Foi então que trocando idéias com um empresário, pensaram em organizar um festival de música... Sim, claro, por que não? A Itália tem uma tradição tão musical, San Remo está localizada na província de Imperia, Região da Ligúria, além de ser conhecida como a Cidade das Flores... cenário mais sedutor quase impossível.
Balneário sofisticado, San Remo tem ao norte as regiões de Piemonte e Emília Romagna; ao sul, o Mar Lígure, a leste, a região da Toscana e a oeste, a França bem na região da Provence, dos Alpes e da Côte d’Azur.
San Remo tem 50.524 habitantes, 54 km2 e menos de mil habitantes por km2...
Conta a lenda, que no início seu nome era Matuzia, em homenagem a um nobre excêntrico e rico que lá construiu sua casa, Caio Matuzio; mas a voz do povo afirma com veemência que o nome da cidade era um louvor à deusa Matuzia, deusa dos mares e da aurora, quando era apenas mais uma das inúmeras aldeias de pescadores e nem sonhava em se tornar este pólo turístico e comercial, bem ao lado de Gênova, capital da Ligúria.
Foi então que, acertadas as bases e algumas poucas regras , resolveram fazer uma experiência e no final de janeiro de 1951, auge do inverno, aconteceu no Cassino de San Remo, que foi construído em 1905, o “Primeiro Festival da Canção Italiana”, que o tempo se encarregou de rebatiza-lo de “Festival de San Remo”.
Era um festival um tanto ingênuo, com poucos participantes; tanto é que cada participante poderia concorrer com mais de uma música, já que estavam começando e o interesse pelo evento ainda era incipiente. Mas serviu de imediato aos objetivos do cassino, que era movimentar as noites de inverno, com algo mais que roletas, jantares e bebidas.
Queriam mais sofisticação, mais roupas de gala, mais jóias, peles e perfumes. E estavam conseguindo...
Até 1955 o festival era transmitido somente pelo rádio, pois a televisão ainda não tinha chegado na Itália. Neste ano de estréia do festival, a vencedora foi Nilla Pizzi, com a música “Grazie dei Fiori”.
Ano seguinte, ela novamente ganha com “Vola Colomba”, música que alguns anos mais tarde seria gravada por uma cantora brasileira chamada Silvana... “Voa, pombinha, voa...” Alguém lembra?
Nilla Pizzi foi a desbravadora do festival, e na época era uma cantora italiana bastante querida e popular. Para se ter uma idéia de como a coisa era, houve um ano em que Nilla ganhou o primeiro, o segundo e o terceiro lugar, já que os artistas inscritos eram em número menor que as músicas selecionadas para concorrer...
Com todos os altos e baixos, mudanças de regras, brigas entre apresentadores e patrocinadores, o festival continua firme e forte, é um evento aguardado por compositores, músicos e intérpretes.E pelo público, que adora votar na sua música favorita, diretamente pelo celular, de casa ou de onde estiver, até da cantina ou pizzaria com a família ou amigos...
O Festival de San Remo atingiu aquele patamar acima do bem e do mal, como acontece com a festa do Oscar. Quase todo mundo fala mal, chama de brega, de cafona, de superado, mas quase todo mundo assiste, opina, concorda e discorda. Até faz apostas...
Tanto é assim, que ele se repete anualmente, sem interrupções desde aquele longínquo janeiro de 1951. Para os intérpretes isto é muito bom, pois é uma grande e bela vitrine.
Houve um tempo em que artistas estrangeiros podiam concorrer em dupla com o intérprete italiano, como aconteceu com nosso Roberto Carlos e o italiano Sérgio Endrigo, autor da música, quando defenderam e ganharam, em 1968, “Canzone Per Te”.
San Remo já recebeu concorrentes e intérpretes famosos como Dionne Warwick, Gene Pitney, Steve Wonder, Louis Armstrong, Shirley Bassey, Eartha Kitt, Paul Anka e Sacha Distel, apenas para citar alguns.
Além do mais, foi lá que foram lançadas para o mundo algumas músicas italianas eternas, como o grande sucesso de Domenico Modugno “Nel Blu Dipinto di Blu”, que venceu em 1958,e que o mundo se encarregou de chamar simplesmente de “Volare”.
Ano seguinte, o mesmo Modugno ganha o festival com “Piove” ou “Ciao, Ciao, Bambina”, como preferirmos.
O mesmo aconteceu com “Se Piangi, Se Ridi”, “Uma Casa In Cima Al Mondo”, “Zingara”, Non Pensare a Me” . E Modugno novamente dá de presente ao mundo talvez uma das mais populares canções românticas italianas até hoje: “Dio Come Ti Amo”, em 1966, defendida por ele e por Gigliola Cinquetti, que na época ainda não tinha feito 20 anos.
Não podemos esquecer que este festival apresentou Andrea Bocelli, hoje nome conhecido e famoso em qualquer cantinho do mundo. Eros Ramazzotti também começou em San Remo, assim como Laura Pusini, apenas para citar uma leva de cantores mais moderninhos...
Os eternos italianos eram freqüentadores de San Remo, como Iva Zanicchi, Ornella Vanoni, Bobby Solo, Sergio Endrigo, Pepino di Capri, Claudio Villa, Patty Pravo, Milva, Adriano Celentano, Tony Renys, Teddy Reno, marido de Rita Pavone há 40 anos, e Gino Paoli. Até mesmo Mina, idiscutivelmente um dos maiores nomes da música italiana, também se apresentou no festival, em 1960, com apenas 20 anos...
Como não podia deixar de ser, San Remo conheceu páginas dramáticas da sua história, quando em 1967, Luigi Tenco se matou com um tiro na cabeça, no quarto do hotel, para onde foi no final da segunda noite de apresentações.
Ele havia cantado com Dalida “Ciao, Amore, Ciao” e estava bastante confiante de uma boa classificação; terminada a noite e sua música tendo sido rejeitada pelos jurados, ele muito deprimido saiu do cassino sem nem ao menos falar com Dalida, sua namorada na época e foi para o hotel fazer o que fez.
Aqui no Brasil o Festival de San Remo não mobiliza mais o público como em décadas atrás, assim como os concursos de Miss Brasil também não. E nossos festivais, o que dizer? Por que não acontecem mais? Será preguiça, falta de criatividade, senso empreendedor, ou simplesmente a velha e já sem graça briga entre gravadoras e meios de comunicações? Continuo achando que com isto, quem perde somos nós, público, e o artista. Então tá...
Mas até alguns anos antes, os discos com as vencedoras do festival eram aguardados com ansiedade por todo mundo que gostava de música. E você encontrava em qualquer loja de discos Colecionava-se, trocava-se e aprendia-se as letras das canções. Com ou sem sotaque, todos nós cantávamos de Pino Donaggio, “Io Che Non Vivo Senza Te”...
Este festival, apesar da crise mundial de discos, dawnloads, pirataria e outras baixarias menores, resiste bravamente e já faz parte da cultura italiana.
E por osmose, da européia também...perché San Remo è San Remo !
[@] veja San Remo parte 1, clicando aqui [] !!
[@] de cima para baixo,quando não identificados: Mina, Carla Boni, Modugno+Nilla+Johnny Dorelli, Modugno, Modugno, Gigliola Cinquetti...e as flores de San Remo.
2 comentários:
Bem ...é uma viajem no tempo...
Se me lembro de 66, tinha eu 12 anos, o meu primeiro amor; Dio come ti amo, dançei pela primeira vez agarradinha a um rapaz, no baile da festa do hotel de São Pedro do Sul (termas), nas férias, ele tinha mais 5 anos e era filho de um amigo e sócio do meu Pai.
Não deu em casamento porque a minha Mãe não deixou!
Xi-coração, Ana
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