SEMPRE MÚSICA . . .

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

[] Jimmy Scott

Portador da "Síndrome de Kallmann", Jimmy Scott tornou-se uma pessoa especial, e mais tarde, um artista especial.

Como resultante desta condição genética, o organismo de Jimmy produzia uma baixa quantidade de testosterona, deixando-o quando criança com um timbre vocal de soprano, afetou o olfato, e seu crescimento não foi igual ao de todo mundo.

Tornou-se um adulto de baixa estatura e compleição franzina, mas isto não o impediu de ser o grande cantor que ainda é nos dias de hoje.

Nascido em 1925, teve uma infância cheia de problemas e privações, filho de pai beberrão e relapso, que passava a maior parte do tempo jogando e bebendo.

Sua mãe dava conta da família com dificuldades o que fez com que Jimmy começasse a ter que ganhar alguns trocados logo cedo para ajudá-la nas despesas de casa.

Seu talento para o canto apareceu na igreja, onde fazia parte do coro. O timbre especial de Jimmy, que era semelhante ao timbre feminino de uma cantora de voz grave, ao mesmo tempo que causava alguma estranheza, fascinava pela musicalidade e pela técnica de emissão de voz que ele logo desenvolveu; as frases musicais longas e com um "vibrato" todo próprio, o que mantém até hoje.

Cantou por um bom tempo com a orquestra de Lionel Hampton, lançou vários discos nas décadas de 40 e 50, mas sua carreira entrou em declínio nos anos 60.

Desiludido, mas resignado, voltou para Chicago e foi trabalhar com ascensorista em um hotel e como enfermeiro no hospital da cidade. Ficou lá esquecido pela maioria do pessoal do "showbizz".

Um ou outro colega insistia para que ele voltasse a cantar e gravar, mas ele recusava; tinha medo de um novo-grande fracasso... sua auto-estima estava bastante fragilizada e ele se sentia quase uma "anomalia".
Até que nos anos 90 depois de muita insistência, apresentou-se no encerramento da série de TV “Twin Peaks” de David Lynch.

Vários colegas ilustres foram fãs de Jimmy Scott, como Sarah Vaughan, Billie Holiday,
Dinah Washington e Ray Charles, que nunca pouparam elogios ao seu domínio de respiração, sua musicalidade e toda a dramaticidade que Jimmy sempre colocou naquilo que canta.

Em 1992 voltou a gravar e lança “All the Way”, um disco elegante, como todos os seus discos, de clássicos americanos.
“Dream” veio em seguida, em 1994, depois “Heaven”, em 1996; e em 1998 ele lança um projeto ousado: grava “Holding Back the Years”, um cd só com músicas “pop”, como é o caso da música título, sucesso mundial do “Simply Red”... o cd tem uma atmosfera nostálgica e jazzy, com bélíssimas canções, quase sussurradas por Jimmy, apoiado por músicos de primeira qualidade.

Em 2000, grava “Mood Indigo”, no ano seguinte,”Over the Rainbow” e mais um cd ao vivo chamado “Unchained Melody”.

Em 2002, “But Beautiful”; “Moonglow” vem logo depois, em 2003 e em 2004 lança um álbum ao vivo gravado em Tóquio.

Apesar de sua idade e da saúde delicada, Jimmy tem uma vida artística bastante ativa.
Participa de inúmeros festivais internacionais de jazz, excursiona com seus próprios shows e continua a gravar; tudo isso como se tivesse apenas 30 anos de idade...


Vive em New Jersey com a mulher, e já é considerado um cantor “cult”, até por seus colegas, e surpreendentemente, por um segmento de gente moça que gosta de jazz e de grandes e definitivas interpretações.

Um comentário:

Otávio disse...

Você sempre “descola” artistas interessantes. Jimmy Scott, com certeza com este timbre de voz e, como você mesmo escreve, esta musicalidade, realmente é um cantor de jazz de respeito.