SEMPRE MÚSICA . . .

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

[] "O Tango Nasceu Graças Também à Itália"

Esta afirmação é de Carlos Villalba, diretor artístico de um festival itinerante de Tango que está acontecendo no “Auditorium” em Roma. Acabei de ler o artigo da jornalista Manuela Pelati, publicado no jornal italiano “Corriere Della Sera”, edição do dia 11/09/2008.

E como achei particularmente interessante, transcrevo trechos da matéria:

Carlos Villalba trouxe Buenos Aires para Roma, para apresentar a cultura do tango à cidade eterna e teve uma forte sensação de fazer parte da atmosfera italiana.

“Às vezes, caminhando pelas ruas de Roma, me parecia estar ouvindo o castelhano de Buenos Aires”, diz Villalba, embevecido com a similaridade dos dois povos espalhada no ar...

O festival, que iniciou dia 05/09 e vai até 18/09, tem a oferecer uma série de concertos, lições de tango grátis para quem quiser, além de exposições fotográficas e um salão de baile a céu aberto.

As músicas que a cantora Adriana Varela mostrou no palco da sala “Sinopoli”, esquentou o coração de todos os presentes, a ponto de voltar à cena várias vezes para “bis”, sob fortes aplausos.

Adriana Varela tem uma avó italiana e chegar até aqui, é como viver aquele desejo guardado por gerações, de voltar para casa... O sentimento de nostalgia e melancolia tão forte no tango está ligado a história da imigração, pois quem chegava numa nova terra, pensava em ficar só por um tempo, para depois voltar para casa...

Mais de um milhão de italianos foram para Buenos Aires no início do século XX, e muitos deles contribuíram para a invenção do tango.

“A metade do peso cultural do tango, é italiana
. E isto, é muita coisa. Basta citar o nome dos maiores compositores musicais dos primeiros anos de 1900, até a idade de ouro, nos anos ’30 e ’40: Annibal Troilo, Juan D’Arienzo, Osvaldo Pugliesi, Francisco De Caro – apenas para citar alguns – são todos filhos de italianos.

O próprio Astor Piazzolla, tinha seu pai nascido na região da Toscana...”

“Primeiramente, se tocava com flauta, violão e violino, mas depois, a certa altura, apareceu o bandoneon, inventado por um alemão chamado Heinrich Band. Este instrumento é o que mais caracteriza a identidade do tango argentino e foi levado para lá com a imigração alemã”.

É um instrumento muito difícil de ser tocado, pois o músico tem de dividir o cérebro em quatro partes, já que precisa raciocinar em quatro escalas diferentes... por isso é que se diz que o músico que toca bandoneon, é um pouco maluco”

“Com o bandoneon, está formada a “orquestra de tango”, e uma das maiores contribuições quem deu foi Francisco De Caro, filho de um compositor do Conservatório de Milão... Eram os anos ’20 e De Caro renova o tango, apagando todas as conotações com casas fechadas, duvidosas e de sub mundo, e levando-o aos salões elegantes e refinados da época”.

“Naquele tempo, o tango não era uma dança profissional, tinha o caráter apenas social. Ninguém dançava bem... depois, nos anos ’20, graças também aos salões de Paris, o tango tomou novas dimensões e passou a ser visto e sentido de outra maneira”.

Neste festival de Roma, recriei tanto a atmosfera social da época, quanto a atmosfera de hoje... Na “milonga”, que é o local onde se dança, as pessoas vão também para beber e conversar, mas sem jamais esquecer que “fazer festa” significa principalmente, “dançar”.

“Em Buenos Aires o sentimento mágico da milonga transforma as pessoas... por exemplo, um homem mais velho é sempre uma pessoa importante no salão, porque geralmente tem experiência e portanto, estilo e elegância”.

“É um local onde os valores mudam... uma pessoa gorda pode ser um exímio dançarino, e uma mulher bonita pode preferi-lo a um homem simplesmente mais jovem e bonito... são outros os códigos”.

“Aqui no “Auditorium” se pode “viver” o tango; assistir aos espetáculos, ter lições de dança, ver um filme, beber qualquer coisa no bar e falar com os amigos... não sei se isto ajuda a entender a cultura, pois depende de cada pessoa, do quanto ela está aberta às coisas e do quanto ela é culta”.

“Roma e Buenos Aires têm a mesma mistura de coisas positivas e negativas. Além disso, Roma é uma cidade símbolo de passado, de cultura e de toda a história da humanidade... este é um dos motivos pelos quais o romano se sente um pouco orgulhoso e superior”.

“O mesmo acontece com os argentinos.
Sentindo-se europeus e respaldados por um passado cultural, têm o ego muito forte. Além disso, aqui em Roma existe esta maneira de se levar o dia a dia com mil pequenas dificuldades, do mesmo modo que os argentinos superam os obstáculos”.

“Mas no fundo, é justamente isto que nos ajuda a todos – italianos e argentinos – a sermos alegres a cada dia...”.



[todas as ilustrações são de Juarez Machado]




2 comentários:

Odilon disse...

Desta vez os elogios vão para as ilustrações. Não que o texto tenha algo a dever a elas, mas estão simplesmente lindas e muito apropriadas. Dá vontade de criar um texto só para roubá-las. Quem sabe....

Adriana disse...

Passe pelos Tres Marias queremos saber seu gosto musical