De cara devo dizer que nunca tive muita simpatia por críticas escritas em jornais, sobre cultura em geral, especialmente música e as chamadas artes visuais.
Explico. Os tais críticos fazem verdadeiras viagens no texto que escrevem sobre um lançamento em cinema ou DVD, sobre o mais recente disco de Fulano de Tal, ou ainda, sobre uma mostra de pinturas, gravuras ou esculturas ou até mesmo das “instalações” de Beltrano.
Já ouvi muito, muita gente comentar com um certo ar de desdém que o filme tal era até bem interessante, mas somente até a metade, pois a partir daí, o diretor “se perdeu”. Por acaso esta pessoa que comentou é amiga do diretor e sabia das intenções dele para com o filme? Não passa pela cabeça , que talvez a direção e o resultado desejado fossem exatamente estes? Acho uma boa pergunta, sim. O público gostar ou não, é uma outra história, mas dizer que o diretor "se perdeu" é sempre, no mínimo, pretensioso.
Em relação às artes visuais, o delírio aumenta. Começam a traçando perfis psicológicos do autor e da obra, na maioria das vezes, usando expressões batidas e surradas de livros que parecem ser do primeiro semestre de algum curso superior de qualidade duvidosa. E geralmente o resultado final fica parecendo com um laudo psicotécnico elaborado por algum psicólogo de arrabalde.
No campo musical, some-se a isto os modismos...
“Em seu último trabalho, Fulano “revisita” a obra de Cartola, “resgatando pérolas” esquecidas do compositor... com novos arranjos, que “remetem ” ...”
“No show, que acontece no Teatro Musical, ali no "entorno" do Parque das Acácias, Sicrano está bem à vontade e entre uma música e outra, “interage” com o publico”...
Os termos grifados estão no vocabulário atual do pessoal que fala e escreve no jornal, revista e televisão... Virou uma verdadeira praga a falta de imaginação. Lembram da época do “lúdico”, quando todo mundo procurava ansioso o “aspecto lúdico” das coisas? Em qualquer entrevista, os atores falavam da importância do “aspecto lúdico” da peça que estavam ensaiando...
É claro que eu sei que a linguagem tanto escrita como falada, é itinerante, mutável e vai se deslocando com o tempo, mas o que acho curioso, é que parece existir uma comissão de técnicos em lingüística, que determina quais os termos do vocabulário que serão moda no próximo verão, assim como perfumes, comprimento das saias, largura das gravatas, cor de esmalte e assim por diante.
Aí, não posso deixar de achar sem graça e um tanto desinteressante, o fato de todo mundo falar igual, escrever igual, suspirar igual e ter a opinião igual ao colunista da hora e da "tribo" da vez. Tem-se a impressão, muitas vezes, de que os diversos textos, artigos ou coisas que os valham, até foram escritos pela mesma pessoa ou pela mesma equipe, sob a supervisão severa de alguém da moda...
Onde foram parar o estilo pessoal, próprio, facilmente reconhecível por qualquer leitor de memória razoável?
Mas esta é apenas minha opinião, como leitor e observador de algumas coisas. Não sou jornalista nem colunista de nada. Apenas faço parte desta ciranda moderna, que tem um nome bem da moda: BLO-GOS-FE-RA !... que tal ?
Apenas uma pessoa que lê, ouve e sente falta do tempo em que os tais “manuais de redação e estilo” dos meios de comunicação não pasteurizavam tanto as matérias escritas ou faladas e deixavam seus autores terem mais personalidade e liberdade de expressão.
[ilustração // "I and the village", Marc Chagall]
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
[] Maria Vai Com As Outras
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2 comentários:
Roberto, usei uma frase de uma entrevista da Billie Holiday que você postou em 2007, mas fiz referência ao seu blog como fonte.
Abraços.
Está muito bem observado. É isso mesmo. E olha acho que a tal blogosfera com todos os seus defeitos a começar pelo nome da moda contribui muito mais para uma visão critica e criativa da arte do que a critica oficial estagnada por artifícios e esquecendo-se para quem escrevem.
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