Este é um outro bom exemplo do que escrevo aqui com uma certa freqüência. Sobre o fato de um número bastante expressivo de cantores e músicos serem completamente desconhecidos no Brasil.
Pelo menos, da grande maioria do público. É fácil constatar... pergunte a seus amigos quem conhece Helen Merrill. Provavelmente ouvirá como resposta : “Helen Quem ??”... Mesmo que seus amigos já tenham passado dos 20 anos, tenho a certeza de que praticamente ninguém ouviu falar nesta senhora de 78 anos, que canta desde os tempos de colégio, quando ainda não tinha feito 15 anos, e já cantava jazz em clubes e bares do Bronx, como o "845 CLUB", em Nova York, cidade onde nasceu em 1930.
Portanto, a carreira dela não iniciou exatamente ontem; são algumas décadas de estradas, de turnês, de discos e apresentações em países bem diferentes, de culturas e hábitos distintos mas tendo em comum o amor pela música, pelo som, pelo instrumento e pela voz humana.
Jelena Ana Milcetic, filha de pais imigrantes croatas, a partir dos 16 anos dedicou-se à música em tempo integral, e como ela diz em entrevistas, sempre soube desde pequena que seria cantora. Só não sabia exatamente quando nem como, mas que seria sim, uma cantora.
Gravou seu primeiro disco em 1952, e como foi muito bem recebido, logo foi acertada a gravação de mais dois “singles” e é contratada da “Mercury Records”.
Em 1954, grava um disco “HELEN MERRILL” que até hoje é considerado um clássico na sua discografia. Produzido e arranjado por Quince Jones e traz como destaque o músico Clifford Brown, trompetista, pouco antes de sua morte num acidente de carro.
O sucesso deste disco foi tamanho, que a “Mercury” logo se adiantou em contratar Helen para a gravação de mais quatro discos.
O final dos anos 50 e início dos 60 foram para Helen cheio de compromissos, de gravações e turnês pela Europa, onde desde cedo conquistou um público muito fiel, até os dias de hoje.
Além disso, seu sucesso comercial era maior na Europa que nos Estados Unidos. Helen passou um bom tempo na Itália fazendo gravações, concertos memoráveis com músicos como Stan Getz, Chet Baker e Romano Mussolini, [1927=2006] filho de Benito e que foi casado com Maria Sicolone, irmã de Sophia Loren, além de pai da senadora italiana Alessandra Mussolini.
Romano Mussolini, que era pianista de jazz e pintor, conheceu Helen quando ela se apresentava num festival de jazz na Bélgica. O convite para que ela fosse cantar na Itália foi imediatamente feito, e imediatamente aceito.
Em 1960 volta para os Estados Unidos, mas em 1967 vai para o Japão fazer uma turnê, e acaba ficando por lá. Helen tem no Japão um grande número de admiradores e lá acabou se envolvendo com a indústria do disco, como produtora, além de apresentar um programa musical de jazz numa emissora de rádio em Tóquio.
Em 1972 volta para os Estados Unidos e mantém uma carreira regular e estável, com turnês, gravações e concertos.
Seus discos sempre foram muito bem cuidados, tanto do ponto de vista técnico como artístico. Sempre se cercou de músicos e técnicos competentes, colaboradores de primeira linha, o que sempre resultou em excelentes trabalhos musicais.
Quando lhe perguntam que cantoras foram seus ídolos, Helen sempre responde que nunca teve um ídolo que fosse cantor, mas os instrumentistas, e como era apaixonada por sax, sempre foi fascinada por Ben Webster e Lester Young .
A única influência vocal que ela reconhece ter tido, foi a da sua mãe, cantando pela casa, as músicas de suas origens e suas raízes culturais. Helen sente-se lisongeada quando dizem reconhecer nela a vivacidade de uma June Christy e a flexibilidade vocal de uma Sarah Vaughan. Agradece a comparação mas elegantemente discorda...
Em 2000, Helen lançou um disco muito interessante a começar pelo título “JELENA ANA MILCETIC a.k.a. HELEN MERRILL”...
Neste disco, canta algumas canções croatas no idioma original. São canções tradicionais, folclóricas, além de blues e jazz. Pouco se sabe da vida pessoal de Helen, além do seu envolvimento com alguns excessos alcoólicos, três casamentos e um único filho, nascido em 1951, também cantor e músico, conhecido no mundo musical como Alan Merrill.
Hoje, ela confessa que se arrepende de ter mudado o sobrenome para “Merrill”, diz que foi uma criancice, mas naquele tempo era costume os cantores e artistas em geral fazerem isso...e “Merrill” ela escolheu para americanizar um pouco seu nome, e se inspirou no sobrenome do namorado de uma amiga da época...
É uma pena que seus discos sejam encontrados aqui no Brasil apenas através de edições importadas. Pena também que as emissoras de rádio, as boas FM’s, não toquem suas músicas [assim como as de centenas de outros cantores] e quando o fazem, dão um tratamento de “mistério” e de uma atmosfera de “exclusividade” que vira um pedantismo meio bobo. Bobo e desnecessário...
Quem sai perdendo somo nós, que gostamos de música e ficamos sem conhecer muita gente boa, como por exemplo, Helen Merrill.
Quer ver e ouvir Helen cantando ao vivo no Japão? Clique aqui []
Um comentário:
Realmente é uma pena não haver divulgação de todas estas maravilhas musicais.
E por falar em maravilha, belo o efeito de tapeçaria na foto inicial. Combina com a colorização da primeira foto do post anterior. Como diz a dona Nedda - é um artista.
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