A primeira vez que ouvi e assisti Alaíde cantar, foi num “Arquisamba” = manisfestação musical promovida pelo Diretório do Centro Acadêmico da Faculdade de Arquitetura da UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Naquela época, a efervescência cultural estudantil era mais atuante, mais curiosa, até mesmo diria que mais ativa, pois na esteira da música, também vinha literatura, teatro, e todas as manifestações culturais.
Foi uma tarde inesquecível – pelo menos para mim, pois de uma só vez, pude ver num mesmo palco – além de Alaíde, nada mais nada menos que Nara Leão, Chico Buarque de Hollanda e o pianista e compositor Oscar Castro Neves.
Chico e Nara na época eram os “queridinhos” do Brasil, e principalmente dos Universitários pois além de terem recém vencido um Festival da Música Popular Brasileira, promovido pela TV Record, cantando “A Banda”, tinham a cara e a postura de boa gente.
O tempo passou e muitíssimos anos mais tarde, assisti um
recital de Alaíde, também em Porto Alegre, na “Sala Tom Jobim”, que ficava numa casa anos trinta, na rua Santo Antônio, reformada e transformada em restaurante. E no andar de cima havia uma sala para pequenas apresentações como esta, pequenos grupos de Jazz & Bossa Nova.
Era um local muito agradável, com uma galeria de arte permanente, lançamentos de livros e revistas, um jardim de inverno cheio de plantas e trepadeiras, transformado no que hoje convencionou-se chamar de “Lounge”, onde se podia conversar, beber alguma coisa e dava para sentir o perfume das flores que haviam no jardim externo, que rodeava toda a casa. Damas-da Noite, Jasmim...
Como eu estava com um casal de amigos de Alaíde, depois de uma apresentação emocionante – pois é realmente uma experiência marcante ver esta negra elegante num palco, cantando quase sempre de olhos fechados e de coração escancarado – jantamos alí mesmo e ficamos conversando até alta madrugada.
Fiquei muito bem impressionado com a simpatia dela, com a timidez genuína, com a falta de estrelismo e uma humildade comovente e desconsertante.
A conversa foi sobre assuntos simples, como planos de um novo disco, afazeres domésticos, falou sobre seu problema de audição muito severo – Alaíde perdeu a audição totalmente de um lado e o outro já está bastante comprometido. Falou de filhos, marido, e sobre um par de sapatos que havia comprado naquela tarde para a apresentação da noite.
Alaíde Costa Silveira Mondim Gomide, é carioca e nasceu em 08 de dezembro de 1935, e com somente treze anos vence um concurso de “novas vozes” na Rádio Tupi, e na época o ator Paulo Gracindo elegeu-a como a “Melhor Cantora Infanto Juvenil”.
Após cantar por algum tempo no programa de Ary Barroso e Renato Murce, acabou se profissionalizando em 1956, quando assina um contrato para ser “Crooner” do “Dancing Avenida” – o mesmo local onde pouco antes passaram Elizeth Cardoso e Angela Maria.
Naquele mesmo ano, grava seu primeiro 78 rpm na gravadora “Mocambo”, que tinha uma música de sua autoria chamada “Tens Que Pagar”.
Em 1957, troca de gravadora, vai para a “Odeon” e grava um bolero de nome “Tarde Demais”.
Este disco lhe traz sucesso, popularidade e todos os prêmios de “cantora-revelação” daquele ano; como resultado, a mídia passa a se ocupar desta cantora nova, com voz tão diferente e um jeito muito próprio de cantar...
Excursões, mais gravações e muita capa de revistas como “Radiolândia”, “Música e Letra” e “Revista do Disco”.
Em 1959, João Gilberto aconselha Alaíde a se enturmar com o pessoal da Bossa Nova, pois segundo ele, Alaíde tinha tudo a ver com o novo movimento musical.
Grava então, seu primeiro LP na RCA Victor “Gosto de Você”; e de cara, sai cantando Tom Jobim, Vinícius de Moraes, João Donato, Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli. Este disco tem uma música – “Lobo Bobo”, que virou um hit nacional e hino da moçada da zona sul.
A ebulição estudantil e a proliferação de shows aliados à curiosidade desta nova sonoridade e desse novo jeito de cantar que o Brasil estava digerindo muito bem, levam Alaíde em 1960 para São Paulo , para participar do primeiro “Festival de Bossa Nova, e com Geraldo Vandré comanda por um tempo o programa “No Balanço do Samba” na TV Tupi.
No seu segundo LP, “Alaíde Canta Suavemente”, ela grava músicas que entraram para a nossa história musical: “Dindi”, “Fim de Noite”, “Esquecendo Você” e “Chora Tua Tristeza”.
No final dos anos 60 Alaíde se afasta de suas atividades artísticas, devido a vários problemas pessoais, entre eles o da audição, que estava no início.
Dá um tempo longo na carreira e reaparece em disco somente em 1972, por convite e insistência de Milton Nascimento, para participar como convidade especial do seu “Clube da Esquina”, cantando “Me Deixa em Paz”,disco que já virou um clássico. Retomou aos poucos suas atividades, gravou alguns discos, fêz várias apresentações em teatros pequenos e locais noturnos mais aconchegantes sempre sendo fiel a seu estilo de repertório e maneira de cantar.
Alaíde é uma cantora e uma figura de prestígio; não é daquelas de lotar estádios de futebol com mega-shows... Não, o seu público é aquele menor, mais exigente, que busca a qualidade e a excelência no ofício de cantar.
O mais recente cd dela é “Alaíde Costa & João Carlos Assis Brasil” = só voz e piano...
É um disco elegante pela própria estrutura, refinado pelo repertório de obras e autores como Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Ary Barroso, Lupicínio Rodrigues, Herivelto Martins, Ana Terra e Joyce, por exemplo.
O disco foi produzido por José Milton, um dos mais competentes profissionais do gênero, também responsável pelos melhores discos de outra grande cantora nossa, Nana Caymmi.
@ Noturno
@ Janelas abertas
@ Nova ilusão
@ Essa mulher
@ Pois é
@ Ocultei
@ Nunca
@ Quando tu passas por mim
@ Teus ciúmes
@ Amargura
@ Bom dia
@ Estrada branca
(@) selo “LUA”, 2006.
O produtor José Milton, escreve no encarte:
“Alaíde é uma das grandes referências de canto popular no Brasil. Uma das melhores vozes da MPB, com técnica impecável e uma leitura rara e personalíssima das canções.”
“João Carlos, um piano com sensibilidade e técnica perfeitos, tanto no clássico, como na canção popular, com seus improvisos cheios de criatividade. Um mestre na difícil arte do acompanhamento.”
“Alaíde e João Carlos juntos, tocam os mais profundos sentimentos musicais e se completam de forma perene nessas canções. O resultado não podia ser outro: um disco que certamente fará parte da vida de todos aqueles que gostam de música.”
Sempre que ouço Alaíde, não posso deixar de lembrar daquela madrugada quente e perfumada de Damas-da-Noite e Jasmim...
Naquela época, a efervescência cultural estudantil era mais atuante, mais curiosa, até mesmo diria que mais ativa, pois na esteira da música, também vinha literatura, teatro, e todas as manifestações culturais.
Foi uma tarde inesquecível – pelo menos para mim, pois de uma só vez, pude ver num mesmo palco – além de Alaíde, nada mais nada menos que Nara Leão, Chico Buarque de Hollanda e o pianista e compositor Oscar Castro Neves.
Chico e Nara na época eram os “queridinhos” do Brasil, e principalmente dos Universitários pois além de terem recém vencido um Festival da Música Popular Brasileira, promovido pela TV Record, cantando “A Banda”, tinham a cara e a postura de boa gente.
O tempo passou e muitíssimos anos mais tarde, assisti um
recital de Alaíde, também em Porto Alegre, na “Sala Tom Jobim”, que ficava numa casa anos trinta, na rua Santo Antônio, reformada e transformada em restaurante. E no andar de cima havia uma sala para pequenas apresentações como esta, pequenos grupos de Jazz & Bossa Nova.
Era um local muito agradável, com uma galeria de arte permanente, lançamentos de livros e revistas, um jardim de inverno cheio de plantas e trepadeiras, transformado no que hoje convencionou-se chamar de “Lounge”, onde se podia conversar, beber alguma coisa e dava para sentir o perfume das flores que haviam no jardim externo, que rodeava toda a casa. Damas-da Noite, Jasmim...
Como eu estava com um casal de amigos de Alaíde, depois de uma apresentação emocionante – pois é realmente uma experiência marcante ver esta negra elegante num palco, cantando quase sempre de olhos fechados e de coração escancarado – jantamos alí mesmo e ficamos conversando até alta madrugada.
Fiquei muito bem impressionado com a simpatia dela, com a timidez genuína, com a falta de estrelismo e uma humildade comovente e desconsertante.
A conversa foi sobre assuntos simples, como planos de um novo disco, afazeres domésticos, falou sobre seu problema de audição muito severo – Alaíde perdeu a audição totalmente de um lado e o outro já está bastante comprometido. Falou de filhos, marido, e sobre um par de sapatos que havia comprado naquela tarde para a apresentação da noite.
Alaíde Costa Silveira Mondim Gomide, é carioca e nasceu em 08 de dezembro de 1935, e com somente treze anos vence um concurso de “novas vozes” na Rádio Tupi, e na época o ator Paulo Gracindo elegeu-a como a “Melhor Cantora Infanto Juvenil”.
Após cantar por algum tempo no programa de Ary Barroso e Renato Murce, acabou se profissionalizando em 1956, quando assina um contrato para ser “Crooner” do “Dancing Avenida” – o mesmo local onde pouco antes passaram Elizeth Cardoso e Angela Maria.
Naquele mesmo ano, grava seu primeiro 78 rpm na gravadora “Mocambo”, que tinha uma música de sua autoria chamada “Tens Que Pagar”.
Em 1957, troca de gravadora, vai para a “Odeon” e grava um bolero de nome “Tarde Demais”.
Este disco lhe traz sucesso, popularidade e todos os prêmios de “cantora-revelação” daquele ano; como resultado, a mídia passa a se ocupar desta cantora nova, com voz tão diferente e um jeito muito próprio de cantar...
Excursões, mais gravações e muita capa de revistas como “Radiolândia”, “Música e Letra” e “Revista do Disco”.
Em 1959, João Gilberto aconselha Alaíde a se enturmar com o pessoal da Bossa Nova, pois segundo ele, Alaíde tinha tudo a ver com o novo movimento musical.
Grava então, seu primeiro LP na RCA Victor “Gosto de Você”; e de cara, sai cantando Tom Jobim, Vinícius de Moraes, João Donato, Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli. Este disco tem uma música – “Lobo Bobo”, que virou um hit nacional e hino da moçada da zona sul.
A ebulição estudantil e a proliferação de shows aliados à curiosidade desta nova sonoridade e desse novo jeito de cantar que o Brasil estava digerindo muito bem, levam Alaíde em 1960 para São Paulo , para participar do primeiro “Festival de Bossa Nova, e com Geraldo Vandré comanda por um tempo o programa “No Balanço do Samba” na TV Tupi.
No seu segundo LP, “Alaíde Canta Suavemente”, ela grava músicas que entraram para a nossa história musical: “Dindi”, “Fim de Noite”, “Esquecendo Você” e “Chora Tua Tristeza”.
No final dos anos 60 Alaíde se afasta de suas atividades artísticas, devido a vários problemas pessoais, entre eles o da audição, que estava no início.
Dá um tempo longo na carreira e reaparece em disco somente em 1972, por convite e insistência de Milton Nascimento, para participar como convidade especial do seu “Clube da Esquina”, cantando “Me Deixa em Paz”,disco que já virou um clássico. Retomou aos poucos suas atividades, gravou alguns discos, fêz várias apresentações em teatros pequenos e locais noturnos mais aconchegantes sempre sendo fiel a seu estilo de repertório e maneira de cantar.
Alaíde é uma cantora e uma figura de prestígio; não é daquelas de lotar estádios de futebol com mega-shows... Não, o seu público é aquele menor, mais exigente, que busca a qualidade e a excelência no ofício de cantar.
O mais recente cd dela é “Alaíde Costa & João Carlos Assis Brasil” = só voz e piano...
É um disco elegante pela própria estrutura, refinado pelo repertório de obras e autores como Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Ary Barroso, Lupicínio Rodrigues, Herivelto Martins, Ana Terra e Joyce, por exemplo.
O disco foi produzido por José Milton, um dos mais competentes profissionais do gênero, também responsável pelos melhores discos de outra grande cantora nossa, Nana Caymmi.
@ Noturno
@ Janelas abertas
@ Nova ilusão
@ Essa mulher
@ Pois é
@ Ocultei
@ Nunca
@ Quando tu passas por mim
@ Teus ciúmes
@ Amargura
@ Bom dia
@ Estrada branca
(@) selo “LUA”, 2006.
O produtor José Milton, escreve no encarte:
“Alaíde é uma das grandes referências de canto popular no Brasil. Uma das melhores vozes da MPB, com técnica impecável e uma leitura rara e personalíssima das canções.”
“João Carlos, um piano com sensibilidade e técnica perfeitos, tanto no clássico, como na canção popular, com seus improvisos cheios de criatividade. Um mestre na difícil arte do acompanhamento.”
“Alaíde e João Carlos juntos, tocam os mais profundos sentimentos musicais e se completam de forma perene nessas canções. O resultado não podia ser outro: um disco que certamente fará parte da vida de todos aqueles que gostam de música.”
Sempre que ouço Alaíde, não posso deixar de lembrar daquela madrugada quente e perfumada de Damas-da-Noite e Jasmim...
Um comentário:
Esta eu conheço!
Postar um comentário