SEMPRE MÚSICA . . .

terça-feira, 29 de julho de 2008

[] Roberta Flack [1937] Elegância & Classe

Quando criança, ela escapava de casa para ir até a Igreja Batista ali pertinho, para ouvir seus dois ídolos na época: Mahalia Jackson e Sam Cooke, que vieram a se tornar o exemplo de cantores gospel, e modelo de inspiração pra tanta gente, principalmente pela paixão emocionada como cantavam os hinos, as canções negras e folclóricas.

A mãe de Roberta era pianista nesta igreja em Black Mountain, Carolina do Norte, freqüentada quase que só por negros, como era costume na época.

Roberta nasceu em 1937, tímida, emotiva e reservada, e cedo começou a perseguir seu sonho, que era o de se tornar uma pianista clássica. Nem passava por sua cabeça ser cantora... seu negócio era o piano, nada mais.

Quando tinha 13 anos ganhou um concurso só para negros, executando uma complicada sonata de Scarlatti, e com isso, ganhou aos 15 anos uma bolsa completa para estudar piano clássico na “Howard University”.

Muito precoce, Roberta era assim, a aluna mais nova da universidade e logo era assistente das aulas de solfejo, arranjos vocais do coro da “Howard”. Terminou o curso aos 19 anos e seu trabalho na direção musical (instrumental e vocal) na montagem de “Aida”, lhe valeu um prêmio de destaque, pela excelência dos arranjos.

Formou-se em regência e inicia a pós-graduação, mas a morte súbita do pai, faz com que os planos sejam mudados. Volta para casa e para ter algum dinheiro, começa a ensinar inglês e dar aulas de canto. Vai se tornando conhecida e rapidinho estava como pianista acompanhando cantores de ópera.

Nos intervalos destas apresentações, Roberta canta na noite, acompanhando-se ao piano e tendo um repertório de jazz, soul e
música folk e rapidamente cai no agrado do público e em 1969, com um extenso repertório de mais de 600 músicas, grava seu primeiro disco, de nome “First Take”, que consegue um sucesso discreto, mas compensador.

Até que em 1972, o ator e diretor Clint Eastwood, utilizou uma música deste disco para colocar na trilha sonora de seu filme de estréia como diretor “Play Misty For Me”, que aqui no Brasil recebeu o nome de “Obsessão Macabra”. A música era “The First Time Ever I saw Your Face”...Esta música foi composta em 1957 pelo cantor folk Ewan MacColl em menos de uma hora, dedicada à mulher dele, Peggy.

Particularmente gosto muito deste filme, e já vi não sei quantas vezes; até hoje passa de vez em quando em algum madruga
dão por aí... além disso, tem a interpretação magnífica da atriz Jessica Waster. Poderia até dizer que este filme é o pai de “Atração Fatal”, com Glenn Close e Michael Douglas. Se alguém tiver oportunidade de assistir, vale a pena sim! Desde então, Clint virou fã número “1” de Roberta e são amigos até hoje.

Pois esta música “The first time...” deu a Roberta o Grammy em 1973 e logo corre o mundo, em versões cantadas e instrumentais.

Ano seguinte, Roberta recebe outro Grammy por “Killing me softly with his song”, composição que homenageia o cantor Don McLean, de “Vincent”, e “Castles in the air”, ambas muito executadas no Brasil até hoje.

Aqui no Brasil, no final da década de ’70, Roberta era muito conhecida por causa de “The closer I get to you”, linda melodia, que foi usada como trilha de um comercial dos cigarros “Luiz XV”, da Companhia de Cigarros Souza Cruz. Era um belíssimo comercial, de longa duração, belas paisagens, atmosfera de romance e mais todos os ingredientes de sedução. E como se não bastasse o apelo visual, ainda tínhamos a música de Roberta Flack.

Ainda ouvimos bastante “Where is the love”,que gravou com Donny Hathaway, que cometeu suicídio em 1979... “Feel like making love” e “Tonight I celebrate my love”, esta última em dueto com Peabo Bryson,
que as FM’s tocaram à exaustão e acabaram banalizando de tal forma a música, que hoje ela é tema de programas tipo “Correio Sentimental”...

""Carolyny, de Itaquera, oferece ao Éverton Tadeu, de Ferraz de Vasconcelos e diz: teus olhos são dois es
pelhos d’água""...

Dia 01 de agosto agora de 2008 Roberta inicia sua turnê brasileira, que começa por Fortaleza, depois Rio de Janeiro (06/08), São Paulo (07/08)
Porto Alegre (08/08), Curitiba (09/08) e finaliza com Belo Horizonte em 10/08.

O tempo passou e nestes quarenta anos de carreira, Roberta Flack deixou seu nome solidificado como uma intérprete sensível, competente, que toca e canta com
extrema elegância, com sua voz afinadíssima e seu piano classudo.

[@] veja Roberta clicando aqui [] !!



sábado, 26 de julho de 2008

[] Nostalgia Recente

Apesar do avanço da tecnologia e das facilidades que ela traz, de vez em quando eu sinto uma “nostalgiazinha” de uma ou outra coisa que já ficou num passado muito próximo.

A fita K-7 é uma delas... ou melhor, o que a gente fazia com elas era uma coisa muito prazerosa. Para mim, que desde cedo gostei do exercício de fazer seleção ou compilação, era muito gostoso preparar uma fita. Para os amigos ou para meu uso; em casa, no carro ou no trabalho.

Achava legal escolher um clima ou uma atmosfera para a fita e a seguir, selecionar as músicas uma
a uma, escolher a seqüência mais adequada, pois sempre achei que não é simplesmente gravar uma música depois da outra e pronto...não mesmo!

Então, ficava uma coisa assim “fita para dirigir na estrada”, “fita para dirigir no trânsito da cidade”, “fita para isto” e “fita para aquilo”... vários climas e várias atmosferas.

Lógico, uma música de verão não é a mesma coisa no inverno, e muito menos uma música para a noite não cai tão bem pela manhã durante o café... Ninguém me convence do contrário.

Muitas vezes, a que
vem em primeiro lugar, ficaria melhor se fosse a terceira ou a quarta música do lado “A”, por exemplo. Eu sempre tive este cuidado. Depois de pronta a fita, escutava com atenção os dois lados, e não raro, refazia alguma coisa, pois sempre achava que esta ou aquela música tinham quebrado o clima do que eu pretendia... E lá ia eu, ver uma nova seqüência musical.

E depois, se ficasse do gosto, passava a etapa seguinte, que era escrever cuidadosamente e no maior capricho os nomes das músicas, naquele espaço tão reduzido...

Claro que a fita K-7 tinha lá seus problemas, é lógico. Se não fosse de uma qualidade estupenda, sujava o cabeçote do equipamento, nos obrigando a limpá-lo com freqüência; por isso, era comum vermos ali, num cantinho da estante ou prateleira, alguns cotonetes e um vidrinho com álcool; de preferência isopropílico.

Quantas alegrias cabiam naquela caixinha mágica, quantos momentos, quantas emoções
se acomodavam ali dentro. Algumas tragédias eram inevitáveis, como por exemplo, a fita enroscar no toca-fitas, geralmente o do carro...

Aí, era aquela irritação, seguida de um desapontamento e de uma verdadeira intervenção cirúrgica, para desenroscar a fita, que claro, estava torcida, amassada em metros e metros de irritação.

Claro também que ela ia parar na lata do lixo, mas as alegrias e o prazer que eu sentia em gravá-las, compensavam em quantidade e qualidade.

Quando saia em férias, após decidido o destino, a preocupação era sempre que músicas levar, quantas fitas preparar... então, ver se ainda t
inha fita virgem em casa ou se era preciso comprar, e quantas. De ferro? De cromo? “Basf”, "Sony",“Mallory”,”Phillips” ou “TDK” ? ou quem sabe a “VAT” ? Dúvida cruel quase sempre.

Claro, eu sei, continuo fazendo quase tudo igual hoje em dia usando o CD no lugar da fita. Também sei que a qualidade sonora melhorou enormemente, é mais rápido e tal, continuo tendo o mesmo prazer de gravar para mim e para os amigos, mas no fundinho, no fundinho, sinto um pouco de nostalgia da ingenuidade da fita, e de poder decidir que o “lado b” seja mais alegrinho do que o “lado a”.




quinta-feira, 24 de julho de 2008

[] Vai-se uma Cantora do Rádio [1926=2008]

O Brasil perdeu nas primeiras horas de hoje, 24/07/2008 um personagem importante da sua história musical.
Zezé Gonzaga, mineira de nascimento, morreu aos 81 anos na cidade do Rio de Janeiro, de causas ainda não reveladas.
A cantora, a quem o “Musikal” já dedicou um post, estava internada no Hospital Adventista Silvestre.


Adeus, Zezé.

terça-feira, 22 de julho de 2008

[] Rosa Passos . . . "Romance". . .[1952]

O jornal “Los Angeles Times” disse a respeito de Rosa: “A sua voz lembra em muito a de Elis Regina, mas com o ritmo e a articulação de Ella Fitzgerald”.

Ela tem dois discos que foram lançados somente [até agora, pelo menos] no mercado internacional: “Me and My Heart”, de 2002 e “Entre Amigos”, de 2003, com o baixista americano Ron Carter, de 70 anos, já há décadas considerado e respeitado como uma autoridade neste instrumento.

Neste mês de julho de 2008, desde a primeira semana, Rosa Maria Faria Passos, baiana de Salvador está fazendo uma turnê por diversas cidades de Portugal, com ingresso ao preço de 20 euros, e de lá cumpre agenda em outros países.

Nascida em 13/04/52 numa família que adorava música, onde o pai obrigava todos os filhos a estudar um instrumento musical, seja lá qual fosse, mas tinham de estudar música.

Tanto é assim que começou muito pequena a estudar piano...e quando adolescente vivia cercada de discos de Dinah Washington, Etta James, Billie Holiday e Shirley Horn, que anos mais tarde viria a declarar sua admiração por Rosa...

Tudo ia correndo tranqüilamente, neste estado de coisas até que veio parar nas mãos dela o disco “Orfeu do Carnaval” de João Gilberto.

Aí, a vida de Rosa mudou; passava os dias inteiros ouvindo João Gilberto, abandonou o piano, pediu ao pai um violão, e decidiu que queria ser cantora.

Mais tarde a família se muda para Brasília, onde começa a cantar suas próprias composições e sob um pseudônimo, ganha um festival de estudantes universitários.

Dedicou-se com afinco ao violão, ingressou na Universidade de Música, tanto é que virou a exímia violonista que é, e seu primeiro disco acaba acontecendo em 1979 e tem o nome de “Recriação”.

Após este disco, Rosa se afasta alguns anos da carreira artística para se dedicar ao marido e aos filhos, e passada esta fase doméstica, Rosa retorna às atividades de shows e gravações, sempre tomando muito cuidado com a produção de seus discos, e não fazendo concessões a modismos ou imposições de gravadoras.

Como ela mesma diz em entrevistas, leva muitíssimo a sério a música em si, o seu trabalho de cantora, de violonista, respeita o trabalho dos músicos. Não é só cantar por cantar, nem gravar por gravar, e por ser coerente com seus princípios musicais e profissionais, passou um tempão sem lançar um disco.

Rosa debutou no mercado americano em 1996, a convite de outro músico brasileiro radicado por lá, o pianista Oscar Castro Neves , autor daquela maravilha de música “Onde Está Você”, magnificamente interpretada por Alaíde Costa...”hoje a noite não tem luar, e eu não sei onde te encontrar, pra dizer como é o amor, que eu tenho pra te dar...”

Apresentou-se no show “Jazz at the Bowl”, no Hollywood Bowl, em Los Angeles e três anos mais tarde, levaria uma multidão surpreendente ao “Lincoln Center” de Nova York para o show “Tribute to Elis Regina”.

Já esteve 5 vezes no Japão, a primeira em 1996, com o saxofonista Sadao Watanabe, e de lá, cumpriu uma extensa agenda de shows pela Espanha, Alemanha, Suíça, Dinamarca, Noruega e Suécia.

Isto sem falar nos países mais próximos como Uruguai, Colômbia e Cuba, onde fez uma séria de apresentações em Havana com o ídolo cubano Chucho Valdez.

Em ’99 foi convidada
para se apresentar durante as comemorações dos 50 anos da democracia alemã, com shows em Bonn e Colônia, onde sob muitos aplausos, apresentou composições próprias e clássicos eternos da música brasileira.

Ainda em 99 vai até a Suíça para participar do “Festival de Jazz” de Berna.

O jornal espanhol “El País” disse de Rosa: “Ninguém toca e canta Bossa Nova como Rosa Passos, desde João Gilberto”

O conceituado e respeitado site americano de música “All About Jazz” escreveu: Rosa Passos conseguiu o que muitos artistas vêm tentando – sem êxito – desde os tempos de Astrud Gilberto: Rosa conseguiu tornar a Bossa Nova sexy novamente... sua voz que é ao mesmo tempo exótica e extremamente familiar, carinhosa e quente, é simplesmente magnífica... Suas interpretações de jóias da Bossa Nova são sublimes... Ela tem a capacidade de transformar clássicos pra lá de conhecidos, em músicas completamente novas...”

Mundialmente conhecido e reverenciado, o músico violoncelista Yo-Yo Ma, nascido em Paris em 1955, filho de pais artistas chineses lembra muito bem da primeira vez que ouviu Rosa Passos e escreveu uma carta para ela dizendo que tinha ficado apaixonado pela voz dela, além disso ele tinha a sensação de que ela estava cantando só para ele...

Lançado no mercado americano em maio de 2008, no Lincoln Center em Nova York e tendo na platéia Winton Marsalis e Ron Carter, chegou às lojas brasileiras o mais recente cd de Rosa, com o nome simples de “Romance”, disco este gravado por convite da gravadora americana TELARC, distribuído pela “Universal” e produzido pela própria Rosa Passos:

01= Doce Presença (Ivan Lins)
02= Nem Eu (Dorival Caymmi)
03= Eu sei que Vou te Amar (Tom+Vinicius)
04= Álibi (Djavan)
05= Preciso Aprender a ser Só (Marcos Valle+Paulo Sérgio Valle)
06= Atrás da Porta (Francis Hime+Chico Buarque)
07= Tatuagem (Chico Buarque+Rui Guerra)
08= Por Causa de Você (Tom+Dolores Duran)
09= Altos e Baixos (Suely Costa+Aldir Blanc)
10= Cadê Você (João Donato+Chico Buarque)
11=Neste Mesmo Lugar (Armando Cavalcanti+Klécius Caldas)
12= Nossos Momentos (Luis Reis+Haroldo Barbosa)

É um disco elegante, classudo mesmo, e chama a atenção o fato de os músicos não só acompanharem a artista com aquela base musical de sempre...não, generosa que é, Rosa dá espaço para que seus amigos & músicos brilhem tanto quanto ela, e assim temos introduções instrumentais um pouco mais longas que o habitual e belíssimos solos.

Depois de “Amorosa”, um excelente disco, onde ela tem como convidado Monsieur Henri Sanvador cantando com ela “Que rete-t-il de nos amours”, e do intimista (só voz e violão) “Rosa”, temos este “Romance”, que é para deixar tocar e tocar...

Profissionalismo, emoção e sensibilidade, deixaram estas 12 músicas, conhecidíssimas, com cara de “brand new songs”...

Recentemente, Rosa Passos recebeu “Doutoramento Honoris Causa” pela Universidade de Berkeley, fundada em 1868 na Califórnia, e uma das mais tradicionais e conceituadas universidades americanas.

[ É pouco ?? ]

[ a sexta
ilustração de cima para baixo é o cartaz da turnê portuguesa de Rosa. ]


sexta-feira, 18 de julho de 2008

[] Good bye Jo...[1917=2008]

Acabo de ler no “Time Magazine” a notícia da morte de Jo Stafford, nesta quarta-feira 16/07/2008, em conseqüência de uma insuficiência cardíaca. “Musikal” já postou duas matérias dedicadas a ela... Jo estava com 90 anos e deixa uma filha, um filho, quatro netos e mais de 25 milhões de discos vendidos, com suas belas interpretações de baladas românticas, músicas folclóricas e clássicos do "songbook" americano.

[+] de Jo Stafford aqui []! e aqui []!

[@] não deixe de ver Jo Stafford e Rosemary Clooney em “Autumn Songs”, clicando aqui []!

[] Aracy, A Dama da Central . . . [1914=1988]

É quase impossível imaginarmos uma Aracy de Almeida muito bem sentada numa casa de subúrbio ampla e tranqüila, ouvindo Mozart, Beethoven e se deliciando com cantores de Jazz e Canto Gregoriano.

Uma casa cheia de plantas e folhagens, e na sala, uma infinidade de quadros, gravuras e desenhos, com assinaturas bem conhecidas como Aldemir Martins, Di Cavalcanti e Cândido Portinari, que eram seus amigos de freqüentar a casa , com direito a cachaça, bolinhos de bacalhau e outras comilanças.

Na verdade, ela não era esse “bicho-papão” que a gente ficou conhecendo como jurada rabugenta que a mídia ajudou a perpetuar. Era uma amiga generosa, desapegada de bens materiais, carinhosa e com um temperamento muito franco e prático...

Era fã de carteirinha do Velho Testamento, sabia recitar versículos inteiros, comparando-os às cantatas de Bach.

Além disso, se interessava por psicanálise e dissertava com a maior desenvoltura sobre a obra de Freud e Lacan, sem falar que era uma profunda conhecedora da nossa farmacopéia. Mil faces tinha Aracy...


Uma adolescente carioca, chamada Hermogênea, de apenas 15 anos, se casa com um homem já entrado nos 30, Seu Baltazar que era chefe de trens na Central do Brasil.

Daí, nascem vários filhos, todos homens, com exceção de uma menina, para desgosto dos pais, que achavam que filha mulher dava muito trabalho para criar.

Araci Teles de Almeida, nasceu em 19/08/14 e sempre detestou o nome. Queria ser Maria, pois achava mais simples e mais bonito... foi por isso que mais tarde, quando já era dona do seu nariz, escrevia e assinava seu nome com “y”, que segundo ela, era “mais bacana”. Aí virou Aracy para sempre...

Nasceu no subúrbio carioca de Encantado, numa casa muito simples, de quarto e sala, onde todos dormiam em esteiras cuidadosamente arrumadas no chão.

Desde cedo Aracy deu trabalho, pois foi criada como menino, era briguenta, não levava desaforo pra casa, arrumava confusão na rua, foi expulsa de um colégio, e enfrentava no soco algum engraçadinho que atravessasse seu caminho.

Freqüentou o colégio até o segundo ano ginasial e foi colega do futuro radialista Alziro Zarur. Sim, ele mesmo, aquele que mais tarde ficaria famoso pela distribuição itinerante de sopa aos pobres pelas ruas do Rio de Janeiro.

Aracy desde cedo queria era sair de casa, ser independente, fazer o que queria...achava aquela vidinha caseira muito chata e logo fez um curso para aprender a confeccionar flores de papel e tecido engomado para ter algum dinheiro e assim, bancar suas saídas.

Cantava hinos religiosos na Igreja Batista, e escondida dos pais, também cantava em terreiros de macumba, quando não estava tocando cuíca num bloco carnavalesco.

Conhece o compositor Custódio Mesquita para quem canta “Bom Dia, Meu Amor” e através dele, ingressa na Rádio Educadora, que depois virou Rádio Tamoio. Estamos em 1933.

Nesta emissora, conhece o jovem Noel Rosa, e de cara, aceita o convite dele para tomar algumas cervejas na Taberna da Glória. A partir deste dia, ficaram amigos para sempre, com “cervejada” todas as noites.
E todas as madrugadas...

Foi realmente um encontro de grandes afinidades pois segundo ele, Aracy era quem mais captava a intenção dele ao compor uma música e por isso, acabou virando uma espécie de “musa inspiradora” apesar de muitos afirmarem que eles tiveram um romance.

Nada disso, eram muito amigos e companheiros de boemia, de bebedeiras, muitos cigarros, pandeiro, violão e peixe frito nos botequins do Rio de Janeiro, madrugada a dentro...

Em 1934 Aracy grava seu primeiro disco, que foi pela “Columbia”, com uma marchinha para o carnaval, chamada “Em Plena Folia”.

No ano seguinte Aracy começa a gravar e interpretar composições de Noel, iniciando-se uma parceria de toda a vida, com muita serenata, muitos clubes, tabernas, programas de rádio e barracões de escolas de samba.

Entre 1948 e 1952, ela vai trabalhar na boate carioca “VOGUE”, sempre privilegiando as composições de seu amigo inseparável e no ano de ’50, grava algumas músicas dele que ficaram para sempre na memória de quase todos nós:

“Conversa de Botequim”, “Feitiço da Vila”, “Com que Roupa”, “Palpite Infeliz”, “Último Desejo”, “Três Apitos” e “O Orvalho Vem Caindo”.

Em 1950 Aracy muda-se para São Paulo, onde mora durante doze anos, indo ao Rio esporadicamente para algum show, como o que fez na boate “ZUM ZUM”, ao lado de Sérgio Porto e Billy Blanco.

Em 1965, já de volta morando no Rio, faz alguns shows como “Conversa de Botequim”, dirigido pela dupla Miéli & Bôscoli, além se uma série de apresentações na boate “LE CLUB” .

Aracy era uma pessoa extremamente disciplinada e profissional. Chegava sempre com 1 hora de antecedência a seus compromissos musicais e verificava o microfone, a luz, a mesa de som e dava enormes broncas nos músicos que chegavam em cima da hora ou, pior, atrasados.

Como boa carioca, tinha lá suas manhas, além de ser uma cantora inteligente. Adaptava seu repertório de acordo com o seu tipo de público... ou seja, mudava o compasso.

Se estivesse cantando na Lapa, os sambas eram mais ritmados, mas se fosse em Copacabana, numa boate de gente mais endinheirada, ela cantava a mesma música da Lapa, de uma maneira mais pro lado do bolero, mais lento e mais dolente, com um andamento mais envolvente.

Mas tudo isso sem perder suas características marcantes de intérprete que a tornaram uma artista singular.

Participou como jurada em diversos programas de TV, entre eles o “Programa do Bolinha”, “A Buzina do Chacrinha” e o “Programa Silvio Santos”, onde invariavelmente dava nota baixa aos candidatos e até tirava partido da fama de mal humorada e grosseira que a televisão mais o seu jeito sem papas na língua ajudaram a construir.

Segundo seus amigos e pessoas que conviveram com ela, Aracy na verdade era uma mulher brincalhona e amiga sincera.

Quando morava em São Paulo, sua casa era um hotel de onde quase nunca saia, a não ser para visitar alguns amigos judeus, pois freqüentava a comunidade judaica e estava interessada nos preceitos sociais e religiosos deste povo.

No Rio de Janeiro, pagava sanduíches e bebidas para as prostitutas da Central do Brasil, cumprimentava a todas, falava com os mendigos e com os moleques que circulavam pelas imediações.

Aracy era adorada por marginais de diversas margens...

Grande amiga do poeta, compositor, escritor e jornalista Antônio Maria [1921-1964], foi ele quem ensinou para Aracy os princípios do Existencialismo. Aracy cuidou dele durante sua doença até a morte em 1964.

Desapegada de bens materiais, não ligava muito para dinheiro, que usava solto dentro da bolsa pois não usava carteira. Certa vez Silvio Caldas precisava de dinheiro; Aracy deu pra ele então um quadro de Di Cavalcanti para que fosse vendido.

Sua casa sempre tinha lugar para os amigos ou para algum colega sem trabalho e sem dinheiro. Ela sempre dava um jeito... Cansou de viajar e desgostosa com as rumos que na época a indústria do disco estava tomando, gravou seu último disco em 1965.

Em 1988 teve um edema pulmonar e ficou hospitalizada, com o suporte financeiro de seu amigo Silvio Santos que a adorava. Foi transferida para ser internada no Rio de Janeiro, Silvio ligava religiosamente todos os dias às 18 horas para saber como ela estava.

Passou 2 meses em coma, teve apenas 2 dias de lucidez, mas sua pressão teve um aumento muito severo e em 20 de junho de 1988, Aracy de Almeida, com “y”, que ela achava “mais bacana”, estava morta.

Seu corpo foi velado no Teatro João Caetano tendo recebido a visitação de várias gerações de amigos e admiradores.

Um carro do corpo de bombeiros fez uma turnê pela cidade do Rio de Janeiro, com o caixão de Aracy, passando por todos os lugares mais freqüentados por ela: Glória, Lapa, Copacabana, Vila Isabel, Méier e Encantado.

Este último, lugar onde nasceu e foi criada, e mais tarde já adulta e famosa, comprou uma casa por lá, ganhando o título de “A Dama do Encantado”, para rivalizar com outro título consagrado, que já possuía bem antes, “A Dama da Central”.

Negra, Judia e Existencialista, podemos considerar Aracy como a mais perfeita tradução do Anarquismo...


[@] Veja Aracy em trecho de entrevista clicando aqui!! []




terça-feira, 15 de julho de 2008

[] Petula Clark, A Mascote da RAF . . . [1932]

Na metade dos anos ’60, o mundo inteiro, literalmente, foi tomado por uma música, vinda do Reino Unido. A música era “Downtown” e quem cantava, era uma ilustre desconhecida até então, de nome PETULA CLARK. Desconhecida para nós, diga-se.

Quem seria aquela inglesinha loira, cabelos curtos, olhos claros e expressivos e dona de uma voz cristalinamente afinada?

Petula Sally Olwen Clark nasceu em Epson, Inglaterra, em 15 de novembro de 1932, filha de pai inglês e mãe do País de Gales. Seu nome “Petula” foi dado por seu pai que resolveu homenagear duas de suas antigas namoradas, chamadas PET e ULLA.

Sua mãe era soprano e seu pai, um ator de teatro frustrado, o que já dá para ver o nível de incentivo e cobrança que caiu sobre os ombros de Petula desde muito, muito cedo.

O primeiro trabalho dela, foi
já muito criança , quando cantava no hall de entrada de uma loja de departamento de Londres, a “Bentalls Department Stores” acompanhada por uma pequena orquestra, recepcionando assim os clientes que chegavam.

Com apenas sete anos de idade, já cantava no rádio, e logo logo tinha o seu próprio show radiofônico, o “Pet’s Parlour”, que era um programa que tinha o objetivo de elevar o moral das tropas britânicas durante a Segunda Guerra Mundial.

Deste programa também participava seu pai, que junto com ela, lia cartas e mensagens positivas aos britânicos distantes de sua terra. A tônica do programa era de canções otimistas e músicas patrióticas, que ressaltavam sempre a bravura e as qualidades morais dos ingleses.

Durante esta época, Petula teve como colega outra futura estrela internacional, JULIE ANDREWS, que tinha as mesmas funções artísticas e patrióticas de Petula.

Desde cedo também atriz de teatro, Petula foi descoberta para o cinema enquanto estava atuando no palco e estreiou em 1944 no filme “A Medal for the General”.

Logo era chamada de a “Shirley Temple Inglesa”, numa referência a outra garota-prodígio americana, nascida em 1928, que era a namoradinha oficial de toda a América, cantando, atuando e sapateando, foi uma estrela dos anos ’30, ’40 e ’50, antes de ficar adulta, ter um câncer de mama, se envolver com política, virar embaixadora e ir parar na ONU.

Mal começavam os anos ’50, e Petula Clark, que também era considerada a “Mascote da RAF” (Real Air Force) já era uma superstar no Reino Unido e com mais de uma dúzia de filmes por fazer.

Começou a gravar discos em 1949 e rapidinho colocou algumas músicas na parada inglesa de sucessos, tornando-se muito popular e imitada nesta época pelo corte de cabelo e estilo de se vestir.

Curiosamente, após esta fase de transição de adolescente para a fase adulta, Petula caiu no gosto do público francês, tanto é que em 1958, foi convidada a se apresentar no OLYMPIA, e após o espetáculo, foi apresentada a Claude Wolff, da gravadora “Vogue”, uma das mais importantes da época, para discutir as possibilidades e termos de um vantajoso contrato com o selo francês.

Combinados os termos e postos no papel, Petula iniciou uma longa turnê por toda a França e Bélgica, acompanhado de Sacha Distel, galã e cantor, ídolo de dez entre dez garotas francesas, além de namoradinho de uma jovem Brigitte Bardot.

Petula e Sacha Distel fizeram uma grande amizade que durou até a morte dele em 2004.

As gravações dela de “Charriot” e “Monsieur” tanto em inglês como em francês, tomaram conta da França e tornaram Petula tão popular como Sylvie Vartan e Françoise Hardy, que eram sem sombra de dúvidas, as cantoras jovens francesas de maior sucesso nas décadas de ’60 e ’70.

Além disso, Petula casou-se com Claude Wolff em ’61
numa cerimônia civil em Paris e no religioso na Inglaterra, e para fugir um pouco da interferência paterna em sua carreira artística, pois estava já passando dos limites, Petula e Claude voltam para viver em Paris e logo tiveram Barbara Michelle, nascida em 1961 e Katharine Natalie, em 1962.

Petula teve ainda um filho, Patrick, anos mais tarde, em 1972.

Enquanto levava adiante sua vida e sua carreira na França
, continuava a fazer sucesso no Reino Unido, um atrás do outro. Em 1963 e 1964 a carreira inglesa de Petula está sedimentada, é um nome respeitado e fez com que Tony Hatch, músico e arranjador, pegasse um avião e voasse até Paris para mostrar algumas
sugestões musicais para ela, que não ficou muito entusiasmada com o que ouviu.

Então, Tony, que era divulgador e distribuidor dos discos dela no Reino Unido tocou alguns acordes de uma melodia que estava compondo, inspirada numa viagem que acabar de fazer até Nova York, e ficara impressionado com as luzes de néon dos luminosos de bares, cafés e de toda a cidade efervescendo.

Petula ouviu, gostou da melodia e disse que se ele escrevesse uma letra tão boa quanto a melodia que ela acabara de ouvir, ela prometia gravar esta música no seu próximo single ’45 rpm...

E assim, neste clima de coisas, nascia “DOWNTOWN”, música que pegou a ambos de surpresa, pelo tamanho do sucesso que fez no mundo inteiro. Foi um estouro – literalmente – mundial, que abriu as portas do mercado americano para Petula, que inaugura a marca de primeira e até agora única cantora inglesa a colocar uma música na parada de sucessos das “Dez Mais Americanas”, a famosa e respeitada parada “Top Ten”...

Além disso chegou a primeiro lugar de vendagem em países como
Holanda, Canadá, Alemanha, Austrália, Rodésia, Japão e Itália...

Nos anos seguintes a sucessão de hits no mercado americano continuou com as músicas “I know a Place”, “I couldn’l live without you” e My Love”, enquanto ela estava encantando a Europa inteira com “This is My Song”, bela música composta por Charles Chaplin e tema do filme “A Condessa de Hong Kong”, estreladíssimo por Sophia Loren.

Petula teve seu próprio programa de rádio na BBC de Londres e em 1968 participa de um especial para a tv NBC, onde tinha como convidado o ator e cantor jamaicano Harry Belafonte, que fazia enorme sucesso nos Estado Unidos onde vivia, tanto nos discos como nos filmes.

As gravações deste especial criaram uma bela saia-justa, pois os patrocinadores do programa queriam que fossem cortadas algumas cenas que eles julgavam inadequadas já que na opinião deles, não ficava bem ele, um negro, cantar encostando nela que era branca. Branca e loira....

E olha que já estamos no final dos anos sessenta...

O especial só foi transmitido na íntegra, sem os cortes pretendidos, porque Petula armou uma pequena-grande confusão .

No final dos anos ’60, ela era um nome de enorme prestígio e sucesso comercial, tanto na Europa como nos Estados Unidos e as músicas “Don’t Sleep in the Subway” e “Kiss me Goodbye” eram executadas em diversas partes do mundo, nos mais variados idiomas e nas mais diversas interpretações instrumentais.

Em 1968 reiniciou sua carreira de atriz estrelando “Goodbye, Mr.Chips” ao lado de Peter O’Toole e “Finian’s Rainbow”, e paralelamente a isto, Petula se dedica a longas turnês internacionais, o que ela desempenha com a maior tranqüilidade e profissionalismo, sem esquecer as gravações de discos, apresentações em rádio e televisão.

São algumas décadas de incessante labuta, de muitas estradas, muitos aeroportos, teatros, cassinos, estúdios.

Em 2000 apresenta um show musical escrito por ela, que é como uma retrospectiva de toda a sua vida artística, e fica um tempão em cartaz em Montreal, no Canadá.

Em 2003, faz um concerto no “OLYMPIA” de Paris, de onde saem um excelente DVD e um CD.

Em 2004, mais uma turnê pela Austrália e Nova Zelândia e dois anos mais tarde, em 2006, Petula é tema de um documentário da BBC de Londres.

Em 2007, lança “Duets”, compilação de alguns dos muitos duetos que fez com nomes como Dusty Springfield, Peggy Lee, Dean Martin e Bobby Darin...[todos já mortos].

No verão deste ano de 2008, uma grande turnê pela Suíça e Filipinas, enquanto “Then and Now”, seleção se seus maiores sucessos mais algumas novas composições suas [sim....ela também é compositora] gravados em Genebra, [Suíça] já entrou na parada de sucessos do Reino Unido, como um dos mais vendidos.

É bom ficar o registro que em 1998 Petula Sally Olwen Clark recebe da Rainha Elizabeth II a honraria de “Comandante da Ordem do Império Britânico”.

Nada mal, para quem já está nos palcos do mundo quase há setenta anos.

[@] assista Petula em “Downtown” versão 1965 clicando aqui !! []

[@] assista Petula em “Downtown” versão 2007 clicando aqui !! []

[@] assista Petula em “This is My Song” 1967 clicando aqui !! []