(@) ouça e veja Caterina aqui []! e também aqui []!



quarta-feira, 11 de março de 2009

[] É Tempo de Amar ... Zé Renato

Quando ele tinha 14 anos ganhou de seu pai o primeiro violão; mas não era um violão qualquer, pois era assinado por alguém ilustre no mundo da música: Sílvio Caldas, amigo de longa data de seu pai...

A primeira música que Zé Renato aprendeu a tocar nesse violão famoso, foi “Namoradinha de Um Amigo Meu”... até aí, tudo bem, isso era mais ou menos comum aos garotos daquela época. Só que a vida continuou rolando, Zé Renato enveredou pela música, ficou conhecido, famoso, e participou durante anos de um dos mais conhecidos grupos vocais, o “Boca Livre”.

Versátil e competente que é, feliz possuídor de uma voz limpa, sem floreios e vibratos desnecessários, já dedicou discos inteiros às obras de Sílvio Caldas, Zé Ketti, Chico Buarque e Noel Rosa, além de ter gravado um disco com Wagner Tiso, de voz e piano, cantando músicas de nosso folclore...

Devo destacar aqui um outro trabalho muitíssimo bem cuidado e elegante, quando se juntou ao grupo vocal português “Trinadus” e gravou “Navegantes”, mostrando que um fado pode ser cantado como uma canção brasileira, e uma canção nossa cai como uma luva nas medidas dos mais fados dos fados....

Em “É Tempo de Amar” Zé Renato saldou uma dívida que tinha com ele próprio, pois sempre cantou as músicas da Jovem Guarda em casa e mentalmente, imaginando um dia poder colocar em disco, à sua maneira.

E assim, foi, manteve a ingenuidade daquele tempo, apenas modernizando o som e os arranjos, sempre respeitando a atmosfera da época em que elas foram cantadas e fizeram sucesso. É um disco generoso, de som requintado e ao mesmo tempo extremamente simples...

Tem teclados de órgão Hammond e Würlitzer, e tem também vibrafone, indispensável naquela década.



É Tempo de Amar” tem:

# É tempo de amar
# Coração de papel
# Eu não sabia que você existia
# Por você
# Lobo mau
# Com muito amor e carinho
# Não há dinheiro que pague
# Nossa canção
# Quero ter você perto de mim
# Ninguém vai tirar você de mim
# Custe o que custar
# O tempo vai apagar
# A última canção

Tiro certeiro tanto para quem gostava como para quem não gostava da Jovem Guarda.


sábado, 28 de fevereiro de 2009

[] Doninha de Calçada Não Me Pega ! !

É como um conto de fadas, tem sempre uma bruxa pra apavorar... o dragão comendo gente e a bela adormecida sem acordar.

Tudo o que o mestre mandar e a cabra cega sem enxergar, e você se escondeu, e você esqueceu.

Pique pau, cuspe em distância, pés pisando em ovos, veja você...um tal de pular fogueira, pistolas, morteiros, veja você...

Pega malhação de Judas e quebra cabeças, veja você... e você se escondeu, e você não quis ver.

Olha o bobo na berlinda, olha o pau no gato, polícia e ladrão... tem carniça e palmatória bem no seu portão.

Você vive o faz-de-conta, diz que é de mentira brinca até cair... chicotinho ta queimando, mamãe posso ir ?

Pique pau, cuspe em distância pés pisando em ovos, bruxa, dragão... um tal de pular fogueira e a cabra cega vai de roldão.

Pega malhação de Judas e um passarinho morto no chão... e você conheceu... e você aprendeu !

[Jardins de Infância, João Bosco + Aldir Blanc, 1975]

Hoje estava cantarolando esta música e de repente fui parar algumas décadas atrás, e me vi brincando na calçada com os amiguinhos da rua, naquelas tardes que não acabavam nunca.

Aí comecei a me perguntar de que será que as crianças de hoje brincam, que músicas ou quadrinhas ou cantigas de roda elas cantam, se é que brincam de roda. Acho muito pouco provável que numa cidade grande as crianças joguem “amarelinha”, andem de “perna-de-pau”...

Mais improvável ainda imaginar a meninada parada, estática, brincando de “estátua”, ou de “polícia e ladrão”, “doninha de calçada” e “mamãe eu quero doce”...

Felizmente, com um pouco de sorte, em alguma cidade do interior possamos ainda encontrar algumas crianças nos quintais de casa, reinando absolutas no universo criado por elas, onde cada árvore é um mundo, cada canteiro uma floresta cheia de duendes, fadas e criaturas que só elas conhecem e sabem o nome.

Músicas inventadas na hora de cada narrativa, cada batalha, cada conquista de novo território logo ali, ao lado do mamoeiro, entre a roseira branca e pé de camélia...

É claro que os tempos mudam e eu não sou ingênuo a ponto de esperar que as crianças de hoje brinquem das mesmas coisas que eu brincava, nem que tenham a mesma facilidade de fantasia de algumas décadas passadas.

Hoje está tudo à disposição com um simples toque, quase tudo é “touch screem”, quase tudo nos chega via “download”, desde um simples game, até a possibilidade de viver uma vida paralela; uma outra vida, é claro, uma segunda vida com direito a ter tudo e, suprema maravilha, ser tudo o que se quer... com outra identidade, outro tipo físico e outra conta bancária.

Mas relembrando assim, sinto um pouco de saudade das musiquinhas, das brincadeiras, das disputas de carrinhos de rolimã, de passar voando de patinete pela calçada só para impressionar os amiguinhos menores ou mais tímidos, de quem nós sempre acabávamos virando uma espécie de heróis.

Onde foi parar esse mundo fantástico e sem limites de antes?

“se esta rua, se esta rua fosse minha... eu mandava, eu mandava ladrilhar... com pedrinhas, com pedrinhas de brilhantes, para ver, para ver meu bem passar...”

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

[] Duetos Funcionam ?

Desde a mais remota época do canto, que dividir um número musical com algum colega do ramo é praxe na indústria do espetáculo e, por extensão, do disco.

Se dermos uma voltinha no canto lírico e no semi-lírico, encontraremos uma variedade de exemplos, principalmente na cena operística onde os duetos são quase obrigatórios, pois são diálogos, são conversas que as personagens têm de manter, para a história ficar bem contada. Neste caso, não cabe muito questionamento. Ou gostamos ou não da forma, do conteúdo e do resultado, e fim, viramos a página. Ou trocamos de canal.

Mas se fizermos uma excursão no chamado canto popular, e olharmos com mais calma e com uma boa lente de aumento, a minha pergunta do título vai-se tornando mais pertinente, à medida que o tempo passa, e à medida que os lançamentos vão chegando aos pontos de venda. Reais e virtuais.

Tomemos com ponto de partida – apenas para exemplificar – aquele famoso show dos três tenores, Pavarotti, Carreras e Domingo nas Termas de Caracalla em Roma tempo atrás.

Claro que foi um sucesso indiscutível de vendas, pois foi um verdadeiro show, com três monstros do bel canto se rasgando para dar sua melhor performance. Isso ninguém duvida, como também não duvida da popularidade que essa forma de cantar atingiu, até – e muito – num segmento de público que nunca foi muito afeito a esta música mais empostada, mais sinfônica, mais teatral, ou seja lá que nome queiramos dar a este tipo de espetáculo.
Mas a partir daí as gravadoras e produtores musicais, cometeram verdadeiros absurdos no uso desta fórmula, que tanto pode revitalizar a carreira de alguém com um certo nome já na praça, como também pode obrigar o pobre infeliz a botar a viola no saco e ir cantar em outra freguesia. Ligeirinho.

Não basta colocar em estúdio um cantor em fim de carreira ou que esteja atravessando um período de estagnação criativa dividindo números musicais com coleguinhas convidados que na maioria das vezes, nada têm a ver com o titular do disco.

Exemplo? Frank Sinatra Duets, volumes I e II. Discos frios, que tiveram venda bem aquém do esperado, pois a julgar pelo nome Sinatra e o nome de convidados sempre “especiais”, esperava-se um rompimento de todas as expectativas. Qual o quê...

Muitas das faixas foram gravadas em cidades distantes uma da outra, sem os cantores ao menos estarem na presença um do outro... e é difícil fingir calor humano e as gracinhas de sempre para o ouvinte pensar que eles estão morrendo de satisfação em cantar juntos... a melhor e mais avançada técnica do mundo pode operar verdadeiros milagres, mas não cria emoção.

Obviamente é uma estratégia de mercado que se justificaria muito bem, e estaria desculpada de tudo se, por exemplo, uma gravadora quisesse lançar um artista do sul ou do leste junto ao público especificamente de norte e nordeste.

Aí sim, se justificaria fazer este artista ter como convidados, gente como Dominguinhos, Lenine, Elba Ramalho, Alceu Valença, Fagner ou algum outro discípulo de Patativa do Assaré, por uma simples questão de identificação do público alvo.

Mas fora casos específicos como este, acho duvidoso, e fico um pouco aflito quando vejo na capa de um cd aquela etiquetinha em papel ordinário colada na capa, chamando a atenção do comprador para os duetos do disco e para a relação de convidados...

Infelizmente, quase sempre distinguimos facilmente quem desta lista VIP está com a carreira no patamar de limbo; ou, quando o titular do disco já não está com essa bola toda e as gravadoras resolvem fazer tipo uma “ação entre amigos”, na tentativa quase sempre vã, de revitalizar a carreira dele... o que geralmente acontece é que um ou dois meses depois de lançado, este mesmo cd vai rapidinho para o balaio de oferta, pela metade do preço, o que, é claro, praticamente inviabiliza um próximo disco deste pobre artista.

Particularmente até gosto e acho curioso alguém cantar com colegas sucessos de um e de outro, mas é preciso ter alguns cuidados na escolha; não basta ter apenas boa voz, nem tocar bem seu instrumento, tem de haver um entrosamento muito mais subjetivo, tem de haver a tal química, que é uma coisa abstrata, e muitíssimo difícil e complicada de se administrar.

Ou seja, na minha opinião, os participantes de um disco assim, devem todos estar muito bem com suas carreiras, com seu público e com sua gravadora, pois assim teremos um disco pra cima, curioso, enriquecido com a celebração do talento de todos os envolvidos no projeto.




[ilustração// the dancer // fernando botero]

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

[] Tanti Auguri, Gino ! !

Qualquer pessoa com mais 40 anos e que tenha uma ligação com a música, por menor que seja, vai lembrar, cantarolar ou assobiar “Sapore di Sale”, certamente.

No início dos anos ’60, esta música era executada obrigatoriamente em todas as emissoras de rádio do Brasil, sem falar na Itália, país de origem do compositor e intérprete Gino Paoli.

Naqueles tempos, a música italiana era muito popular aqui entre nós, fazia parte de qualquer discoteca das emissoras de rádio ou da casa das pessoas.

Nesta mesma época, Sergio Endrigo, nostálgico como sempre emocionava o mundo com “Io Che Amo Solo Te”... quem não lembra? Tanto é assim, que a RCA Victor lançou uma série com diversos títulos e intermináveis volumes como “Gli Anni Moderni”, “Fortíss
imo”, “Più Fortíssimo”, “Gioventù” e assim por diante...

Era uma maravilha, pois num único LP, por exemplo, podiam cantar em nossa casa a qualquer momento, Rita Pavone, Nico Fidenco, Edoardo Vianello, Michelle, Catherine Spaak, Wilma Goich, recém casada com Edoardo Vianello e mais uma infinidade de intérpretes que fascinavam os amantes da música italiana... sem falar em Domenico Modugno, que em 1958 e 1959 havia explodido mundiamente com “”Nel Blù, Dipinto di Blù” (volare...ôô...cantare, ôôôô....nel blu...) e “Ciao, Ciao Banbina”, também conhecida simplesmente como “Piove”...

Pois bem, Gino Paoli, acaba de lançar um disco comemorando seus 50 anos de uma carreira sempre regular, embora não espalhafatosa nem cheias de ups and downs como a de
muitos artistas, tempo em que, discretamente e com muita qualidade, foi escrevendo seu nome definitivamente na história da música italiana.

Gino é o responsável por clássicos como “Senza Fine”, lançado por Ornella Vanoni e aqui no Brasil gravado por Caetano Veloso e também por Zizi Possi.

É de Paoli também outro super-clássico-indispensável da Itália, “Il Cielo In Una Stanza”, lançada pela grande Mina no início dos anos ’60 e até hoje cantada e tocada mundo a fora com os mais diferentes arranjos.

O disco, intitulado “Storie”, é uma celebração do talento de Paoli como letrista, músico e extraordinário pianista que é, e obviamente traz seus grandes e eternos sucessos, após um show de lançamento no “Auditorium Parco Della Musica di Roma”.

Tanti Auguri, Gino ...


Sapore di sale, sapore di mare... Che hai sulla pelle, Che hai sulle labra quando esci dall’acqua e ti vieni a sdraiare...viccino a me, viccino a me...