SEMPRE MÚSICA . . .

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

[] Bravo, Bocelli ! ! [1958]

A Toscana é uma das maiores regiões italianas, tanto em número de habitantes [3 milhões e 600 mil] quanto em extensão territorial [23.ooo km2].

Tem 320 km de costa, banhada pelo Mar Lígure ou Mar da Ligúria e o Mar Tirreno, administra as ilhas do Arquipélago Toscano, onde a mais importante e famosa por sua história, é a Ilha de Elba.

Região exuberante, de cores vivas, terra fértil, céu de um azul especial, infinitos tons de ocre nas terras preparadas para o plantio, que vão do enxofre ao chocolate amargo...

Seus vinhedos viçosos, em longas extensões, são coloridos com um sem número de tonalidades de verde... muito verde, muito azul e muito ocre.

Neste cenário, nasceu Andréa Bocelli em 22/09/58, e como quase todo bom italiano, numa família católica, na comuna de Lajalico, que fica na província de Pisa. Sim, a da torre inclinada.

Para entendermos melhor, é bom termos em mente que a Itália é dividida em regiões, que se dividem em províncias e estas em comunas. Assim fica mais fácil de entendermos a origem de coisas e pessoas.

Todos os domingos, Andrea ia à missa com sua avó numa igreja pertinho de sua casa, onde chegou a tocar órgão por algum tempo.

E como a maioria das crianças daquela época que gostavam de música, Andrea tinha como ídolos os tenores Mario Del Mônaco, Beniamino Gigli Franco Corelli.

Quando tinha 12 anos, venceu seu primeiro concurso musical, quando interpretou “’O Sole Mio” numa competição em Viareggio, ganhando assim o prêmio “Margherita d’Oro” .

Andrea era portador de glaucoma congênito, o que comprometia sua visão progressivamente, e nesta época, durante um jogo de futebol com os amigos do bairro, sofreu uma pancada séria na cabeça, teve uma hemorragia cerebral e perde totalmente a capacidade de enxergar.

E agora, o que fazer com todos os sonhos, todos os planos e uma vida inteirinha pela frente? Andrea teve o apoio e ajuda emocional da família, dos amigos e professores e após a constatação de que nada mais era possível fazer para reverter o irreversível, não se deixou abalar e resolveu que queria viver uma vida normal. Ou pelo menos, alguma coisa o mais parecido possível ... Escolheu não ser infeliz.

Continuou com seus estudos formais, ingressou na Universidade e obteve um doutorado em Direito, pela Universidade de Pisa e foi trabalhar por um bom período como advogado. O curso de Direito Andrea fez mais para tranqüilizar seus pais, que por motivos óbvios, ficavam apreensivos com seu futuro, mas ele, pessoalmente, não era tão apaixonado assim pela carreira.

Tanto não era, que continuou com suas aulas de canto, que pouco a pouco foram tomando seu tempo mais e mais até que estava envolvido com isto exclusivamente.

Em 1992, o pop star do rock italiano Zucchero Fornacciari
estava procurando um tenor para gravar com ele um dueto numa fita demo, que seria mostrada a Luciano Pavarotti, que já havia prometido gravar com Zucchero a música “Miserere”.

Quando Pavarotti ouviu a parte de Bocelli, insistiu com Zucchero, autor da música, que com Bocelli estava perfeito... A gravação acabou sendo com Zucchero e Pavarotti, mas a excursão européia, foi com Bocelli.

Em 1994, Bocelli vence o “Festival de San Remo”, na categoria “Novas Propostas”. O festival, que é uma tradicional disputa musical Italiana, acontece há várias décadas e mobiliza toda a Itália. Assisti esta vitória em casa pela TV. Ninguém me contou...

A música que ele defendeu foi “Il Mare Calmo Della Sera”,
e foi um sucesso absoluto, tanto de execução como de vendas, o que rendeu a ele vários prêmios, como disco de ouro, e de platina.

Ano seguinte, novamente participa do San Remo com uma música chamada “Con Te Partiró”, de autoria de Francesco Sartori e Lucio Quarantotto. Na época, fez um sucesso discreto. Belíssima música, interpretação impecável, mas só...

Mas em ’96 resolveu gravar uma versão metade em italiano e metade em inglês, com a soprano inglesa Sarah Brightman. Assim, “Com Te Partiró” virou “Time To Say Goodbye” e correu mundo.

O sucesso que veio a seguir surpreendeu a todos envolvidos com a produção deste single. Na França, ficou na parada de sucessos em primeiro lugar por várias semanas e a gravadora tendo que atender às pressas pedidos extras de todas as lojas de discos...

Na Alemanha, ficou em primeiro lugar durante 14 semanas consecutivas e vendeu mais de 3 milhões de cópias, tornando-se o single mais vendido em todos os tempos no país.

Foi literalmente um sucesso mundial. Aqui no Brasil pudemos ver durante um bom tempo a extensão deste sucesso, que virou repertório indispensável em qualquer programa de calouros, desfiles e uma infinidade de eventos. Música gravada no mundo por vários intérpretes, de diversos segmentos, teve até uma versão “dance-light”, pela ex-rainha “disco” Donna Summer, com o nome de “I will go with you”, que ficou até bastante interessante...

Em 1996 grava seu primeiro cd, “Romanza”, que ganha todos os prêmios que um disco pode ganhar.

Bocelli então, já é uma celebridade italiana
, se tornando aos poucos uma celebridade mundial. Em ’97 inicia uma série de turnês por Paris, Barcelona, Bologna e Vaticano, cantando para o Papa João Paulo II no Natal.


Pai de Amos, nascido em 1995 e de Matteo em 1997, tem 4 óperas completas gravadas: "La Bohème" de Puccini, "Il Trovatore" de Giuseppe Verdi, "Werther" de Jules Massenet e "Tosca", também de Puccini.

Continua gravando e conquista o território americano através de um concerto no “John F.Kennedy Center For The Performing Arts” e numa apresentação em grande estilo na Casa Branca.

A seguir, turnês pela América do Norte e América do Sul. Participa também da primeira ópera transmitida totalmente ao vivo pela Internet, evento que aconteceu no “Detroit Opera House”.

As turnês seguem-se em ritmo frenético, bem como suas participações em eventos esportivos, como os Jogos Olímpicos de Invernos de Turim, Itália, em 2006.

Bocelli está sempre envolvido com eventos de caridade, shows beneficentes e toda e qualquer manifestação artística que arrecade fundos para boas causas, como cantar no local dos destroços do World Trade Center em outubro de 2001.

Promove e participa de concertos em prol de Fundações de Pesquisas Científicas e Fundos de Ajuda Humanitária, como aconteceu na época da Tsunami.

Em 1999 publicou sua autobriografia com o título de “La Musica Del Silenzio”,
que ano seguinte recebeu uma versão em inglês com o nome de “Andrea Bocelli, The Autobiography”.

Com uma discografia de quase 20 cd’s e alguns dvd’s, o mais recente trabalho de Bocelli é “Amore”, com um repertório pra ninguém botar defeito:

Amapola // Besame Mucho // Les Feuilles Mortes // Mi Manchi // Somos Novios // Canzoni Stonate // Solamente Uma Vez // Jurame // Te Extraño // Momentos // L’Appuntamento [nosso “Sentado à Beira do Caminho”] // Quando Me enamoro // Estate // Can’t Help Falling in Love [conhecida mundialmente com Elvis Presley] // Because We Believe.

Ao contrário de algumas pessoas, acho muito bom que a chamada música erudita tenha se permitido uma popularizada de alguns anos para cá. Assim, tira um pouco aquele ranço de música elitista, para somente uns poucos escolhidos.

Graças a este ecumenismo, muitos de nós até nos referimos com mais naturalidade a termos como tenor, barítono e baixo.

Contralto não é mais um bicho papão, sopranos e mezzo-sopranos, a gente tira de letra, e a cultura geral sai ganhando.

Quando me informo de vidas como a de Bocelli
e de vários artistas como Ray Charles, Steve Wonder, Jose Feliciano, e tantos cantadores e violeiros anônimos das feiras do nordeste, não posso deixar de lembrar dos versos da música “Assum Preto” de autoria de Humberto Teixeira [+]

“Tudo em vorta é só beleza, sol de abril e a mata em frô...mas assum preto, cego dos óio, não vendo a luz, ai...canta de dor...

Tarvez por ignorança, ou mardade das pió, furaro os óio do assum preto pra ele assim, ai...cantá mió...

Assum
preto veve sorto, mas num pode avuar, mil vez a sina, ai....de uma gaiola, ai... desde que o céu, ai... pudesse oiá...

Assum preto, meu cantar é tão triste como o teu, também robaram o meu amor, ai... que era a luz ai... dos óio meu...”

[+] Humberto Teixeira [1915=1979], poeta, compositor, advogado e deputado federal, foi o presidente e fundador da Associação Brasileira de Música Popular, defensor abnegado dos direitos autorais, tendo viajado para o exterior representando o Brasil na defesa dos interesses de compositores musicais. É também o autor de clássicos da nossa música, como “Kalú”, “Asa Branca”, “Qui Nem Jiló”, “Juazeiro”. Também é pai da atriz de Tv e cinema Denise Dumont.

[@] Assista Bocelli clicando aqui [] !!



Um comentário:

Adriana disse...

Apaixonada por ele tenho varios cds e ainda os ouço quando viajo.
Uma das suas postagens de maior bom gosto,tanto no erudito como no popular,ele sempre dá um show de musicalidade.


Variando do Sax ao tamborim (na avenidada)este é um daqueles que sempre vai bem de ser apreciado.

Parabens!!