De saída devo deixar claro o meu azedume com esta “entidade” meio abstrata chamada “Indústria Fonográfica” simplesmente pela falta de respeito comigo, com você e com todas as pessoas que consomem o produto musical, seja lá em que suporte ou mídia ele chegue ao mercado.
Não tenho nada contra o lucro, em qualquer moeda, nada contra o comércio, e se você pensa que vou aqui fazer um manifesto hippie contra o “capitalismo selvagem” ou contra o “imperialismo das multi nacionais”, sinto muito, mas está enganado. Se for este o caso, pode clicar e sair...
Sou contra, isto sim, quando essa indústria pensa que todos os consumidores são burros, ignorantes, sem opinião própria e totalmente desinformados. E pior, quando tratam a todos nós como tal.
Os exemplos desse descuidado e dessa falta de consideração são muitos. Poucas são as gravadoras que informam no verso da embalagem do cd, quando se trata de uma compilação, qual música foi gravada ao vivo e qual o repertório de estúdio.
E como os discos são lacrados com plástico ou celofane, e não temos onde ouvi-los pois nem todas as lojas dispõem de fones com leitura ótica, só vamos constatar que fizemos uma compra que não queríamos, quando chegamos em casa. Mas aí, Inês é morta...
O nível do volume das gravações varia muito de uma faixa para outra, e a qualidade técnica dessas coisas tipo “o Melhor de Fulano” deixa muito a desejar, quase nunca informando o comprador, das épocas em que as diversas faixas foram gravadas. Geralmente nem sabemos se é uma regravação do próprio artista. Coisa bastante comum um artista regravar um sucesso seu em épocas diferentes e com arranjos também diferentes.
Deveria ser obrigatório , por lei, ter todas estas informações na parte posterior dos discos. E sempre me pergunto ainda, este “O Melhor de Fulano” é o “melhor” na opinião de quem? Do rapaz da gravadora? Da loira peituda da mecanografia? Qual será o critério usado na determinação do padrão qualitativo? E, pior, quando colocam duas ou três músicas mais tocadas, apenas para chamar a atenção e terminam a tal compilação com faixas inexpressivas, quase deconhecidas e de qualidade artística e técnica discutíveis.
Mas o meu desagrado de hoje, é contra este oportunismo burro, cada vez mais explícito e descarado. Quando o artista morre então, nem se fala... a maioria das gravadoras desenterra verdadeiros lixos e sobras de estúdio registradas e rejeitadas pelo defunto quando vivo, cria uma capa chamativa e um texto pra lá de piegas e dão o nome de “ A definitiva obra de Fulano de Tal”, ou “Beltrano para Sempre”, “ O Disco de Ouro de Sicrano” e assim por diante, banalizando de maneira absurda, muitas vezes, décadas de uma carreira.
Com as comemorações dos 50 anos da Bossa Nova encontra-se no mercado e nas tais “boas lojas do ramo”, megas e nem tão megas assim, exemplos muito claros do que estou falando.
Saiu do limbo uma quantidade infinita de cantores, orquestras e discos com a justificativa oficial do cinqüentenário do movimento-exaltação do “barquinho e da flor”. Tudo bem se houvesse mais critério nestes relançamentos. Maravilha..., mas não é.
Muitos artistas - alguns já mortos – que cantavam no final dos anos ’50 acompanhados de violão e pandeiro alguma e qualquer composição obscura de Tom Jobim ou Vinicius de Moraes receberam uma vestimenta “cult” de “As origens do Movimento”. É bom ter em mente que nem Tom nem Vinícius começaram sua produção artística com “Sabiá” nem com “Eu Sei que vou Te Amar”. Fica evidente a tentativa da indústria fonográfica em querer que acreditemos que aquele disco alí, reembalado e com uma etiqueta adesiva chamando a atenção, seja um disco de bossa nova, só porque foi gravado na mesma época em que o movimento nascia e se desenvolvia.
Ontem vi numa grande loja, em local de destaque um relançamento daquele disco duplo de Gal Costa, gravado ao vivo em ’98, cantando composições de Tom Jobim.
O disco na minha opinião é muito bom, comprei na época pois ali estão reunidos alguns dos clássicos eternos de Jobim, interpretados por uma Gal Gosta em excelente forma vocal, mas num momento delicado do ponto de vista mercadológico.
Acontece que sabidamente este disco vendeu muito menos do que se esperava, tanto é que a maioria das lojas rapidinho o colou em liquidação a R$ 12,00... isto mesmo, doze reais ! e você encontrava quantos quisesse e em qualquer loja. O comércio levou um bom tempo até se desfazer do encalhe musical-chique.
Mas o que me chamou a atenção foi o preço deste relançamento: R$ 45,00, com uma capa nova, em papelão, mais robusta, mais sarada. Aí fiquei me perguntando o porquê desta ressurreição tão enfática, tão veemente, como se este disco tivesse sido algum best seller. Não, não foi, nem na época da primeira prensagem, pelo contrário, foi decepcionante no quesito comercial. Fica parecendo que qualquer disco que "lembre" bossa nova ou que tenha a participação de algum músico contemporâneo do movimento, tem de ser caro, e ser tratado com um status diferente...
Aí, fiquei pensando em outros exemplos paralelos e semelhantes nas intenções. O que tem de disco relançado de Maysa, é impressionante. Alaíde Costa está presente em todos os escaninhos de letra “A” nas sessões de MPB de qualquer loja. O mesmo acontece com Johnny Alf, e Leny Andrade. Até Maria Creuza, as gravadoras foram bucar sabe-se lá onde, para comparecer nas prateleiras às homenagens aos 50 anos da Bossa Nova...
Quando estas comemorações começaram, as grandes lojas foram inundadas com relançamentos de discos raros e alguns gravados no exterior de Tom Jobim, quase a preços de disco importado e o que se vê agora, são vários deles com preços a menos da metade, quietinhos, paradinhos na prateleira sem ninguém levar... Além disso, acho que a maioria das lojas são de um otimismo exagerado quando projetam suas compras; até parece que as pessoas vão fazer filas e trocar tapas disputando um cd...foi-se o tempo...
Numa época em que o “download” está acessível a qualquer adolescente e você adquire legalmente uma música na internet por menos de R$ 2,00, em casa, tranqüilamente tendo ouvido antes para ver se gosta, e fazer a sua seleção musical, as lojas tradicionais deveriam treinar melhor seus atendentes, pois o desconhecimento da maioria é constrangedor. Com raras e louváveis exceções.
Assim, forma-se um círculo vicioso: as lojas compram uma quantidade enorme do que acham que vai ser vendido, e compram de menos o que realmente precisava. O gosto e o comportamento do consumidor está mudando rapidamente e muitas vezes de maneira drástica. O mais recente cd de Maria Rita, ”Samba Meu” que foi lançado em setembro’2007 com estardalhaço e a mais de R$ 35,00, pode ser encontrado hoje por menos de R$ 15,00...
Justamente por isso, acho que as lojas deveriam conhecer melhor o que vendem, para assim poder seduzir mais facilmente o cliente, ter uma visão mais atual e moderna da cena musical, e um termômetro virtual, para vislumbrar mais a fundo o túnel para onde vai a música, medir a temperatura com maior freqüência e principalmente, saber como anda o gosto de quem a consome. Sei que a tarefa não é fácil, mas é necessária.
Quem me conhece, sabe muito bem que gosto de música, sou admirador da Bossa Nova tanto do ponto de vista musical, quanto comportamental. Gosto de quase todo mundo que iniciou este movimento, e nem vou citar nomes pois sabidamente a lista é grande.Só não gosto do que a indústria do disco faz com eles, e conosco. Não tenho nada contra o lucro, em qualquer moeda, nada contra o comércio, e se você pensa que vou aqui fazer um manifesto hippie contra o “capitalismo selvagem” ou contra o “imperialismo das multi nacionais”, sinto muito, mas está enganado. Se for este o caso, pode clicar e sair...
Sou contra, isto sim, quando essa indústria pensa que todos os consumidores são burros, ignorantes, sem opinião própria e totalmente desinformados. E pior, quando tratam a todos nós como tal.
Os exemplos desse descuidado e dessa falta de consideração são muitos. Poucas são as gravadoras que informam no verso da embalagem do cd, quando se trata de uma compilação, qual música foi gravada ao vivo e qual o repertório de estúdio.
E como os discos são lacrados com plástico ou celofane, e não temos onde ouvi-los pois nem todas as lojas dispõem de fones com leitura ótica, só vamos constatar que fizemos uma compra que não queríamos, quando chegamos em casa. Mas aí, Inês é morta...
O nível do volume das gravações varia muito de uma faixa para outra, e a qualidade técnica dessas coisas tipo “o Melhor de Fulano” deixa muito a desejar, quase nunca informando o comprador, das épocas em que as diversas faixas foram gravadas. Geralmente nem sabemos se é uma regravação do próprio artista. Coisa bastante comum um artista regravar um sucesso seu em épocas diferentes e com arranjos também diferentes.
Deveria ser obrigatório , por lei, ter todas estas informações na parte posterior dos discos. E sempre me pergunto ainda, este “O Melhor de Fulano” é o “melhor” na opinião de quem? Do rapaz da gravadora? Da loira peituda da mecanografia? Qual será o critério usado na determinação do padrão qualitativo? E, pior, quando colocam duas ou três músicas mais tocadas, apenas para chamar a atenção e terminam a tal compilação com faixas inexpressivas, quase deconhecidas e de qualidade artística e técnica discutíveis.
Mas o meu desagrado de hoje, é contra este oportunismo burro, cada vez mais explícito e descarado. Quando o artista morre então, nem se fala... a maioria das gravadoras desenterra verdadeiros lixos e sobras de estúdio registradas e rejeitadas pelo defunto quando vivo, cria uma capa chamativa e um texto pra lá de piegas e dão o nome de “ A definitiva obra de Fulano de Tal”, ou “Beltrano para Sempre”, “ O Disco de Ouro de Sicrano” e assim por diante, banalizando de maneira absurda, muitas vezes, décadas de uma carreira.
Com as comemorações dos 50 anos da Bossa Nova encontra-se no mercado e nas tais “boas lojas do ramo”, megas e nem tão megas assim, exemplos muito claros do que estou falando.
Saiu do limbo uma quantidade infinita de cantores, orquestras e discos com a justificativa oficial do cinqüentenário do movimento-exaltação do “barquinho e da flor”. Tudo bem se houvesse mais critério nestes relançamentos. Maravilha..., mas não é.
Muitos artistas - alguns já mortos – que cantavam no final dos anos ’50 acompanhados de violão e pandeiro alguma e qualquer composição obscura de Tom Jobim ou Vinicius de Moraes receberam uma vestimenta “cult” de “As origens do Movimento”. É bom ter em mente que nem Tom nem Vinícius começaram sua produção artística com “Sabiá” nem com “Eu Sei que vou Te Amar”. Fica evidente a tentativa da indústria fonográfica em querer que acreditemos que aquele disco alí, reembalado e com uma etiqueta adesiva chamando a atenção, seja um disco de bossa nova, só porque foi gravado na mesma época em que o movimento nascia e se desenvolvia.
Ontem vi numa grande loja, em local de destaque um relançamento daquele disco duplo de Gal Costa, gravado ao vivo em ’98, cantando composições de Tom Jobim.
O disco na minha opinião é muito bom, comprei na época pois ali estão reunidos alguns dos clássicos eternos de Jobim, interpretados por uma Gal Gosta em excelente forma vocal, mas num momento delicado do ponto de vista mercadológico.
Acontece que sabidamente este disco vendeu muito menos do que se esperava, tanto é que a maioria das lojas rapidinho o colou em liquidação a R$ 12,00... isto mesmo, doze reais ! e você encontrava quantos quisesse e em qualquer loja. O comércio levou um bom tempo até se desfazer do encalhe musical-chique.
Mas o que me chamou a atenção foi o preço deste relançamento: R$ 45,00, com uma capa nova, em papelão, mais robusta, mais sarada. Aí fiquei me perguntando o porquê desta ressurreição tão enfática, tão veemente, como se este disco tivesse sido algum best seller. Não, não foi, nem na época da primeira prensagem, pelo contrário, foi decepcionante no quesito comercial. Fica parecendo que qualquer disco que "lembre" bossa nova ou que tenha a participação de algum músico contemporâneo do movimento, tem de ser caro, e ser tratado com um status diferente...
Aí, fiquei pensando em outros exemplos paralelos e semelhantes nas intenções. O que tem de disco relançado de Maysa, é impressionante. Alaíde Costa está presente em todos os escaninhos de letra “A” nas sessões de MPB de qualquer loja. O mesmo acontece com Johnny Alf, e Leny Andrade. Até Maria Creuza, as gravadoras foram bucar sabe-se lá onde, para comparecer nas prateleiras às homenagens aos 50 anos da Bossa Nova...
Quando estas comemorações começaram, as grandes lojas foram inundadas com relançamentos de discos raros e alguns gravados no exterior de Tom Jobim, quase a preços de disco importado e o que se vê agora, são vários deles com preços a menos da metade, quietinhos, paradinhos na prateleira sem ninguém levar... Além disso, acho que a maioria das lojas são de um otimismo exagerado quando projetam suas compras; até parece que as pessoas vão fazer filas e trocar tapas disputando um cd...foi-se o tempo...
Numa época em que o “download” está acessível a qualquer adolescente e você adquire legalmente uma música na internet por menos de R$ 2,00, em casa, tranqüilamente tendo ouvido antes para ver se gosta, e fazer a sua seleção musical, as lojas tradicionais deveriam treinar melhor seus atendentes, pois o desconhecimento da maioria é constrangedor. Com raras e louváveis exceções.
Assim, forma-se um círculo vicioso: as lojas compram uma quantidade enorme do que acham que vai ser vendido, e compram de menos o que realmente precisava. O gosto e o comportamento do consumidor está mudando rapidamente e muitas vezes de maneira drástica. O mais recente cd de Maria Rita, ”Samba Meu” que foi lançado em setembro’2007 com estardalhaço e a mais de R$ 35,00, pode ser encontrado hoje por menos de R$ 15,00...
Justamente por isso, acho que as lojas deveriam conhecer melhor o que vendem, para assim poder seduzir mais facilmente o cliente, ter uma visão mais atual e moderna da cena musical, e um termômetro virtual, para vislumbrar mais a fundo o túnel para onde vai a música, medir a temperatura com maior freqüência e principalmente, saber como anda o gosto de quem a consome. Sei que a tarefa não é fácil, mas é necessária.
Nós não somos o Jeca Tatú.
2 comentários:
Boa retrospectiva!Os modelitos ficaram muito lighty
Os atravessadores e aproveitadores existem em todoas as atividades. Desabafos como o seu podem contribuir para uma melhora... Vamos lá
Nós não somos Jeca Tatú - bom mote para uma campanha mais ampla.
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