SEMPRE MÚSICA . . .

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

[] Duetos Funcionam ?

Desde a mais remota época do canto, que dividir um número musical com algum colega do ramo é praxe na indústria do espetáculo e, por extensão, do disco.

Se dermos uma voltinha no canto lírico e no semi-lírico, encontraremos uma variedade de exemplos, principalmente na cena operística onde os duetos são quase obrigatórios, pois são diálogos, são conversas que as personagens têm de manter, para a história ficar bem contada. Neste caso, não cabe muito questionamento. Ou gostamos ou não da forma, do conteúdo e do resultado, e fim, viramos a página. Ou trocamos de canal.

Mas se fizermos uma excursão no chamado canto popular, e olharmos com mais calma e com uma boa lente de aumento, a minha pergunta do título vai-se tornando mais pertinente, à medida que o tempo passa, e à medida que os lançamentos vão chegando aos pontos de venda. Reais e virtuais.

Tomemos com ponto de partida – apenas para exemplificar – aquele famoso show dos três tenores, Pavarotti, Carreras e Domingo nas Termas de Caracalla em Roma tempo atrás.

Claro que foi um sucesso indiscutível de vendas, pois foi um verdadeiro show, com três monstros do bel canto se rasgando para dar sua melhor performance. Isso ninguém duvida, como também não duvida da popularidade que essa forma de cantar atingiu, até – e muito – num segmento de público que nunca foi muito afeito a esta música mais empostada, mais sinfônica, mais teatral, ou seja lá que nome queiramos dar a este tipo de espetáculo.
Mas a partir daí as gravadoras e produtores musicais, cometeram verdadeiros absurdos no uso desta fórmula, que tanto pode revitalizar a carreira de alguém com um certo nome já na praça, como também pode obrigar o pobre infeliz a botar a viola no saco e ir cantar em outra freguesia. Ligeirinho.

Não basta colocar em estúdio um cantor em fim de carreira ou que esteja atravessando um período de estagnação criativa dividindo números musicais com coleguinhas convidados que na maioria das vezes, nada têm a ver com o titular do disco.

Exemplo? Frank Sinatra Duets, volumes I e II. Discos frios, que tiveram venda bem aquém do esperado, pois a julgar pelo nome Sinatra e o nome de convidados sempre “especiais”, esperava-se um rompimento de todas as expectativas. Qual o quê...

Muitas das faixas foram gravadas em cidades distantes uma da outra, sem os cantores ao menos estarem na presença um do outro... e é difícil fingir calor humano e as gracinhas de sempre para o ouvinte pensar que eles estão morrendo de satisfação em cantar juntos... a melhor e mais avançada técnica do mundo pode operar verdadeiros milagres, mas não cria emoção.

Obviamente é uma estratégia de mercado que se justificaria muito bem, e estaria desculpada de tudo se, por exemplo, uma gravadora quisesse lançar um artista do sul ou do leste junto ao público especificamente de norte e nordeste.

Aí sim, se justificaria fazer este artista ter como convidados, gente como Dominguinhos, Lenine, Elba Ramalho, Alceu Valença, Fagner ou algum outro discípulo de Patativa do Assaré, por uma simples questão de identificação do público alvo.

Mas fora casos específicos como este, acho duvidoso, e fico um pouco aflito quando vejo na capa de um cd aquela etiquetinha em papel ordinário colada na capa, chamando a atenção do comprador para os duetos do disco e para a relação de convidados...

Infelizmente, quase sempre distinguimos facilmente quem desta lista VIP está com a carreira no patamar de limbo; ou, quando o titular do disco já não está com essa bola toda e as gravadoras resolvem fazer tipo uma “ação entre amigos”, na tentativa quase sempre vã, de revitalizar a carreira dele... o que geralmente acontece é que um ou dois meses depois de lançado, este mesmo cd vai rapidinho para o balaio de oferta, pela metade do preço, o que, é claro, praticamente inviabiliza um próximo disco deste pobre artista.

Particularmente até gosto e acho curioso alguém cantar com colegas sucessos de um e de outro, mas é preciso ter alguns cuidados na escolha; não basta ter apenas boa voz, nem tocar bem seu instrumento, tem de haver um entrosamento muito mais subjetivo, tem de haver a tal química, que é uma coisa abstrata, e muitíssimo difícil e complicada de se administrar.

Ou seja, na minha opinião, os participantes de um disco assim, devem todos estar muito bem com suas carreiras, com seu público e com sua gravadora, pois assim teremos um disco pra cima, curioso, enriquecido com a celebração do talento de todos os envolvidos no projeto.




[ilustração// the dancer // fernando botero]

2 comentários:

Adriana disse...

No classico sim ,mas no popular duetos muitas das vezes nos enlouquecem!

Anônimo disse...

OLÁ 'ROBERTO'
Estou totalmente de acordo, aliás até num simples coro se nota essa afínidade ou partilha.
Está agendado para dia 6 de Março, no Campo Pequeno, aqui em Lisboa um espéctaculo intítulado 'Amigo é Casa' com Simone & Zélia Duncan, não conheço este dueto de todo?!...
Xi-coração e Beijos mil,
Ana