SEMPRE MÚSICA . . .

domingo, 20 de abril de 2008

[] Doris Monteiro [1934]

Quase 60 anos de carreira, esta carioca filha de um casal de portugueses começou a cantar nas emissoras de rádio do Rio de Janeiro em 1949, quando venceu um concurso de calouros, “Papel Carbono”, de Renato Murce; popular, famoso e muito procurado por todos aqueles que desejavam virar artistas...

Como o nome do programa sugere, vence aquele que melhor “copiar” seu ídolo... mas como Adelina Doris Monteiro não tinha nenhuma cantora brasileira que ela se inspirasse para “copiar”, resolveu cantar um sucesso de uma francesa, Lucienne Lillis, que naquela época fazia muito sucesso com a música “Bolero”.

Pois foi esta interpretação de Doris que a tornou vencedora do concurso; além do mais as cantoras brasileiras da época tinham vozes fortes, expansivas e exuberantes e sendo assim, sua voz caia melhor numa canção francesa, mais intimista, mais de acordo com sua figura, magra, muito bonita e com uma imensa trança por cima de um dos ombros...

Fora isto, seu “repertório” de caloura era na maioria composto de fados e canções portuguesas, já que era o que se ouvia na sua casa.

Doris nasceu em 1934, e no final dos anos ’40, morava em Copacabana, na rua Clemente de Mendonça, onde seu pai era porteiro de um prédio, e sua mãe, fazia faxina em alguns apartamentos.

Estudava no Colégio D.Pedro II e de vez em quando, ajudava sua mãe nas faxinas... e numa tarde ela enquanto trabalhava, cantou “Caminhemos”, de Herivelto Martins, e a vizinha da porta ao lado ficou encantada com aquela voz tão suave cantando uma música dramática daquele jeito.

Chamou dona Ana, mãe de Doris e disse que aquela menina era pra estar cantando no rádio... Doris se animou toda e como tinha um vizinho que era um cantor bastante popular na época, Alcides Gerardi, Doris não sossegou enquanto não conseguiu um teste na emissora de rádio onde ele cantava... E foi assim que tudo começou.

Grava seu primeiro disco, um 78 rpm pela “Todamérica” com a música “Se Você Se Importasse”, que foi um sucesso praticamente imediato, pois o público adorou aquela voz frágil, suave e melódica, que era o oposto do padrão de nossas cantoras.

Nesta época Doris cantava no rádio e em boates, sempre acompanhada de sua mãe, como uma sombra, de olhos atentos e munida de um alvará do juizado de menores...

Começou ao mesmo tempo a fazer cinema e estrelou “Agulha no Palheiro”. Acabou fazendo mais 8 filmes... Em 1952 é eleita “Rainha dos Cadetes” e consagração suprema, “Rainha do Rádio” em 1956, ano em que grava de Billy Blanco um dos seus maiores sucessos, que atravessou décadas: “Mocinho Bonito”.

Quando a Bossa Nova chegou, no final dos anos ’50, Doris já tinha uma voz e um estilo de cantar que caiam como uma luva para a novidade, e além disso, foi quem primeiro gravou uma composição de Dolores Duran.

Cantou samba-canção, sambas, sambinhas, bossa nova, imprimindo em tudo o que cantasse, uma marca registrada, o “estilo Doris Monteiro”.

Turnês pelos Cassinos de Punta Del Este no Uruguai, Lisboa e Coimbra em Portugal, e várias cidade do Japão.

Fica bastante aborrecida com a falta de preservação da nossa cultura musical e conta que com freqüência encontra alguém pela rua ou algum restaurante que diz: “Puxa, Doris, que bom te encontrar, que saudade de te ouvir cantando...procuro seus discos e não acho nas lojas...”

E realmente é assim... fora do Brasil eles são reeditados, como aconteceu recentemente na Austrália, Holanda, Portugal e claro, Japão.

E Doris continua: “É por isso que eu implico com o Brasil...tem gente que diz: Ah, Doris, você não é patriota...Realmente não sou, não tenho motivos! Aqui nada funciona...”

Hoje em dia, continua cantando, com uma agenda mais folgada do que gostaria, mas é bem humorada, tranqüila, e adora jogar cartas com as amigas todas as terças-feiras, com a partida valendo R$ 0,50... só para estimular, diz.

Também adora futebol, é vascaína doente e sabe tudo da política interna dos cartolas do seu clube. Continua uma mulher muito bonita, classuda, que envelheceu muitíssimo bem, passando muito longe da vulgaride e dos modismos em busca da tal juventude, que é tão volátil...

Somente agora em 2004, quando comemorou 70 anos de idade, Doris ganhou de presente de sua gravadora EMI e Universal, a reedição em cd de 12 de seus melhores LP’s.


Pelo menos, isso...

[@] Veja Doris cantando... basta clicar aqui ! []

Um comentário:

Adriana disse...

Infelizmente os bons profissionais são reconhecidos um pouco tarde.