SEMPRE MÚSICA . . .

domingo, 23 de março de 2008

[] Elizeth Cardoso [1920=1990]

Balconista, funcionária de uma fábrica de saponáceo e cabeleireira.

Estas foram algumas das atividades exercidas por Elizeth Maria Moreira Cardoso antes mesmo de completar 16 anos e descoberta pelo músico Jacob do Bandolim, que a convida para um teste na Rádio Guanabara.

E assim, em 1936, Elizeth está cantando no programa “Suburbano”, ao lado de Vicente Celestino, Noel Rosa, Marília Batista e Araci de Almeida.

Filha de um seresteiro, que no início foi contra a “opção” artística da filha, Elizeth foi criada numa família bastante boêmia e musical, cheia de tias e tios que cantavam e tocavam algum instrumento.

Nasceu na Rua Ceará, número 5, no subúrbio de São Francisco Xavier, no estado do Rio de Janeiro, bem pertinho do Morro da Mangueira, em 1920.

Já desde pequena, fazia pequenos shows para a garotada da vizinhança ao preço de 10 tostões, e cantava os sucessos de Vicente Celestino, e agora na Rádio Guanabara, apresentava-se ao lado de seu ídolo...

Casou-se muito cedo, aos 19 anos com Ari Valdez, mas o casamento durou muito pouco e ela se separa grávida ainda do seu único filho, Paulo César Valdez, hoje exímio violonista.

Com a separação, Elizeth fica com o orçamento doméstico apertado, pois naquela época os salários das emissoras de rádio ainda não eram lá essas coisas, e por conta disto, ela trabalhou com Grande Otelo em circos e cinemas, apresentando por mais de 10 anos um número que ficou famoso, “Boneca de Piche”.

Trabalhou também como “táxi-girl”, que são parceiras de dança, que cobram por música dançada. Foi “crooner” de orquestra e chegou a ser grande atração do “Dancing Avenida”, um dos mais famosos da época, no Rio de Janeiro, de 1941 até 1945, quando se muda para São Paulo, onde passa uma boa temporada.

Elizeth foi uma consagrada intérprete do samba-canção, gênero musical que surgiu ainda nos anos 30, que teve em Nora Ney e Dolores Duran suas intérpretes mais representativas.

Inevitavelmente, o samba-canção é sempre comparado ao bolero, pois também exalta o amor romântico, e chora as dores e o sofrimento das paixões acontecidas e não realizadas. Este movimento antecede imediatamente a Bossa Nova, surgida no final dos anos 50.

Em 1958, Elizeth grava um disco que entraria para a
história da nossa MPB, “Canção do Amor Demais”, considerado por muitos críticos musicais como o marco inicial da Bossa Nova, pois além de ser um disco com composições de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, traz um músico que toca um violão com “uma batida diferente” e original: João Gilberto.

No ano seguinte, 1959, Elizeth grava especialmente para o filme [Orfeu do Carnaval] o “Samba de Orfeu” e a mundialmente conhecida e gravada até hoje “Manhã de Carnaval”.

Nos anos 60, comanda alguns programas na televisão, como o famoso “Bossaudade”, que era apresentado em São Paulo pela TV Record.

Em 1965 é a segunda classificada no “I Festival da Música Popular Brasileira”, da TV Record ficando atrás de uma novata Elis Regina, vencedora com “Arrastão”.

Recebe de amigos jornalistas e críticos
musicais, vários apelidos como “A Magnífica”, “A Enluarada” e “Mulata Maior”, mas o que mais ficou associado à sua figura e sua voz, foi “A Divina”, que acompanhou Elizeth por toda a vida.

Somente no Brasil, gravou mais de 40 LP’s e muitos outros mais na Argentina, México, Venezuela, Uruguai e Portugal.

Entre seus grandes amores estão o maestro Dedé, Paulo Rosa e o compositor Evaldo Rui, que em 1954 suicidou-se inexplicavelmente.

A família dele sempre afirmou e insistiu que o romance de Elizeth com ele em nada tinha a ver com o gesto deseperado do compositor.

Quando estava fazendo uma turnê pelo Japão em 1987, os médicos japoneses diagnosticaram um câncer de estômago.
Faz uma cirurgia, mas a doença progrediu e acabou por levar Elizeth três anos depois, em 1990, na clínica “Bambina” no bairro de Botafogo, Rio de Janeiro.

Milhares de fãs
compareceram ao seu velório, no Teatro João Caetano. Foi sepultada ao som de um surdo de sua Escola de Samba do coração, a Portela, no Cemitério da Ordem do Carmo, no bairro carioca do Caju.

Foi para Elizeth Cardoso que Ari Barroso compôs especialmente “É Luxo Só”:

“Olha, esta mulata quando dança,
É luxo só...
Quando todo seu corpo se balança,
É luxo só...”


[@] Veja Elizeth cantando “Ingratidão” , em 1952.

[no filme "É Fogo na Roupa" de Watson Macedo = 1952]

Um comentário:

Lu Oliveira disse...

Olá,
Bacana a postagem!
Abraços,
Lu Oliveira
www.luoliveiraoficial.com.br