SEMPRE MÚSICA . . .

terça-feira, 4 de março de 2008

[] Chet Baker [ 1929=1988 ]

Neste ano de 2008 faz vinte anos que morreu de maneira estúpida, quase absurda, aquele que durante décadas foi considerado um músico intimista, sussurrante, confessional, tocando seu trompete famoso, ou cantando com sua voz baixa, suave e sem nenhum arroubo de interpretação.

Esta maneira de tocar e de cantar, fizeram de CHESNEY HENRY BAKER JR. um artista único no seu gênero, deixando uma legião de imitadores. Nome conhecido no mundo inteiro, até mesmo por quem não é tão chegado assim ao jazz & assemelhados...

Em dezembro de 1988, em Amsterdã, na Holanda, Chet Baker despencou do segundo andar do “Prins Hendrick Hotel” por volta das três horas da manhã. A altura de um segundo andar não é tanta assim, mas o problema foi que ao cair, ele bateu com a cabeça num poste de concreto que havia na calçada.

A polícia encerrou o caso e deu como causa provável, “uma queda da janela”; ele teria perdido o equilíbrio ao tentar abrir ou fechar a janela, já que o exame toxicológico encontrou uma quantidade bastante considerável de heroína e cocaína no seu organismo.

A porta do quarto estava trancada por dentro, na mesa a polícia achou mais drogas ainda, mas nada de bilhete, nada de marcas de violência. Pensou-se em suicídio, mas quem será que quer morrer “caindo” de um segundo andar?

Outra especulação foi a possibilidade de uma cobrança de alguma dívida de drogas, pois afinal de contas, era nesta batida que ele vinha, já fazia um tempão...aliás, para poder manter a dependência da heroína, processo que começou ainda nos anos 50, Chet Baker gravava um disco atrás do outro, fazia shows, turnês e tudo mais que desse pra fazer dinheiro, pois obviamente este não é um vício baratinho...

Por conta desta dependência, teve sua vida abreviada e devastada em muitos anos. Lá pela década de 60 já era visível o estrago que a droga estava lhe fazendo. Nesta época ele já parecia ter 20 anos a mais do que tinha na verdade.

Brigas sérias com traficantes e grandes surras por não chegarem a um acordo nas “negociações” e mais alguns pagamentos não feitos por Chet, fizeram com que ele tivesse os dentes da frente quebrados durante uma pauleira dada por “assessores” de grandes fornecedores de droga.

Por esta razão, teve que usar uma prótese e passar um tempo re-aprendendo a tocar, pois os novos dentes interferiam na emissão de som do trompete...

Foi preso algumas vezes, expulso de paises como a Alemanha e Japão, que tem uma legislação bastante severa com relação às drogas, mas uma coisa que impressionava, é que junto com estes problemas todos, o mito Chet Baker ia tomando forma e se fortalecendo com o passar do tempo.Talvez até por isso mesmo. Quem sabe?

De certa maneira, um pouco como Billie Holiday, foi se desenhando em torno dele uma aura de mito, misturada com o papel de mártir vitimado pela dependência de drogas a cada dia que passava.

E não era nenhuma “droguinha” inofensiva, alguma coisa semi-doméstica ou de estudante não, era só coisa braba. Era heroína barra-pesada. Se fossem apenas alguns, mesmo que freqüentes, excessos alcoólicos, nada demais, já que o chamado “mundo artístico” desde que existe, é povoado por alguns “guaranás a mais” e ficaria tudo por isso mesmo...

O seu talento, é inquestionável. Nenhum mito resiste ao tempo se não tiver algo de realmente tangível e concreto. Não sobreviveria só de lendas e “diz-que-me-disse”. Os críticos mais rabugentos e os próprios músicos reconhecem que Chet Baker tinha algo a mais, ao tocar, mesmo sem saber ler partitura.

Era talento, sensibilidade e emoção mesmo. Não estou dizendo com isto, que músico que lê partitura não se emociona. Só estou salientando o fato de Chet não contar com esta “ferramenta” de apoio. Ou ele sentia o que tocava, ou não poderia tocar, pois não sabia ler uma notinha num papel....

E este Chet Baker angustiado, e quase amargurado parecia tão diferente daquele garoto que nasceu numa fazenda, numa cidadezinha chamada Yale, no estado de Oklahoma em 1929...

Chet já ouvia música desde sempre, pois seu pai era guitarrista profissional e fez parte de vários grupos de música country, mas seu contato maior com a música foi quando começou a cantar no coro da igreja e ganhou de seu pai um trombone de presente, que logo foi substituído por um trompete, pois Chet, que tinha apenas 11 anos não podia segurar o trombone.

Abandonou o colégio aos 16 anos para entrar para as forças armadas, pois queria fazer parte da banda. Fica no exército até os 18 anos e depois sai e decide se tornar um músico profissional.

Logo está tocando com músicos como Stan Getz e quando começa a se apresentar com Charlie Parker, fica conhecido, procurado e disputado, pois desde muito jovem, demonstra um domínio e um virtuosismo com seu instrumento que eram pouco comuns, principalmente num jovem da idade dele.

Chet é cultuado no mundo inteiro, seja através de discos raros = e sua discografia é realmente imensa = principalmente no Japão [mais uma vez o Japão] e na Itália, que mesmo que não pareça, tem uma tradição jazzística bastante consistente, com excelentes músicos.

Na cidade de Bologna, na Itália, existe um local noturno sofisticado, que tem o nome de CHET BAKER LIVE JAZZ CLUB, onde se apresentam os melhores músicos de jazz da Itália,e da Europa, com uma programação extensa e variada.

Chet esteve no Brasil em 1985, durante o FREE JAZZ FESTIVAL, para duas apresentações; uma no Hotel Nacional no Rio de Janeiro, e outra em São Paulo, no Maksoud Plaza, que foi um grande sucesso e onde quase que ele morre de uma overdose, pois o médico que o acompanhava estava lhe dando metadona para contornar as crises de abstinência, e Chet “roubou” a maleta de medicamentos e se aplicou uma quantidade grande da substância que o deixou fora do ar. Foi por pouco...

Não se sabe muita coisa da vida pessoal dele, vida familiar, social, essas coisas, e quase não se fala nos três casamentos que ele teve. E, como acontece com os mitos, os dados e as histórias chegam a ser muitas vezes, contraditórias.

Do primeiro, não teve filhos, e do segundo casamento, teve apenas um filho homem. Já no terceiro, teve dois filhos e uma filha.

Passados estes 20 anos de sua morte, ele ainda é lembrado como um grande músico, talentoso sem dúvida, com uma aparência de rapaz tímido, quase inseguro, e que criou uma nova e especial maneira de tocar o trompete e o “flugelhorn’, que é um trompete mais suave e aveludado, com nuances sonoras especiais, e que o italiano chama de “flicorno”.

Chet Baker é ídolo de várias gerações, e freqüentemente é lembrado por gente de todas as idades, que gosta de música. Até os bem jovens já dançaram , namoraram e “ficaram”, ao som de MY FUNNY VALENTINE, como aconteceu no filme “O Talentoso Ripley”, onde o personagem principal , interpretado por Matt Demon, era fã de carteirinha de Chet, colecionava seus discos e cantou esta música num local noturno na trama do filme.

Mas, o que realmente aconteceu na madrugada daquele 23 de dezembro de 1988 em Amsterdã, vai continuar uma incógnita. Como também vai perdurar a arte deste grande músico e intérprete que foi Chesney Henry Baker Jr.

3 comentários:

Otávio disse...

Como você disse que ele é ídolo de varias gerações, acho que não me comprometo se disser que gosto muito dele.

Odilon disse...

É uma pena que uma carreira tenha sido construida para manter o vício e que tenha terminado desta forma estúpida. Este sim era dos bons. Um músico e tanto!

Adriana disse...

Gosto muito de Jazz,este é dos bons!Quanto a resposta a Odilon voce tem cura como eu!