“Ninguém me ama, ninguém me quer, ninguém me chama de meu amor...
A vida passa, e eu sem ninguém, e quem me abraça, não me quer bem...
Vou pela noite tão longa de fracasso em fracasso, e hoje, descrente de tudo só me resta o cansaço...
Cansaço da vida, cansaço de mim, velhice chegando, e eu chegando ao fim...”
Estes versos são conhecidos da maioria das pessoas, até mesmo como deboche, como brincadeira, como uma alusão a dramas, sofrimentos e solidão. São ditos até com um pouco de ironia.
São de autoria de Antônio Maria, jornalista , poeta e compositor pernambucano, de belas páginas da nossa música. Esta música foi gravada por Nora Ney em 1952, num disco de 78 rpm.
O sucesso desta disco foi tão grande, que além da beleza dos versos e da melodia, estava praticamente “inaugurada” uma nova maneira de cantar.
Nora, tinha uma voz grave, profunda e dramática, carregada nos “erres” e dona de uma dicção invejável. Cantava com voz pausada, clara, quase declamando os versos das canções...
Esta música deu a ela um DISCO DE OURO, o primeiro disco de ouro da história da música popular brasileira...
A composição de Antônio Maria ficou tão popular, que atravessou fronteiras e deixou o já famoso NAT KING COLE entusiasmado com a música, que acabou por gravá-la em seguida.
Nora Ney, e especialmente esta canção, viraram símbolos de uma estética musical, ou melhor, de um “estado de espírito musical”.
Era o “samba-canção”, música de “dor-de-cotovelo”, música de “fossa”, e de tudo mais que se referisse a todas as dores de amor, abandonos, solidão, amores não correspondidos e similares...
Os tempos eram assim...já tínhamos digerido muito bem o bolero, sofrido com suas mazelas, e agora estávamos “abrasileirando” o sofrimento; deixando mais com nossa cara, um pouco mais lento, mais dolente e menos sincopado.
Mas, vamos dar uma certa cronologia neste assunto:
Iracema Ferreira Maia, nasceu no Rio de Janeiro, no bairro de Olaria em 1922. Como todas as crianças, fez o colégio direitinho, e sempre interessada em música. Adorava um rádio ligado e ficava cantarolando pela casa o que ouvia.
Sempre que podia, ia aos programas de auditório, pois além de ser um divertimento da época, envolvia a música; e sua família até que era liberal, pois Iracema e sua irmã, estudavam música com uma vizinha, teoria e solfejo.
E ela estava se saindo tão bem, que seu pai, entusiasmado com os progressos das filhas, deu de presente a Iracema, um violão, para que ela pudesse se acompanhar enquanto cantava.
Continuou estudando, e fez o curso de contabilidade, mas seu interesse por música continuava cada vez maior.
Tanto é assim, que como muitos jovens desta época, ela fazia parte de “fãs-clubs”. Isto era um costume daqueles anos...
Fez parte do fã clube “SINATRA-FARNEY”, que promovia reuniões e festinhas na casa do cantor Dick Farney- que sempre adorou Sinatra - e contava com seu irmão, Cyll Farney, que na época tocava bateria.
Eram tardes e noites bem agradáveis e animadas, pois se conversava, trocavam notícias sobre seus ídolos, cantavam, mostravam novas composições e se mantinham atualizados com os movimentos da cantoria.
Iracema, que ainda não tinha virado Nora Ney, já mostrava um talento grande para este estado de coisas e com freqüência, era acompanhada ao piano por dois jovenzinhos: Johnny Alf e João Donato...
Da sala de Dick Farney para uma emissora de rádio, o caminho não foi tão longo assim. Sempre tem alguém que ouviu, que escutou, que recomendou, que telefonou etc e tal., e de repente, Nora Ney estava cantando, em 1951 na Rádio Tupi, no programa “Fantasia Musical”.
Trabalhou também na Rádio Nacional, ao lado de Doris Monteiro e Jorge Goulart, que lhe foi apresentado pela cantora Carmélia Alves e com quem viria a viver literalmente para o resto da vida...
Em 1952 grava seu primeiro disco, “Menino Grande”, composição de Antônio Maria, que exercia um fascínio nos artistas, devido a seus textos jornalísticos e a sua já famosa vida boêmia.
Neste mesmo ano, grava o famoso “Ninguém de Ama”, música que ficaria associada a ela para sempre.
Sua presença forte no palco, sua voz diferente – para a época – seu talento na escolha dos compositores que gravava, fizeram de Nora uma artista respeitada e uma das mais bem pagas da época do rádio.
Mas, já vivendo com Jorge Goulart, e devido ao posicionamento político de ambos, entraram na primeira “lista-negra” da Rádio Nacional e foram forçados a deixar o Brasil em 1964, retornando somente 8 anos depois, quando grava o LP pela Som Livre TIRE O SEU SORRISO DO CAMINHO...
Nora foi uma das pioneiras a excursionar em longas turnês em lugares tão distantes como China, Rodésia, Chipre e União Soviética.
Além de Antônio Maria, de quem também tornou famosas PRECONCEITO e BAR DA NOITE, Nora gravou compositores que tinham uma produção musical destinada às dores de amor, como LUPICÍNIO RODRIGUES, NELSON CAVAQUINHO, GUILHERME DE BRITO, ATAULFO ALVES E DORIVAL CAYMMI.
Nos anos 80 viaja pelo Brasil com o espetáculo AS ETERNAS CANTORAS DO RÁDIO, juntamente com suas colegas desta época áurea, como Zezé Gonzaga, Carmélia Alves, Ellen de Lima, Violeta Cavalcante e Rosita Gonzáles.
Outro pioneirismo de Nora digno de nota, é o fato de ser dela a primeira gravação de rock ‘n roll feita no Brasil.
Como ela adorava cantar em inglês e tinha uma pronúncia perfeita, em 1956 gravou “Rock Around The Clock”, sucesso de Bill Halley, na mesma época em que o filme fazia sucesso nas telas, o disco em inglês de Nora Ney também... Os irmãos paulistas Tony e Celly Campello, apareceriam na cena musical somente dois anos depois, em 1958.
Em 1979, Nora teve um severo câncer de bexiga, que deixou-a bastante comprometida e em 1982, durante um show no clube carioca FLUMINENSE, teve um Acidente Vascular Cerebral, com seqüelas que a impediram de voltar aos palcos naquela temporada...
Nora teve um casal de filhos , e Vera Lúcia, sua filha, foi a terceira colocada no concurso de Miss Brasil em 1963, ano em que a gaúcha Ieda Vargas foi a vencedora aqui, e lá fora, ganhando o título de Miss Universo. O terceiro lugar, deu direito a Vera de participar do concurso de Miss Beleza Internacional.
Desde os problemas de saúde de Nora Ney que ela passava a maior parte do seu tempo em Hospitais do Rio de Janeiro, tendo sempre ao lado a família e seu companheiro eterno, Jorge Goulart, com quem veio a casar “legalmente” após 40 anos de vida em comum, em 1992. Morre em 2003 por falência múltipla de órgãos.
Com mais de 50 discos gravados, e um passado tão produtivo, numa época de ouro da música nacional, com toda certeza Nora Ney será sempre lembrada por todos aqueles que já amaram, que já sofreram, e que já foram abandonados.
E quem não foi ?
“ Bar, estranho sindicato de sócios
da mesma dor...
Bar, é o refúgio barato dos fracassados
no amor...”
[ "Bar da Noite" @ Antônio Maria ]
A vida passa, e eu sem ninguém, e quem me abraça, não me quer bem...
Vou pela noite tão longa de fracasso em fracasso, e hoje, descrente de tudo só me resta o cansaço...
Cansaço da vida, cansaço de mim, velhice chegando, e eu chegando ao fim...”
Estes versos são conhecidos da maioria das pessoas, até mesmo como deboche, como brincadeira, como uma alusão a dramas, sofrimentos e solidão. São ditos até com um pouco de ironia.
São de autoria de Antônio Maria, jornalista , poeta e compositor pernambucano, de belas páginas da nossa música. Esta música foi gravada por Nora Ney em 1952, num disco de 78 rpm.
O sucesso desta disco foi tão grande, que além da beleza dos versos e da melodia, estava praticamente “inaugurada” uma nova maneira de cantar.
Nora, tinha uma voz grave, profunda e dramática, carregada nos “erres” e dona de uma dicção invejável. Cantava com voz pausada, clara, quase declamando os versos das canções...
Esta música deu a ela um DISCO DE OURO, o primeiro disco de ouro da história da música popular brasileira...
A composição de Antônio Maria ficou tão popular, que atravessou fronteiras e deixou o já famoso NAT KING COLE entusiasmado com a música, que acabou por gravá-la em seguida.
Nora Ney, e especialmente esta canção, viraram símbolos de uma estética musical, ou melhor, de um “estado de espírito musical”.
Era o “samba-canção”, música de “dor-de-cotovelo”, música de “fossa”, e de tudo mais que se referisse a todas as dores de amor, abandonos, solidão, amores não correspondidos e similares...
Os tempos eram assim...já tínhamos digerido muito bem o bolero, sofrido com suas mazelas, e agora estávamos “abrasileirando” o sofrimento; deixando mais com nossa cara, um pouco mais lento, mais dolente e menos sincopado.
Mas, vamos dar uma certa cronologia neste assunto:
Iracema Ferreira Maia, nasceu no Rio de Janeiro, no bairro de Olaria em 1922. Como todas as crianças, fez o colégio direitinho, e sempre interessada em música. Adorava um rádio ligado e ficava cantarolando pela casa o que ouvia.
Sempre que podia, ia aos programas de auditório, pois além de ser um divertimento da época, envolvia a música; e sua família até que era liberal, pois Iracema e sua irmã, estudavam música com uma vizinha, teoria e solfejo.
E ela estava se saindo tão bem, que seu pai, entusiasmado com os progressos das filhas, deu de presente a Iracema, um violão, para que ela pudesse se acompanhar enquanto cantava.
Continuou estudando, e fez o curso de contabilidade, mas seu interesse por música continuava cada vez maior.
Tanto é assim, que como muitos jovens desta época, ela fazia parte de “fãs-clubs”. Isto era um costume daqueles anos...
Fez parte do fã clube “SINATRA-FARNEY”, que promovia reuniões e festinhas na casa do cantor Dick Farney- que sempre adorou Sinatra - e contava com seu irmão, Cyll Farney, que na época tocava bateria.
Eram tardes e noites bem agradáveis e animadas, pois se conversava, trocavam notícias sobre seus ídolos, cantavam, mostravam novas composições e se mantinham atualizados com os movimentos da cantoria.
Iracema, que ainda não tinha virado Nora Ney, já mostrava um talento grande para este estado de coisas e com freqüência, era acompanhada ao piano por dois jovenzinhos: Johnny Alf e João Donato...
Da sala de Dick Farney para uma emissora de rádio, o caminho não foi tão longo assim. Sempre tem alguém que ouviu, que escutou, que recomendou, que telefonou etc e tal., e de repente, Nora Ney estava cantando, em 1951 na Rádio Tupi, no programa “Fantasia Musical”.
Trabalhou também na Rádio Nacional, ao lado de Doris Monteiro e Jorge Goulart, que lhe foi apresentado pela cantora Carmélia Alves e com quem viria a viver literalmente para o resto da vida...
Em 1952 grava seu primeiro disco, “Menino Grande”, composição de Antônio Maria, que exercia um fascínio nos artistas, devido a seus textos jornalísticos e a sua já famosa vida boêmia.
Neste mesmo ano, grava o famoso “Ninguém de Ama”, música que ficaria associada a ela para sempre.
Sua presença forte no palco, sua voz diferente – para a época – seu talento na escolha dos compositores que gravava, fizeram de Nora uma artista respeitada e uma das mais bem pagas da época do rádio.
Mas, já vivendo com Jorge Goulart, e devido ao posicionamento político de ambos, entraram na primeira “lista-negra” da Rádio Nacional e foram forçados a deixar o Brasil em 1964, retornando somente 8 anos depois, quando grava o LP pela Som Livre TIRE O SEU SORRISO DO CAMINHO...
Nora foi uma das pioneiras a excursionar em longas turnês em lugares tão distantes como China, Rodésia, Chipre e União Soviética.
Além de Antônio Maria, de quem também tornou famosas PRECONCEITO e BAR DA NOITE, Nora gravou compositores que tinham uma produção musical destinada às dores de amor, como LUPICÍNIO RODRIGUES, NELSON CAVAQUINHO, GUILHERME DE BRITO, ATAULFO ALVES E DORIVAL CAYMMI.
Nos anos 80 viaja pelo Brasil com o espetáculo AS ETERNAS CANTORAS DO RÁDIO, juntamente com suas colegas desta época áurea, como Zezé Gonzaga, Carmélia Alves, Ellen de Lima, Violeta Cavalcante e Rosita Gonzáles.
Outro pioneirismo de Nora digno de nota, é o fato de ser dela a primeira gravação de rock ‘n roll feita no Brasil.
Como ela adorava cantar em inglês e tinha uma pronúncia perfeita, em 1956 gravou “Rock Around The Clock”, sucesso de Bill Halley, na mesma época em que o filme fazia sucesso nas telas, o disco em inglês de Nora Ney também... Os irmãos paulistas Tony e Celly Campello, apareceriam na cena musical somente dois anos depois, em 1958.
Em 1979, Nora teve um severo câncer de bexiga, que deixou-a bastante comprometida e em 1982, durante um show no clube carioca FLUMINENSE, teve um Acidente Vascular Cerebral, com seqüelas que a impediram de voltar aos palcos naquela temporada...
Nora teve um casal de filhos , e Vera Lúcia, sua filha, foi a terceira colocada no concurso de Miss Brasil em 1963, ano em que a gaúcha Ieda Vargas foi a vencedora aqui, e lá fora, ganhando o título de Miss Universo. O terceiro lugar, deu direito a Vera de participar do concurso de Miss Beleza Internacional.
Desde os problemas de saúde de Nora Ney que ela passava a maior parte do seu tempo em Hospitais do Rio de Janeiro, tendo sempre ao lado a família e seu companheiro eterno, Jorge Goulart, com quem veio a casar “legalmente” após 40 anos de vida em comum, em 1992. Morre em 2003 por falência múltipla de órgãos.
Com mais de 50 discos gravados, e um passado tão produtivo, numa época de ouro da música nacional, com toda certeza Nora Ney será sempre lembrada por todos aqueles que já amaram, que já sofreram, e que já foram abandonados.
E quem não foi ?
“ Bar, estranho sindicato de sócios
da mesma dor...
Bar, é o refúgio barato dos fracassados
no amor...”
[ "Bar da Noite" @ Antônio Maria ]
[primeira foto do post: Nora Ney, Inezita Barrozo e Isaurinha Garcia]
Um comentário:
Nora Ney para mim é o símbolo de bom gosto de uma época. Vi o show das “meninas” no Palladium em São Paulo, um espetáculo.
A foto das três no início do post está o máximo. Alias todas das fotos estão muito boas, as do microfone e do rádio são excelentes.
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