SEMPRE MÚSICA . . .

sexta-feira, 13 de junho de 2008

[] Carmen Costa [1920=2007] Da Feira para o Carnegie Hall

“Ai, ai, ai, ai... tá chegando a hora... o dia já vem raiando meu bem, eu tenho que ir embora...”

“Quem parte leva saudade de alguém que fica chorando de dor, por isso não quero lembrar quando partiu meu grande amor “...

Quase todo mundo conhece estes versos, ou pelos menos uma frase deles, pois há mais de 60 anos eles são cantados nas mais diversas ocasiões, desde encerramento de noitadas de carnaval, ou coisa parecida, acampamentos, “festas de fim de ano de firmas”, onde o “guaraná” corre solto, excursão de estudantes, e assim por diante...

Mesmo assim, muita gente não se deu conta de que o original dessa música é mexicano, de nome “Cielito Lindo” e foi composta em 1882 por Quirino Mendoza y Cortés [1859=1957] e desde então, tornou-se quase que um hino paralelo mexicano, e assim , tem identificado o México por todas as partes do mundo.

Mas a versão em português foi gravada em 1942 por esta senhora de cara bondosa aí do lado, que morreu em 2007 aos 87 anos, e foi batizada com o nome de Carmelita Madriaga, mas o destino quis que ficasse conhecida aqui no Brasil e fora daqui, com o nome mais comum de Carmen Costa.

Nasceu no interior do Rio de Janeiro, e começou muito cedo, ainda menina a trabalhar como doméstica na casa de uma família protestante. Daí vem seu gosto por hinos religiosos e o hábito de cantarolar enquanto executava suas
obrigações de casa.

Quando tinha 15 anos, em 1935 vai morar na capital, vai trabalhar na casa de Francisco Alves e durante uma festa que ele estava dando, ela é convidada pelo dono da casa a mostrar aos convidados como cantava direitinho...

Um desses convidados era Carmen Miranda, que ficou impressionada com a facilidade dela e incentivou-a a tentar uma carreira de cantora. Participa de vários programas de calouros, faz uma peregrinação por várias emissoras, como era de praxe na época, e acaba se inscrevendo no
programa de Ary Barroso, de onde sai vencedora.

Começa a carreira fazendo coro nas gravações para artistas já consagrados e em 1937 troca o nome de Carmelita Madriaga para Carmen Costa por sugestão do compositor Henricão [“eu tenho uma casinha lá marambaia”], que se tornou seu namorado e com quem começou a viver em 1938.

Formaram uma dupla e saiam cantando pelas feiras, nas cidades de interior. Em 1939 se apresentavam na famosa Praça XV, no Rio de Janeiro, ao lado de Carmen e Aurora Miranda, Alvarenga e Ranchinho e as Irmãs Pagã.

Formou dupla com Henricão até 1942, ano em que grava seu primeiro [e eterno] sucesso “Está Chegando a Hora”...

Logo depois, conhece um americano, Hans Von Koeller, com quem se casa e vai morar um bom tempo nos Estados Unidos, e em 1947 faz show no “Teatro Triboro” de Nova Iorque, viaja pela América do Sul fazendo shows e dá um pulinho até o Brasil em 1949 e grava clássicos do carnaval como
“Cachaça” [você pensa que cachaça é água?] e “Tem Nêgo Bebo Aí” [foi numa casca de banana que eu pisei, pisei, escorreguei....quase caí...] Nos anos ’40 e ’50 Carmen é considerada pela imprensa e pelos colegas uma embaixadora da música brasileira nos Estados Unidos.

Volta ao Brasil definitivamente nos anos ’50 e conhece o compositor Mirabeau Pinheiro, com quem vive um tórrido e adúltero romance durante 5 anos, e com quem teve sua única filha, Silésia.

Desta mesma época é o clássico samba canção de autoria de Ricardo Galeno “Eu sou a Outra” [ele é casado, eu sou a outra que o mundo difama, que a vida ingrata maltrata e sem dó, cobre de lama...]

Os anos ’50 e ’60, foram para Carmen cheios de atividade e em 1962 ela participa com o violonista Bola Sete do lendário concerto de Bossa Nova no Carnegie Hall em Nova York, ao lado de Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Carlos Lyra, João Gilberto, Stan Getz e outros...

Em 2003, aos 83 anos, Carmen foi “tombada” simbolicamente pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro, e pelo Museu da República, como parte do projeto do “tombamento” de pessoas com notório saber ou por bons serviços prestados à cultura.

Carmen também era compositora e para isso, usava o nome de Dom Madri. Morreu devido a problemas renais, aos 87 anos.

Seu corpo foi velado na Câmara dos Vereadores do Estado do Rio de Janeiro, com a presença de uma multidão de amigos e colegas que foram dar seu último adeus a mais uma de nossas Cantoras do Rádio...



2 comentários:

Otávio disse...

Muito bom Roberto! Sempre é bom lembrar que por aqui também tem, ou teve, gente muito boa.

Rui Caetano disse...

Boa homenagem.