SEMPRE MÚSICA . . .

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

[] Adriana: Ritmo, Melodia & Poesia

As letras de seu mais recente disco, “Maré”, são de poetas brasileiros como Antônio Cícero, irmão e parceiro de Marina Lima, Arnaldo Antunes, ex-Titãs, Waly Salomão, Augusto de Campos e Ferreira Gullar, que diz haver poesia porque a vida não basta.

“Completamente de acordo. Também disse Eliot,[1] que o poeta escreve para livrar-se das emoções. Aí, o problema passa a ser do outro”, comenta a cantora, rindo.

Adriana Cancanhotto gosta de Joan Brossa.[2]
“Existem muitos poemas sem poesia, e ele por sua vez, tem muita poesia em coisas que se chamam poemas visuais, só porque precisam ser chamados por um nome. Sua obra é violenta, ao mesmo tempo delicada e cheia de humor”.

Terça-Feira inaugurou em Madri o Festival Únicas; ontem cantou no Tenerife, hoje se apresenta em Girona e amanhã, cantará no “Palau de La Musica” em Barcelona.

“Maré”, co-produzido por Arto Lindsay,
obviamente está ligado ao mar. “Me fascina o mar, esse mar da literatura e das canções, o mar como metáfora da condição humana”, explica.

Quando gravou há dez anos atrás “Marítimo”, não pensava em termos de trilogia. “Apenas gravei e ponto. Mas quando me dei conta de que as músicas que eu ia gostando pelo caminho continuavam sendo “marítimas”, decidi assumir a idéia da trilogia. Porém, não haverá um terceiro, necessariamente”.

Adriana busca a simplicidade. “Minha meta é chegar ao essencial, eliminando os excessos, refinando até ficar somente com o que é essencial. Leva tempo e dá muito trabalho, porém é divertido porque é um processos, e os processos sempre me interessam”.

Na música brasileira está havendo um trânsito livre entre estilos, e já não tem mais movimentos tão definidos como Bossa Nova ou Tropicalismo. “Gosto que seja assim com as etapas de produção e poder fazer o disco com o computador doméstico e as pessoas trabalhando mais isoladas”, disse.

“Alguns anos atrás, recebia material de cantores e compositores, em que se via nitidamente as influências alheias... agora, já nem tanto, pois hoje os músicos jovens querem ser eles mesmos, ter uma identidade própria. Creio que essa mudança tão rápida tenha a ver com a Internet. As pessoas agora escutam o que querem”.

Acaba de publicar no Brasil “Saga Lusa”, um livro onde conta as desventuras de uma “bad-trip” medicamentosa. “Estava excursionando em Portugal e no segundo concerto estava me sentindo muito mal e com muita febre”.

“Um médico disse uma coisa, outro médico disse outra, tomei o que me receitaram e o resultado foi que passei cinco noites sem dormir, com alucinações e delírios”.

“Fiquei escrevendo no notebook para sobreviver, e foi o que me salvou... estava com o violão do lado, mas nem cheguei perto dele”.

“Compreendo alguém que nesta situação se desespere e se jogue pela janela, porque não podemos controlar a mente”.

Com o heterônimo de Adriana Partimpim, gravou em 2004 um disco bem interessante para crianças. Quando pequena, ainda em Porto Alegre, escutava com seus pais Chet Baker, Miles Davis e Piazzolla e ficava horrorizada com as canções infantis.

“Não entendo porque tratam as crianças como se elas fossem idiotas e burras. As crianças são transparentes, dizem o que pensam. Não têm as coisas tão rígidas e estabelecidas”.

“Tudo pode ser. E isso não é pouco”.


[1] Thomas Sterns Eliot [1888=1965] poeta modernista, dramaturgo e crítico literário americano; ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1948.

[2] Joan Brossa [1919=1998] poeta, dramaturgo, artista plástico e artista gráfico catalão, nascido em Barcelona.

@ fonte: “El País”, caderno de cultura, Carlos Galilea, 06/11/2008.

@ foto de Adriana : Bernardo Perez


@ artwork : roberto bezz

Um comentário:

Adriana disse...

Toda Adriana é competente....huhuhu!!